1. Um dos mais perturbadores
enigmas da religião bíblica é o que se refere à presença material de Jeová
transmitindo o Decálogo a Moisés e ao povo de Israel: E todo o povo viu os trovões
e os relâmpagos e o som da trompa e o monte fumegando; e o povo, vendo isso,
retirou-se e pôs-se longe. E disseram a Moisés: fala tu
conosco e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que não morramos.
E disse Moisés ao povo: não
temais, pois Deus veio para provar-vos e para que seu temor esteja diante de
vós, para que não pequeis. E o povo estava em pé, de
longe; Moisés, porém, se chegou à escuridão onde Deus estava (Êx. XX, 18-21). O povo outorgou um mandato a
Moisés. Submeteu-se à sua autoridade, à revelação dos Dez Mandamentos que a
Moisés havia sido feita. E tal submissão não fez o povo escravo.
Escravos os hebreus haviam
sido no Egito. Jeová os tinha libertado e feito sair da casa da servidão. E
agora pedia a esses homens livres aquilo que lhes traria a liberdade interior:
Não terás
outros deuses diante de mim.
Não farás
para ti imagens de escultura... não te prosternarás diante delas.
Não tomarás o
nome do Senhor teu Deus em vão.
Honrarás pai e mãe.
Não matarás.
Não cometerás adultério.
Não furtarás.
Não darás
falso testemunho contra o teu próximo.
Que encontramos no
Decálogo?
O Deus
único : ele
é o espelho da força
que empresta coesão
a nossa vida .
Para o homem natural — nós todos — o politeísmo
é urna segunda
natureza . Os deuses
entram em conflito .
É impossível conciliar
as exigências que
nos fazem. O homem
é o ser que
se contradiz. Servindo a alguns deuses , ofende outros .
Então , com
surpreendente energia ,
afirma-se o poder do Único .
ele repele o simplesmente
natural . E desperta no homem uma vontade
de outra origem .
Não farás para
ti imagens de escultura :
a Transcendência deixa
de ser Transcendência
quando aprisionada em imagens . Só
lhe compreendemos a linguagem
quando assume forma
de enigma . Ela
própria se coloca para
além de todos
os enigmas . Tal a verdade
da reflexão filosófica.
Não tomarás o nome do Senhor
teu Deus em vão: o homem circunspeto não graceja com o nome de Deus. Não faz
apelo a Deus quando deseja algo para si, neste mundo. Tomar o nome de Deus em
vão equivale a invocar o favor de Deus contra os outros.
Honrar pai e mãe, não matar,
não cometer adultério, não dar falso testemunho: tais são as simples, grandes e
indispensáveis condições de uma vida comum vivida em confiança.
Há qualquer
coisa de estranho
nos acontecimentos
do Sinai: o mandamento proíbe as imagens esculpidas e, portanto ,
nega a materialização de Deus .
Quando , à sombra
da nuvem , Moisés atravessa a montanha , os fenômenos
vulcânicos constituem uma experiência concreta , à semelhança da
proclamação dos Dez Mandamentos ,
que é feita em seguida — mas Deus não se materializa. Não
assume forma . O povo
não o vê ,
nem pode ouvi-lo.
Os Dez Mandamentos foram
encarados com leviandade, sob o pretexto de serem óbvios. Não obstante é tão difícil observá-los que, por certo,
homem algum o consegue de maneira perfeita. Fossem eles obedecidos, e não viveríamos
num estado de engano (tanto em negócios públicos quanto em negócios privados)
que encaramos como inevitável, mas teríamos uma comunidade autêntica e digna de
confiança. “A moral é evidente”, diz um adágio mentiroso. Evidente, muito ao
contrário, é que reduzimos a moral ao silêncio.
Maravilha de simplicidade,
clareza e profundidade para todos os tempos, o conteúdo dos Dez Mandamentos é.
de uma só vez, revelado e capaz de convencer o homem enquanto homem. Falam à
conveniência, através da razão. Levantam-se por sobre a paixão, a violência, o
instinto, o capricho. Dando-lhes obediência, o homem concretiza sua liberdade
existencial.
Formulando seu imperativo
categórico, Kant bem compreendeu a exigência de que a consciência se faz
objeto: age como se, com tua ação, estivesses criando um mundo onde o teu
princípio de agir pudesse ser válido para todos e para sempre.
A consciência é a dimensão
onde cessa a soberania do sujeito, não por submissão a uma ordem exterior e
incompreendida, mas por livre obediência ao próprio entendimento.
Esse poder que compele sem
exercitar violência e que, obedecido, parece brotar de mim mesmo é tão discreto
e desmaiado que aparentemente se desvanece na realidade.
Não obstante, o que se
encerra em minha consciência é mais do que eu mesmo. E esse “mais” fala através
do enigma que, certa vez, tão profundamente marcou o homem no acontecimento do
Sinai. Quem poderia esquecer o Sinai, após a leitura da narração bíblica?
Perceber a importância do homem ancorada no fundamento das coisas, ancorada no
próprio Deus como enigma, revigora a consciência. E a mensagem permanece mesmo
após desaparecida a presença.
2. O Sinai é um exemplo de
enigma. A ciência das religiões e dos mitos reúne os enigmas. Classifica-os em gêneros. Mostra-nos
a transformação dos deuses. Jeová, o Deus da Guerra do Cântico de Débora, não é
o Deus diante do qual Jó formula queixas, nem é o Deus a quem Jesus se dirige.
Sobre o pano de fundo das
comparações universais projetam-se as figuras do passado, sempre únicas: a par
das que aparecem na Bíblia, há o panteão grego e as mitologias hindu, chinesa e
escandinava.
A semelhança
das línguas , os enigmas
nos chegam por
tradição . Não os inventamos;
apropriamo-nos deles.
Eis alguns outros exemplos:
a) Desde o período sumeriano
(quarto milênio a. C.) têm sido elaboradas cosmologias. A ordem da vida humana é reflexo da ordem das estrelas no ciclo
imutável de seu eterno movimento. As invioláveis leis celestes são
válidas para a existência humana, sempre em colapso e sempre em reconstituição. Os eventos humanos
são eventos cósmicos.
Os enigmas prolongam-se pela
História. Kant pôde ainda exclamar: “duas coisas enchem o espírito de admiração
e de respeito — o céu estrelado acima de mim e a lei moral em meu interior...
associo-as diretamente à consciência de meu próprio existir”.
b) É insustentável a idéia
de um mundo divino, uno e integralmente racional. O mundo se apóia no caos. Do
caos brotam o mundo e os deuses, que o limitam, mas não ultrapassam. O caos lhes deu vida, o caos os
devorará.
O enigma de um Deus injusto
e impiedoso, que faz o sol brilhar indiferentemente para os bons e para os
maus. torna-se, na Gnose antiga, o enigma de um criador sem mercê. O mundo em
que vivemos é despido de amor, caótico, irracional, de brilho enganador. Nós,
com nossas almas capazes de amor e de razão, somos centelhas de luz lançadas ao
mundo por nefasto destino. Aspiramos a deixar este mundo para nos reunirmos a
um Deus longínquo, ao Deus do amor que, entretanto, a ninguém pode socorrer
neste mundo.
c) O panteão grego é
único na História, infinito e maravilhosamente claro. Nele, tudo quanto existe, tudo quanto é permitido ou ordenado, tudo que o homem pode ser se
oferece a nós através de divinos enigmas.
Zeus: o Único, rei dos deuses ,
ao qual todos
os deuses devem submeter-se, mesmo quando se
rebelam, mas que
está, por sua
vez , submetido à Moira ,
ao Destino impessoal
a que não
se clama, nem se ora .
Em seguida ,
Apoio , o deus
distante de tudo
quanto é vulgar ,
impuro , mórbido ,
falso . Não
se trata de uma força
da natureza . Isento
de paixões , Apoio
vive na pureza e na dignidade .
Deus vigoroso ,
jovem , belo ,
intangível , ele
brilha , destrói, repele e protege. Exige
medidas e formas .
Seus mandamentos
dizem: Moderação, conhece-te a ti mesmo ,
tem consciência de que
és um homem .
Sócrates, o filósofo, deu-lhe ouvidos . ele está longe
de ser o deus
único , senhor
da existência . Ao contrário ,
permanece afastado da vida perturbada,
sofrida e confusa. Age sobre esta vida , mas com ela não se compromete. A seguir ,
Afrodite, deusa nobre , que enobrece o amor
sexual . E todos
os outros deuses ,
Atenas, Hera , Ártemis, os deuses olímpicos ,
os deuses da natureza ,
as náiades , as ninfas ,
as driades. Inesgotável coleção de nomes
e figuras ! Todas as possibilidades e todos os fados
do homem , todas as depravações
e todas as singularidades humanas — tudo era divinizado . Aceitando tudo ,
limitava-se tudo , e tudo
se punha em
questão .
Zeus |
Somente durante breve
período foram esses deuses realidade. Os gregos atingiram seu apogeu enquanto
homens: igualavam-se aos deuses. Enfrentavam-nos abertamente e faziam-nos
manifestarem-se não através de teólogos e sacerdotes, mas através de poetas e
filósofos. Viam-se no espelho dos deuses. Pouco depois, tudo desceu a uma
lembrança despida de realidade, salvo para os humanistas que visam ao prazer
estético.
Não podemos transformar-nos em gregos. Mas ficaremos
empobrecidos se ignorarmos os deuses gregos e não os tivermos na conta de
marcos significativos.
3. Talvez que hoje em dia os
enigmas estejam entre as coisas que mais urgentemente dizem respeito à origem e
destino de nossa liberdade.
a) Consciente de sua
liberdade, o homem sente ser èle próprio.
Nos grandes momentos, faz opções. Não
obstante, pode falhar na tarefa
de fazer-se ele mesmo
e, então , não
sabe o que verdadeiramente quer , sucumbe ao arbitrário
e à perplexidade. Perdido nessa ausência
de si mesmo ,
torna-se consciente de que pode recuperar-se pela
via da liberdade .
É, contudo ,
abstrata a transcendência
pela qual
ele se sabe oferecido a si mesmo. Quando
o homem, no gozo de sua liberdade, experimenta a Transcendência, necessita dos
enigmas para elucidá-la.
b) Vimos quais eram, para o
mundo, as conseqüências das manifestações da liberdade. Entusiasmados pela idéia de liberdade, verificamos que essas
conseqüências nos colocam no caminho da
catástrofe.
Se parece impossível tomar a
via da liberdade, resta-nos a certeza de que essa trilha, embora aparentemente
impraticável, é-nos imposta por dever e corresponde a nossa humanidade. Tal
certeza a respeito de nosso destino estimula-nos a enfrentar a tarefa. O fato
de não nos sabermos capazes de realizá-la associa à tarefa uma incerteza que
não podemos evitar.
c) Nossa identidade
mostra-se ambígua: podemos dar-nos a nós mesmos na liberdade, mas podemos
também falhar na tarefa de nos construirmos a nós próprios. A concretização de nossa liberdade mostrou-se equívoca: aparece como um ímpeto que pode,
entretanto, conduzir-nos à ruína. E é ambígua também nossa posição no
mundo: estamos à vontade
ou nos
sentimos estranhos a ele ?
Parece que não fazemos senão
desempenhar papéis. E, sem embargo, no plano da História, identificamo-nos a
esses papéis. Ao mesmo tempo, somos e não somos esses papéis.
Quando, em tais papéis, nos
sentimos nós mesmos, o mundo se transforma, por assim dizer, em nossa casa,
como se, embora originários de outras paragens, nele encontrássemos abrigo.
Contudo, se, nos papéis, não
nos sentimos nós mesmos, este mundo não é nosso mundo. Só nos cabe esperar o
pior. E, então, embora tenhamos preservado a certeza de nossas origens, é como
se, tendo abandonado a pátria distante, chegássemos a este mundo estranho.
Quando nos tornamos — o
mundo em sua realidade e nós em nossa origem eterna — estranhos e desajustados,
sentimo-nos sacrificados, privados de realidade e fé, com uma liberdade que se
despe de sentido.
Teríamos, talvez, caminhado
da estranheza de nossas origens para a estranheza deste mundo, sem sermos coisa
alguma? A circunstância de podermos desesperar de situações que põem diante de
nós enigmas dessa ordem já é uma indicação: quem se pode desesperar não é um
nada; pode reencontrar-se.
Vemos nos enigmas a
linguagem de todas as coisas, talvez ambígua e fluida, mas proclamando que o
fim não é necessariamente o desespero.
Não dispomos, contudo, de
qualquer garantia.
4. Falamos de enigmas. Que
significa essa palavra? De onde a colhemos?
Da cisão sujeito-objeto
resultam representações, conteúdos de pensamento, imagens — que não se limitam
a ser apenas isso, mas
encerram significação.
Tal significação não é a dos
símbolos. Objetivamente falando, uma coisa pode ser indicativa de outra, como o
é, por exemplo, a marca de fábrica de uma mercadoria, uma abreviação etc. A significação de que falamos existe,
entretanto, sem que exista o objeto significado. As significações que não podem
ser reduzidas ao objeto significado são por nós denominadas enigmas. Significam
sem significar algo específico. Esse algo reside no próprio enigma e não existe
fora dele.
Vivemos num mundo de enigma,
onde o que é autêntico deveria revelar-se a nós, mas não se revela e permanece
oculto na interminável variação das significações.
Os enigmas constituem, por
assim dizer, uma linguagem da Transcendência, que de lá nos chega como
linguagem de nossa própria criação. Os enigmas são objetivos; neles, o homem
percebe alguma coisa que lhe vem ao encontro. Os enigmas são subjetivos: o
homem os cria em função de suas concepções, modo de pensar e poder de
entendimento. Na cisão sujeito-objeto, os enigmas são, a um tempo, objetivos e
subjetivos.
5. Para muitas religiões, os
deuses estavam fisicamente presentes neste mundo. Para a fé cristã, o Deus
transcendente se fêz homem. Teve morte horrível e ressurreição gloriosa. Um só
homem, Jesus, voltou de entre os mortos e é o Cristo ressuscitado. Os que nisso
crêem, vêem nisso um acontecimento histórico, suscetível de localização no
tempo e no espaço.
Surpreendemo-nos:
ressuscitado na carne? Não é possível, pois um cadáver não recupera vida. Mas
não se atesta que o fato ocorreu? A tumba esvaziou-se e o Ressuscitado apareceu
a discípulos e discípulas. Ocorre apenas que os testemunhos só atestam a fé dos
discípulos e não a realidade do conteúdo de tal fé.
Esse é o cerne da questão:
não se pode resguardar a corporeidade da Transcendência no mundo.
As
ciências contestam a corporeidade da Transcendência, porque a corporeidade é
realidade e a realidade é objeto de ciência e não de fé.
Aquilo
de que a ciência nos priva — a corporeidade da Transcendência — fica para nós
preservado no domínio dos enigmas.
Os latos são universalmente válidos.
Os enigmas têm existência histórica em um mundo empíreo e só falam a essa mesma
existência. Os fatos são investigados. Os enigmas são penetrados pela
imaginação e pela especulação.
Os fatos são incontestáveis.
Os enigmas iluminam o caminho de nossa liberdade.
Crianças no campo de concentração de Auschwitz
|
As realidades
são indiscutíveis :
é assim e assim
é. Os enigmas não
nos propiciam solo
firme , pois
têm mais de uma face .
O enigma “Deus” tomado de maneira direta ,
dá-nos sentimento de segurança .
Contudo , faz-se ambíguo
em razão
de experiências que
temos neste mundo e que
não podemos descartar
sem nos
negarmos a nós mesmos . Não é possível conciliar Deus e Auschwitz. Já
o havia percebido Jó. O Antigo Testamento atinge culminâncias de verdade
ao dizer que Deus se transforma para os homens e deles se aparta quando
estes reconhecem sua
revelação e suas
promessas — e continua a ser
Deus . Mas
esse Deus
não é mais
o Deus anterior .
A palavra “Deus” destina-se a designar algo que nós , pura e simplesmente ,
não chegamos a compreender .
O israelita do Antigo
Testamento procurou, sem êxito , esclarecer o sentido
dessa palavra ; mas
jamais duvidou de que
Deus exista.
jó |
Por isso mesmo, a nós,
homens, só nos resta escutar uma linguagem de enigmas na qual está incluído o
enigma “Deus”, nela enxergando linguagem de significações múltiplas. Quando os
enigmas se tornam inaudíveis, tudo se faz escuro e desolado em torno de nós.
Quando os ouvimos, não achamos tranqüilidade.
6. O mundo bíblico e o mundo
grego são premissas históricas. Não
podemos negá-las. Deixar de negá-las implica, entretanto, em alterarmos
radicalmente nossa maneira de encarar a Bíblia e a tradição. Essa alteração,
que é uma viravolta, envolve os três pontos seguintes:
Primeiro: Devemos renunciar
a emprestar corporeidade a Deus e à Transcendência. Jamais será possível
identificar a Transcendência ao que quer que seja existente no tempo o no
espaço. Ela se perde numa
Transcendência imanente de que não temos conceito e
na qual tudo quanto existe é divino.
Segundo: Em vez de nos
preocuparmos com a corporeidade, importa darmos ouvidos aos enigmas da
Transcendência que (não sabemos de antemão quais, quando, nem como) nos falam,
nos perturbam e nos sustentam. A linguagem dos enigmas é concreta, mas não o é
a Transcendência.
Terceiro: Os enigmas são
múltiplos; correspondem a possibilidades de aceitação ou rejeição, de
proximidade ou afastamento. Estabelecimento de relação com os enigmas evidencia
que eles entram em conflito uns com os outros. A variedade dos enigmas ambíguos
toma o lugar da base sólida de uma fé.
7. Tudo — realidades,
pensamento, fantasia — pode constituir um enigma. Os enigmas diferem entre si
até o ponto de se fazerem únicos. Os enigmas da beleza e da vida natural são
inofensivos. O politeísmo, enigma da multiplicidade de poderes, desagrega. O
Deus único aproxima. A Transcendência de todos os enigmas traz a liberação.
Não há sistema racional
capaz de apreender os enigmas, nem ordem dialética em condições de lhes dominar
os conflitos. A atividade filosófica, matriz dos enigmas, tem meios de dar
expressão a nossas relações existenciais para com eles. É o que vem ocorrendo desde Platão.
O que
foi outrora corporeidade dos deuses tornou-se enigma .
A clara
luz dos enigmas
temos a possibilidade de encontrar nosso caminho ,
o caminho dos picos
inacessíveis . O conhecimento
de uma infinidade de mitos não nos instrui a respeito
deles. E as interpretações psicológicas
degradam. Só a experiência
existencial desvenda o significado dos enigmas .
Em nossos dias, caberia
cogitar de uma tarefa de caráter filosófico, mas semelhante à teologia: o
desvendamento filosófico das relações de cada um de nós para com os enigmas.
Esse estudo os focalizaria em meio a seus conflitos E transformaria em presente
o que foi passado. A teologia, entretanto, é dogmática e se funda em crenças; a
metafísica dos enigmas seria um mundo de contornos fluidos, fundado na
totalidade. A teologia é a dogmática da Igreja; a metafísica dos enigmas leria
por base a responsabilidade de cada filósofo (que não se funda em autoridade
alheia), dentro do quadro de três milênios de filosofia. A teologia une os
crentes numa comunidade institucional; a metafísica dos enigmas viveria com a
humanidade e com cada qual dos indivíduos.
Bibliografia