Possíveis
determinantes para os preconceitos
contra o Behaviorismo
Weber, L. N. D. (2002). Conceitos e
pré-conceitos sobre o
behaviorismo.Revista
PsicologiaArgumento.
Parece, pois, que
pelo menos três grandes fatores contribuem para a famosa
“rejeição” ao
pensamento behaviorista, merecendo investigação mais acurada:
1) A matriz de pensamento da grande maioria dos alunos que
cursam Psicologia.
VAUGHAN (1977)
realizou uma pesquisa sobre preconceitos sobre Psicologia
entre alunos de
cursos introdutórios e concluiu que o curso de Psicologia tem pouca influência
sobre suas crenças errôneas, pois alguns preconceitos são mantidos apesar de
evidências contrárias durante o curso! VAUGHAN (op. cit.)
afirma que talvez
devêssemos nos resignar ao fato de que somente uma disciplina em Psicologia não
é capaz de afetar as enraizadas concepções acerca da natureza humana. É
evidente que o Behaviorismo radical propõe uma mudança de paradigma, tarefa das
mais complexas.
2) A maneira como o sistema é enfocado nos cursos de graduação,
especialmente por professores não behavioristas (que tendem a ser maioria nos
cursos).
Alunos que
estudaram o sistema behaviorista na disciplina “Teoria e Sistemas em Psicologia”
com um professor de outra abordagem, apresentaram as seguintes respostas à
questão “o que é Behaviorismo e Análise do Comportamento”, em seu primeiro dia
de aula da disciplina “Análise Experimental do Comportamento”:
“O
Behaviorismo é uma escola que acha que
todo mundo pode ser condicionado o tempo
todo”; “Tudo se resume em comportamentos que são respostas a estímulos recebidos”; “Skinner usa a teoria do arco reflexo para
explicar o comportamento humano”; “O behaviorismo tenta a modificação de
comportamento inadequados através de condicionamentos”; “O behaviorismo baseia-se
no comportamento apresentado, em seus sintomas, sem dar maior importância às
causas deste comportamento”; “No behaviorismo “visa modificar o comportamento
através do condicionamento”; “Não leva em conta os aspectos subjetivos ou de
introspecção”; “No behaviorismo não há enfoque no indivíduo e suas
contingências individuais: procura-se constatar regras gerais para o grupo social e/ou
sociedade humana como um todo”; “Para o behaviorismo, o sujeito é apenas um
corpo que se comporta, sem subjetivismos que expliquem tal comportamento";
“O principal esquema conceitual do behaviorismo é o S-R”; “Behaviorismo está
ligado com Pavlov e seus cães, é reducionista e não leva em conta a
grandeza do ser humano”; “Behaviorismo é a teoria do estímulo e resposta”; “O
Behaviorismo acha que a mente e a liberdade não existem e reduz o ser humano a
mero receptor de estímulos – não gosto!”; “O Behaviorismo começou com o
positivismo e Watson é seu maior representante”; “O Behaviorismo de Skinner é
muito limitado porque não lida com o mais belo do ser humano: o seu interior”; ”O
behaviorismo é uma escola que considera o ser humano como um robô ou autômato,
ou seja, tudo o que um homem ou um animal faz é o resultado de uma série de
condicionamentos pelos quais passam durante a vida”; “Análise do comportamento
mostra como os ratos podem ser condicionados”; “Análise do comportamento mostra
que ratos e homens têm os mesmos comportamentos e é muito reducionista”; “Análise
do comportamento, não estou lembrando o que é, mas tem a ver com os ratos no laboratório”.
Algumas
das afirmações são realmente “de doer”
e
com essas percepções qualquer um gostaria de
ficar longe do behaviorismo... STARLING (2000, p. 7)
afirma, com sabedoria, que “quando consideramos a captação e formação
de jovens profissionais, além das variáveis históricas, culturais, políticas e
econômicas, sobre as quais pouco podemos fazer de imediato, parece-me de extrema
relevância atentarmos às variáveis nas quais podemos atuar: as contingências
que proporcionamos ao apresentar o behaviorismo para os nossos jovens,
potencialmente interessados”. LAMAL (1995) afirma que os preconceitos não
estão limitados ao estudante, mas são encontrados também em livros didáticos
e entre professores universitários.
3) A divulgação do Behaviorismo e da Análise do Comportamento
em textos da mídia e livros didáticos.
No livro didático
de BOCK, FURTADO & TEIXEIRA (1999), “Psicologias: uma
introdução ao estudo de Psicologias”, após o capítulo referente ao
Behaviorismo, os autores recomendam que os alunos vejam o filme “Laranja Mecânica”
de Stanley Kubrick porque “permite uma discussão dos limites do Estado
no controle da conduta dos cidadãos”. Como já disse o próprio SKINNER, “Não
tenho nada a ver com a terapia aversiva, mas quando estive na Inglaterra (...) vi
que estavam me responsabilizando pelo filme Laranja Mecânica” (apud GOMIDE &
WEBER, 1999). No Jornal Folha de São Paulo de 30 de abril de 2000, foi publicada
a matéria "Principais correntes da psicologia no século 20" e o autor afirma
que:
"O Behaviorismo tem como base a
psicologia do comportamento, como base de um processo de estímulo e resposta.
Seu maior teórico foi Burrus F. Skinner (1904-1990), segundo o qual todo
comportamento humano seria compreensível a partir da sua medida, por exemplo,
quantas vezes se faz isso nessa situação; é uma tentativa de tabular dados,
prever e controlar o comportamentohumano pela análise estatística e por
fatores que serviriam de reforços positivos ou negativos."
Desde o primeiro
nome de Skinner grafado incorretamente (o correto é Burrhus), passando pelo
estímulo e resposta (a noção básica é a seleção pela conseqüência) e chegando
na questão da estatística (o correto e a metodologia de análise funcional do
comportamento que nos permite compreender de quais variáveis o comportamento é
função), entre outros pontos, o texto publicado neste jornal desinforma o
leitor.
4) O próprio sistema behaviorista que trouxe mais uma
frustração ao ser humano: o princípio de que o homem não é dono de si mesmo,
mas fruto das contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais.
Então não seria “natural”
que o pensamento behaviorista fosse
pouco aceito pelos alunos de Psicologia? Devido à sua
própria epistemologia, esta abordagem não seria mesmo para as “minorias”, para
alguns “esclarecidos”, para aqueles que conseguem superar certos conceitos históricos?
Estaria o Behaviorismo ainda além do nosso tempo? Ainda não houve uma
revolução copernicana na Psicologia. Será que haverá? “O que, então, deveremos
fazer com o fato de que por cem anos, os psicólogos tentaram construir justamente
tal ciência da mente?”, escreveu SKINNER (1990) em um artigo completado
na noite antes de ele morrer 3. SILVA (1987, p. 2) confirma a nossa dificuldade
em compreender as idéias do Behaviorismo Radical: “Skinner afrontou a
nossa ideologia da liberdade com a mesma força, senão maior, com que Freud confrontou
a visão de sexo no século XIX e essa afronta é insuportável. (...) O determinismo
que, em outros autores, fica implícito ou escamoteado, é exposto de forma
cruel aos nossos ouvidos habituados ao som altivo e afetivo da palavra liberdade”. Se
realmente assim o fosse, não precisaríamos ficar tão preocupados: nós, os
analistas do comportamento, somos os escolhidos! Mas, devemos pensar que existem
aqueles alunos que vêm ao curso com outros repertórios e conseguem mudar,
assimilando o pensamento behaviorista; outros alunos estão abertos à aprendizagem,
mostram valorações positivas em relação ao Behaviorismo mas
optam por outra
abordagem ao final do curso. Outras variáveis, portanto, devem estar em ação,
tais como a metodologia, a maneira como
este sistema é ensinado e quem o ensina. A
questão, então, é tentar desvelar o quê ocorre em todo este processo, até para
verificar se os preconceitos ainda estão de fato tão fortes, pois parece que,
no senso comum, a Psicologia já está sendo definida como ciência do comportamento
por
um bom número de pessoas (35% de uma amostra da população curitibana respondeu
que a Psicologia “é o estudo ou a ciência do comportamento”, WEBER, 1991), o
que é mais próximo do Behaviorismo do que “estudo da alma”.
Dentre as ações
que podem ser feitas pelos analistas do comportamento, DEBELL& HARLESS
(1992, p. 72) apresentam algumas sugestões de atividades que podem contribuir
para a aprendizagem das idéias de Skinner, algumas das quais reproduzo aqui: a)
Apresente os mitos mais comuns sobre as idéias de Skinner e solicite aos
estudantes que escolham um dos mitos e escrevam um artigo, argumentando com
citações sua falsidade ou veracidade. Este procedimento atingirá os seguintes
objetivos: um conhecimento mais profundo sobre determinado aspecto da ideologia
de Skinner e a experiência de utilizar fontes originais e secundárias para
documentar as premissas. Skinner (1982), em seu livro “Sobre o Behaviorismo”, apresenta
20 afirmações comumente utilizadas em relação ao Behaviorismo e refuta todas no
decorrer do texto. LAMAL (1995) e DEBELL & HARLESS (1992) também apresentam
várias sentenças comuns e incorretas sobre o Behaviorismo.