Gestalt psychology
and empirical contemporaneous science
Arno Engelmann
No outono de 1910, isto
quer dizer na nossa primavera, Max Wertheimer estava de férias viajando num
trem de Viena para a Renânia. No caminho olhou para um sinal ferroviário que
continha duas lâmpadas. Uma lâmpada se acendia e pouco depois se apagava. Após
um tempo bem pequeno, a outra lâmpada passava pelo mesmo processo. Depois,
novamente a primeira lâmpada se acendia e apagava, e assim por diante. As
pessoas que olhavam para o arranjo, inclusive o próprio Wertheimer, viam apenas
uma luz que ia continuamente no espaço entre as duas lâmpadas, para um
lado e a seguir para o outro.
Wertheimer ficou tão
excitado com o que viu, que pensou na possibilidade de um experimento a
respeito. Desceu do trem ao passar por Frankfurt, comprou cartolinas e um estroboscópio3
numa loja de brinquedos na cidade, alugou um quarto num hotel e começou a
construir lá mesmo algumas figuras em duplicidade que deixassem a luz passar
num tempo muito curto. Se a luz se acendesse e se apagasse numa figura e a
seguir se acendesse e apagasse na outra, com intervalo entre eles de mais ou
menos 60 milissegundos, enxergava-se apenas a figura indo de um lugar para
outro.
Estando em Frankfurt,
telefonou para o Instituto de Psicologia da Academia Comercial. Explicou seus
problemas experimentais a Wolfgang Köhler, que trabalhava há pouco tempo na
Academia. Köhler arranjou um espaço para Wertheimer no laboratório, arrumou um
aparelho que permitisse a visão muito rápida de figuras e serviu-lhe como
sujeito. Mais tarde, Köhler contou a Koffka, que também trabalhava na mesma
Academia, o experimento de Wertheimer. Koffka foi o segundo sujeito e sua
esposa, Mira Klein-Koffka, o terceiro. Depois Wertheimer utilizou alguns outros
sujeitos sem treino de observação. O chefe do laboratório, Friedrich Schumann,
ao se inteirar do experimento convidou Wertheimer a trabalhar oficialmente no
laboratório (Ash, 1995; Wertheimer, 1912/1961; Wertheimer, Michael, 1970/1979.)
A percepção de um movimento
diante de duas luzes rápidas e estáticas em localização diferentes, separadas
por um tempo relativamente curto, fora descoberto em data bem anterior. Fora
observado na primeira metade do século XIX pelo físico Plateau. O experimento
de Plateau foi repetido com descargas elétricas por Exner em 1875. Exner foi a
primeira pessoa a representar o movimento aparente como aquele no qual os
estímulos não são nem lentos demais nem curtos demais. Bem mais tarde, o mesmo
Exner foi professor de Wertheimer na Universidade de Praga. Houve também um
grande número de pesquisadores que repetiram, e melhoraram, a percepção das
ilusões de movimentos. É nessa época que em dezembro de 1895 os irmãos Lumière
exibiram pela primeira vez aquilo que se iria configurar numa nova arte: o
cinema. O cinema é realmente uma sucessão de fotografias estáticas que são
apresentadas com uma rapidez tal que as pessoas que as assistem vêm, não uma
série de fotografias, mas os movimentos contínuos no tempo. No entanto, a
enorme pluralidade de movimentos encontrados entre uma fotografia e a seguinte
não permite a perfeita realização de investigações psicológicas (Ash, 1995;
Sekuler, 1996.)
A facilidade do experimento
de Wertheimer é que os estímulos são extremamente simples, a ordem em que são apresentados
utilizam controle de tempo (veja a Figura
1). Quando dois estímulos são apresentados com um intervalo entre eles de 200
milissegundos, os observadores vêem um percepto4,
seguido de um intervalo e finalmente um segundo percepto – sucessão. Quando o
intervalo entre as duas apresentações for curto, de 30 milissegundos, então os
observadores vêem dois perceptos ao mesmo tempo – simultaneidade. Entretanto,
quando o intervalo entre as duas apresentações for ao redor de 60
milissegundos, os observadores vêem um percepto movimentando-se da primeira
localização para a segunda – movimento chamado de ótimo. O
importante nesse movimento é que entre o primeiro estímulo na primeira
localização e a segundo estímulo na segunda localização, há um tempo no qual
não existe qualquer estímulo. Apesar disso, o sujeito ignora a correspondência
entre a estimulação física e o percepto. O movimento, sem representante na
estimulação, foi chamado de movimento fi. É muito interessante que
indivíduos eram impotentes de distinguir se o fato existente da apresentação
teria sido movimento real ou aparente.
Ao publicar um artigo em
1912, Wertheimer discutiu as teorias que poderiam ser utilizadas para explicar
o movimento fi. Descartadas diversas interpretações teóricas, como por
exemplo, que seriam traços, que seriam ilusões de julgamento, todas elas com
falhas na explicação, apresentou a solução que achava a melhor. Tratar-se-ia de
um processo total e contínuo visto como uma Gestalt5.
É todavia importante, como disse Wertheimer em suas aulas de 1913, que os perceptos
de objetos individuais eram Gestalten6
e o percepto do relacionamento entre os diversos objetos individuais percebidos
era também uma Gestalt (Ash, 1995; Sekuler, 1996; Wertheimer, 1912/1961.)
O que se entende pela
palavra "Gestalt?" O substantivo alemão "Gestalt",
desde a época de Goethe, apresenta dois significados algo diferentes: (1) a
forma; (2) uma entidade concreta que possui entre seus vários atributos a
forma. É o segundo significado que os gestaltistas do grupo, que posteriormente
vai se chamar de Berlim, utilizam. É por isso que a tradução da palavra
"Gestalt" não se acha nas outras línguas e a melhor maneira encontrada
pelos próprios gestaltistas ao escrever em idiomas diferentes é simplesmente
mantê-la (Engelmann, 1978c; Köhler, 1929/1947.)
Wertheimer disse, nos anos
que se seguiram a 1912, que as Gestalten são basicamente diferentes do
que se chamava na época de sensações. As Gestalten, percebidas em primeiro
lugar, podem ser decompostas em
partes. Mas as partes são sempre partes da Gestalt
formadora. Está completamente errada a sentença, atribuída falsamente aos
gestaltistas, de que "o todo é mais do que a soma dos elementos".
A psicologia da Gestalt é diferente daqueles que falam em soma de elementos.
Pelo contrário, a Gestalt, de início, vai ser dividida em partes. A Gestalt é
anterior à existência das partes. A determinação é de cima ou
descendente e não de baixo ou ascendente. Se examinarmos, por exemplo, os
desenhos apresentados na Figura
2 veremos, em primeiro lugar, as Gestalten que poderíamos chamar de
"linha ziguezagueante" e de "círculo." A seguir, olhando
para as partes dessas Gestalten, no primeiro caso veremos pequenas retas e no
segundo caso uma circunferência incompleta. É uma solução que inverte tudo o
se fazia, e o que muita gente ainda faz, ao descrever teoricamente os
acontecimentos. Esta foi a solução de Wertheimer e a solução de seus
primeiros companheiros-sujeitos, Koffka e Köhler, na explicação do percepto de
movimento aparente e na explicação de todos os outros experimentos de
psicologia (Arnheim, 1986; Ash, 1995; Köhler, 1944; Wertheimer, 1924/1938a.)
É muito importante que
Wertheimer não acreditava apenas na teoria da Gestalt quanto aos acontecimentos
conscientes, mas acreditava igualmente na teoria da Gestalt funcionando em sua
base fisiológica. Os processos fisiológicos centrais não poderiam ser vistos
como soma de elementos, mas como processos de todo. É por isso que Köhler o
enxerga como um precursor do isomorfismo. Mais tarde, quando Köhler vai
construir as Gestalten físicas, baseado em seu maior conhecimento da área,
Wertheimer e Koffka simplesmente reconhecem-no como mais um ponto da evolução
da teoria comum aos três (Köhler, 1920/1938a.)
Köhler, num artigo
publicado em 1913 chamado "Das sensações não percebidas e dos erros de
julgamentos", rebate a teoria da maioria dos psicólogos da época e que
chamou de hipótese de constância. Hipótese de constância é a correspondência
um-a-um dos estímulos e das sensações. Köhler examinou longamente essa
suposição e chegou às seguintes consequências: (1) ela não é auto-evidente; e
(2) ela não é verificável (Ash, 1995; Köhler, 1913/1971a; Wertheimer
1912/1961.)
Em 1924, Koffka apresenta
num outro artigo o que se chamava de introspecção na época. É basicamente o método
analítico. Contra esse método é necessário mudar a atitude do
experimentador. A atitude nova é, de início, simplesmente perceber,
idêntico à maneira de qualquer pessoa que não conheça a então psicologia. É o método
fenomenológico. Entretanto, qualquer acontecimento que ocorra na
consciência deve ser estudado. Há psicólogos que analisam o conteúdo em
elementos sensitivos, isto é, nos sons, nas cores, nos olfatos, etc. Essa
método analístico não leva a problemas reais, diz Koffka. Chamei-a de observar
os perceptos em fragmentos (Engelmann, no prelo; Koffka, 1924.)
Elementarismo e
Holismo
A maneira epistemológica de
observar inicialmente o todo é conhecida, hoje em dia, como holismo.
Holismo é um termo vulgarizado por Smuts em 1926 (Goerdt, 1974.) A maioria dos
psicólogos e grande parte dos outros cientistas acham que é melhor começar
pelos elementos, aos quais se chega dividindo o todo. Essa maneira é conhecida
como elementarismo.
O holismo não deve ser
compreendido, como o quis Bunge (1977), no qual o enorme Universo seria
necessariamente um todo orgânico e a única maneira de estudá-lo é por meio da
intuição. Experimentos não teriam lugar nesse holismo de Bunge. Seria uma volta
a especulações semi-místicas. Ainda que se possa também incluir esses tais
semi-místicos na mesma classificação, os gestaltistas são, em primeiro lugar, cientistas
empíricos. A seguir enxergam sua abordagem ao problema, que é holista e não
elementarista (Ash, 1995.)
Já Aristóteles escrevia, no
longínquo século IV A.C., que "O todo é, com efeito,
necessariamente anterior à parte, ..."7
O importante sempre é a "...forma total..." e não os
"...elementos que nunca surgem separados do ser ao qual pertencem."8
Afirmava que o todo deve ser considerado algo de diferente da simples reunião
dos elementos. Dava vários exemplos. Quando se quer estudar uma casa, o
importante é mesmo a casa e não os elementos de tijolos, de pedaços de madeira
que nunca são separados do ser ao qual pertencem. Ou, com a morte e a
destruição do corpo inteiro não resta o que se entenderia por mãos ou por pés
individuais. As mãos e os pés são partes do corpo. Quando o corpo deixa de
existir, as antigas partes perdem a sua função. Ou, os seres humanos são unidos
em famílias, as famílias em aldeias, as aldeias em cidades no caso da Grécia
Antiga. Essa união é natural e necessária. Uma cidade formava uma comunidade
que era algo de diferente do que a justaposição de aldeias (Aristóteles, 1953,
1956, 1962; Ross, 1923/1949.)
Essa abordagem aristotélica
holística foi negada no século XVII, quando Galileu e Descartes deram os
primeiros passos na explicação da natureza. Descobriram que a explicação da
função das partes era extremamente importante. Entretanto, conhecer a função
dessas partes seria, de acordo com eles, suficiente. Não se trata mais das
partes do todo, mas dos elementos que se apresentam como fundamentais
(Bertalanffy, 1975.) É a base da doutrina do reducionismo9.
Conteúdo Psicológico
Consciente Humano e Alargamento deste Conteúdo
Conteúdo psicológico
consciente humano
Os primeiros estudos da
escola da Gestalt foram realizados na organização da parte perceptiva
consciente. Em 1914, Wertheimer discutindo no Congresso da Sociedade de
Psicologia Experimental com Benussi, um membro de outra linha gestáltica, achou
que, diante dos principais fatores perceptivos, havia uma lei que os
subordina e que denominou de pregnância. Por lei da pregnância
entende-se uma organização psicológica que pode sempre ser tão boa
quanto as condições o permitirem. O termo "bom" permanece não
definido. Abarca propriedades como regularidade, simetria, simplicidade e
outros. Sejam três dos fatores que Wertheimer cita: o fator de proximidade
(veja a Figura
3), o fator de semelhança (veja a Figura
4) e o fator de fechamento (veja a Figura
5). Na Figura
3, no desenho à esquerda, a lei da pregnância organiza os quadrados em
quatro colunas baseadas na proximidade maior entre eles; no desenho à direita,
a proximidade maior é entre os quadrados que vão constituir três barras
horizontais. Na Figura
4 o fator de semelhança organiza os quadrados em duas colunas: duas brancas
e duas pretas. Na Figura
5, os pontos se organizam em duas áreas fechadas. Wertheimer esperou até
1923 para publicar um artigo sobre o assunto (Ash, 1995; Koffka, 1935/1975;
Wertheimer, 1923/1938b.)
Não apenas
experiência, mas também ação
Num artigo de crítica a
Benussi, Koffka alarga o que se pode entender por Gestalt. Koffka pensa em
Gestalten não apenas na experiência, mas também nas ações dos indivíduos.
Cantar, escrever, desenhar, andar são Gestalten tanto quanto a consciência de
ouvir ou de olhar. "O ato motor é um processo-de-todo organizado;
os muitos movimentos individuais podem ser compreendidos somente como partes
do processo que os abraça ..."10
(Ash, 1995; Koffka, 1915/1938.)
Os correlatos fisiológicos
da percepção e da ação, não são excitações individuais mas eventos unificados.
São, como Wertheimer o acentuou, Gestalten.
Não apenas seres
humanos, mas também outros animais.
Em dezembro de 1913, Köhler
consegue o posto de Diretor da estação de pesquisa da Fundação da Academia
Prussiana, em Tenerife nas ilhas Canárias. A colônia alemã dos Camarões11
tinha um clima demasiado quente para os cientistas. De outro lado, os
chimpanzés que iriam ser estudados não se aclimatavam na Alemanha. A Fundação
então foi localizada numa ilha espanhola perto do Marrocos. Köhler aceitou o
posto, principalmente para estudar a inteligência de chimpanzés. Os estudos
estavam, de um certo modo, completos em junho de 1914. Pouco depois começou a
guerra. Köhler foi chamado como reservista em julho do mesmo ano. Entretanto,
por estar em idade militar, possuía dificuldade de atravessar uma área cheia de
navios aliados. Permaneceu em Tenerife até 1920, na Espanha neutra. Apesar de
doenças, nele e em sua família, aproveitou sua estada para pesquisar e escrever
muito com relação aos animais e muito com relação às Gestalten físicas.
Quem será o "Sudão"? |
Thorndike havia publicado
nos Estados Unidos, em 1898, um trabalho realizado principalmente com gatos e
cães, no qual demonstrava a longa aprendizagem para abrir uma porta, atrás da
qual se encontravam alimentos. A tradução teórica dessa aprendizagem era a
união associativa entre impressões sensoriais e impulsos motores. A
investigação de Thorndike representava o contrário do que estava sendo esperado
por gestaltistas e por evolucionistas como Hobhouse e Yerkes.
O espírito do experimento
de Thorndike foi repetido por Köhler. O objetivo da investigação era sempre a
aquisição de um alimento. O alimento, durante pouco tempo, estava perto do
sujeito experimental. A seguir, era colocado num ponto visível, mas que o
sujeito não podia alcançar continuando o caminho antigo e reto. Um caminho
novo, que começava com o sujeito afastando-se do alimento, era a solução. Como
sujeitos, além de chimpanzés, utilizou galinhas, um cão e sua própria filha com
três meses de idade. Duas formas de comportamento foram demonstradas (veja a Figura
6.) De um lado, a realização genuína, que foi o caminho eficaz
utilizado pelo cão, pelos chimpanzés e pela criança. De outro, a imitação
por acaso, que foi o caminho em ziguezague usado inicialmente pelas
galinhas. Em poucos casos e após um tempo em ziguezague, algumas galinhas
mudavam de forma de comportamento e corriam de acordo com a realização genuína.
Entretanto, os experimentos
mais interessantes foram aqueles nos quais os chimpanzés se encontravam numa
situação no qual o alimento, a banana, era posto fora do seu alcance.
Procuravam diversas soluções e repentinamente o desfecho chegava. É o
"Einsicht" ou sua tradução inglesa insight. Essa palavra
inglesa foi importada por diversas línguas, inclusive por nosso português. O
critério de insight é o aparecimento de uma solução completa com relação à
estrutura do campo, como disse Köhler. O chimpanzé, após o insight, realiza
genuinamente o caminho que leva à solução do problema, inclusive utilizando
utensílios para a nova função ou até inventando-os (Ash, 1995; Köhler,
1917/1927.)
O insight era uma solução
momentânea. Os psicólogos da Gestalt não são nativistas. Entretanto, a solução
de um problema requisita exclusivamente uma reorganização do campo para o
sujeito. Procurar fatores que ocorreram no passado não interessa a esses
psicólogos.
Não apenas teoria
psicológica da Gestalt, mas teoria gestáltica ampla sobre o Universo
É verdade que os germes da
teoria explícita de Köhler já se encontrava nas idéias iniciais de Wertheimer.
Köhler trabalhou de 1915 a
1917 no livro "Gestalten fisicas em repouso e em estado
estacionário". Mandou-o para a Alemanha com a recomendação que fosse
publicado, isto em 1917. Sabia que a maneira de tratar de assuntos físicos e
matemáticos poderia ser considerada muito elementar. Afinal, apesar de ter
seguido muitas matérias de física, era apenas um psicólogo. Recebeu inúmeras
críticas, mas a opinião favorável de Albert Einstein permitiu que fosse editado
sob a forma que tinha sido apresentado (Ash, 1995.)
No livro Köhler diferencia
entre e-somas, formado pela soma genuína dos elementos, e sistemas
físicos, nos quais não há partes do sistema que mudem sem alterar o sistema
como um todo. Um exemplo de sistema fisico seria o condutor elétrico isolado. A
carga elétrica no condutor não depende em nada de pequenas cargas elétricas de
trechos desse mesmo condutor. Pode-se falar em física apenas na eletricidade do
condutor, não nas suas subdivisões. O condutor só pode ser visto como um
sistema físico.
Um sistema físico pode
mostrar-se (1) em repouso, (2) num processo estacionário no qual há uma mudança
constante mas cujo resultado é continuar com as propriedades em repouso, (3)
num processo quase-estacionário no qual a mudança gradativa no tempo é tão
lenta que o resultado será quase idêntico ao processo estacionário, (4) num
processo estacionário periódico no qual há uma repetição contínua tal que o
novo resultado mantenha as mesmas propriedades de repouso e, finalmente, (5)
num processo dinâmico resultando numa mudança.
Köhler acha que as
distribuições físicas estacionárias apresentam a mesma tendência que Wertheimer
denominou de lei da pregnância. Por exemplo, ao se soprar com um canudo para
constituir uma bolha de sabão, essa bolha, ao se libertar, apresentará uma
forma esférica, aquela que tem menor superfície para um máximo de volume
(Köhler, 1920/1938a.)
Percebe-se como no espaço
de poucos anos a teoria psicológica da Gestalt vai se transformando numa teoria
ampla do Universo. A física também pode ser gestáltica; mas seria elementarista
enquanto lida com e-somas. Seria isto que Köhler pensava?
"Pode-se ignorar, como
assunto de determinação específica, se houve interação entre um processo e seu
ambiente, além do tamanho de sua área. O primeiro passo em qualquer
experimento físico é determinar se houve esse fato."12
A hipótese da interação universal atrai consigo uma visão da natureza
completamente errônea. Não se pode aceitá-la. Por conseqüência, deve-se
supor elementos independentes.
O Isomorfismo
Psiconeural
Como os acima citados
sistemas físicos se ajustam ao sistema nervoso? Pelo que se sabe, o sistema
nervoso é formado por uma série enorme de neurônios que se comunicam uns com os
outros segregando substâncias químicas nas sinapses, que irão, por sua vez e
nas próprias sinapses, excitar outros neurônios. De acordo com Köhler, essas
substâncias químicas se juntarão formando um grande conjunto fora dos
neurônios. Esse conjunto é o lugar de sistemas físicos elétricos
tridimensionais. As excitações provocadas causariam processos estacionários ou
quase-estacionários (Köhler, 1920/1938a, 1938b; Köhler & Wallach, 1944.)
Num verso do seu poema
"Epyrrhema", Goethe havia dito: "O que está dentro, aquilo está fora."13
Köhler o coloca na abertura do capítulo sobre isomorfismo psiconeural.
Köhler acredita no isomorfismo, isto quer dizer, que as Gestalten
fenomenológicas da consciência teriam a mesma forma ou seguiriam a mesma
matemática topológica que as estruturas físicas. Topológicas são
relações do tipo "dentro" ou "fora", "entre",
"em contato com", "à distância de". É importante que o
isomorfismo psiconeural se estabelece apenas para levar em conta a parte do
sistema nervoso que é capaz de apresentar uma face fenomenológica.
Evidentemente, há uma grande parte para a qual não haveria dupla representação.
A hipótese é monista: as
duas faces seriam maneiras de se olhar a mesma coisa. As duas faces não
seriam apenas análogas, mas seriam paralelas, nas palavras do próprio
Köhler, ainda que paralelo não seja de maneira nenhuma idêntico. Além
disso, a hipótese do isomorfismo psiconeural é realista. O Universo é
uma realidade só (Engelmann, 1978c; Koffka, 1935/1975; Köhler, 1920/1938a,
1938b, 1929/1947; Köhler & Wallach, 1944; Lewin, 1936.)
Força da Gestalt
Köhler (1920/1938a) definiu
dentro dos sistemas físicos a força da Gestalt como o grau de
interdependência de suas partes. Uma Gestalt é fraca quando a energia de
seu processo é pequena. Uma Gestalt é forte quando a energia do processo
aumenta. Dentro dos vários sistemas físicos, há os constituídos por processos
nervosos centrais de animais superiores. Através do isomorfismo psiconeural, os
mesmos processos se aplicam aos processos neurais e aos fenomenológicos. Koffka
(1935/1975) retomou essa diferenciação, devida a Köhler, e aplicou-a à
realidade de grupos sociais.
Podemos citar como exemplo,
um ser humano sentado ante sua escrevaninha, em cima da qual há uma borracha e
um livro. Podemos dizer que a borracha constitui uma Gestalt forte e o mesmo
pode-se dizer com relação ao livro. A superfície da mesa com os dois objetos,
borracha e livro, constitui também uma Gestalt. Entretanto, será uma Gestalt
bem mais fraca do que as duas Gestalten anteriores, a borracha e o livro.
Através do isomorfismo, na medida em que o ser humano olha para a mesa, os
perceptos "borracha", "livro" e "alto da mesa contendo
a borracha e o livro" são também Gestalten, com a seguinte diferença entre
elas: "borracha" e "livro" apresentam mais força do que
"alto da mesa contendo a borracha e o livro". Outro exemplo, seria o
de duas pessoas carregando um sofá. As duas pessoas seriam cada um uma Gestalt,
o sofá também. Além disso, as duas pessoas carregando o sofá seria uma terceira
Gestalt, ainda que mais fraca do que as três Gestalten anteriores.
Para mim, ao se falar nos
diversos graus de força da Gestalt, seria bem melhor utilizar um contínuo.
Nesse contínuo seria possível colocar uma Gestalt muito forte, uma Gestalt
medianamente forte, uma Gestalt mais ou menos fraca, uma Gestalt bem fraca, e
assim por diante.
No contínuo de forças da
Gestalt, o que denominaríamos de força de quase nula? Por exemplo, a Gestalt
formada pelos perceptos de uma borracha na mesa e mais a lua, no momento em que
é visível através da janela. Ainda que possua alguma força, praticamente o
valor seria tão pequeno que seria melhor nulificá-la para efeitos práticos.
Como disse Köhler numa nota na página 31 da redução do livro Gestalten
físicas por Ellis, o grau dos limites da Gestalt nunca é abrupto (Köhler,
1920/1938a.)
As Escolas
Gestálticas
Como vimos, a abordagem
radical de Wertheimer, Koffka e Köhler a fatos psicológicos é conhecida
atualmente como gestaltista. Antigamente seus representantes constituíam a
chamada escola de Berlim. Berlim, como se sabe, era durante a república de Weimar14
sede do Instituto de Psicologia chefiado por Köhler. Nele trabalhou Wertheimer
até 1929, antes de mudar-se para o laboratório de Frankfurt. Koffka, era
professor em Giessen, mas vinha continuamente a Berlim. Em 1927, foi o primeiro
dos três psicólogos a se mudar para os Estados Unidos por ter conseguido uma
cadeira no Smith College, perto de Boston (Ash, 1995; Boring, 1929/1950;
Michael Wertheimer, 1979).
A escola de Berlim não era
a única escola gestaltista na época. A primeira é, de certa forma, a precursora
de todas as outras. É conhecida como escola da qualidade gestáltica ou, durante
algum tempo, escola de Graz. Há ainda uma outra que deve ser citada. É a escola
da totalidade ou segunda escola de Leipzig15.
Escola da
"Gestaltqualität" ou qualidade gestáltica
Antes do experimento de
Wertheimer com que iniciamos o artigo, houve uma inquietação que surgiu na
psicologia já em 1890, quando Christian von Ehrenfels publicou um artigo
famoso, Über Gestaltqualitäten, ou em português Das
qualidades gestálticas. Para Ehrenfels, "Gestalt" não seria
apenas um conceito estético de beleza, como o era na época, mas também um
conceito psicológico. Todavia, em vez de utilizar o termo antigo e substantivo
"Gestalt", Ehrenfels vai exprimir-se através do substantivo
qualificador "Gestaltqualität" ou "qualidade
gestáltica." As experiências seriam em sua base abstrata formadas por
sensações e sentimentos elementares, como o requeria Wundt16.
As sensações vão se unificar em qualidades gestálticas, sendo cada qualidade
gestáltica, não a soma dos elementos que a compõe, mas uma categoria própria
que seria mais do que a adição. Assim, por exemplo, uma determinada melodia
poderia ser tocada pelo piano, pelo violino ou pelo violão. A melodia é a
mesma, apesar de possuir nos três instrumentos diferentes timbres
característicos. Ainda mais, uma mesma melodia poderia ser tocada no piano com
o tom de dó maior, de mi maior ou de fá maior. Ela será sempre a mesma melodia
ainda que constituída por notas diferentes, isto é, formada por elementos
diferentes. Mais tarde, Köhler (1920/1938a) proporia dois critérios que, do seu
ponto de vista, caracterizam o pensamento de Ehrenfels: o critério de
supra-somatividade, isto é, que as qualidades gestálticas não seriam
constituídas pelas sensações elementares, e o critério de transponibilidade,
isto é, as relações das qualidades gestálticas não mudariam apesar de trocas
nas sensações. É importante lembrar que Max Wertheimer foi discípulo de
Ehrenfels quando aluno em Praga, isto no período que começou em 1898.
Ehrenfels recebeu o título
de doutor na Universidade de Graz, na Aústria, sob a responsabilidade de
Meinong em 1885. Era seis anos mais jovem que seu orientador. Entre os dois
nasceu uma forte amizade. Em 1890, Ehrenfels propôs ao amigo sua teoria: além
das sensações, haveria qualidades gestálticas. Meinong concordou com a
diferenciação feita por Ehrenfels, porém discordou com a terminologia. A
palavra "Gestalt" poderia envolver uma realidade extrapsicológica. Na
linguagem de Meinong tratar-se-ia de um processo com dois estágios: o primeiro
daria origem a "conteúdos fundadores"; o segundo, a "conteúdos
fundados". Meinong e seus discípulos são conhecidos como membros da escola
de Graz ou, às vezes, como psicólogos austríacos. Seus dois assistentes,
Witasek e Benussi, foram as primeiras pessoas a realizarem experimentos gestálticos
(Ash, 1995; Boring, 1929/1950; Heider, 1970; Herrmann, 1974b; Metzger, 1974a,
1974b, 1974c; Strube, 1974; Wundt, 1896/1905.)
Benussi, natural de
Trieste, foi até o fim da Primeira Guerra Mundial cidadão da Aústria-Hungria.
Com os resultados da guerra passou a ser cidadão italiano. Benussi queria
profundamente a mudança de sua nacionalidade, pois que desde sua infância o
sentimento político dentro de sua casa era pró-italiano e anti-austríaco. Na
Itália foi reger a cadeira de psicologia da Universidade de Pádua até seu
falecimento em 1927. Ainda que seus experimentos fossem muito bem considerados
pelos componentes da escola de Berlim, Benussi manteve até o fim de sua vida
confiança na representação de Meinong. Musatti, um discípulo e mais tarde substituto
de Benussi em Pádua, no início recebeu a formação teórica do mestre. A seguir
da morte de Benussi, abriu-se às críticas dos berlinenses, porém jamais
aceitou-as completamente. Nunca deixou de ressaltar na teoria o efeito da
experiência passada na percepção. Entretanto, foi através de seus discípulos
principais, Metelli e Kanisza, que os psicólogos gestaltistas italianos mudaram
sua orientação, desta vez aceitando a crítica à explicação de Meinong feito
pela escola de Berlim (Heider, 1970; Verstegen, 2000.)
A
"Ganzheitspsychologie" ou psicologia da totalidade
A Ganzheitspsychologie
ou psicologia da totalidade é outra escola conhecida como gestáltica. Foi
iniciada por Felix Krueger, sucessor de Wundt na psicologia da Universidade de
Leipzig. Ao contrário da teoria de Wundt, punha como prévio a totalidade.
Totalidade para Krueger e seus discípulos era uma outra maneira de qualificar o
que tem sido estabelecido como Gestalt. Contudo, Krueger achava que a grande
diferença que tinha com relação à psicologia gestáltica é colocar como situação
básica a afetividade. A afetividade é destruída através da análise, quando
psicólogos de natureza wundtiana realizavam a observação (Herrmann, 1974a,
1974b; Sander, 1930.)
Além disso, houve um
interesse grande na evolução individual das Gestalten. Sander, assistente de
Krueger, apresentou um método para pesquisar as diversas etapas por que
passaria um ser humano adulto na formação de suas Gestalten normais. As
durações extremamente pequenas foram conseguidas através de um taquistoscópio17.
Nesse caso, os indivíduos percebem Gestalten nas quais preponderam fatores de
organização internos, isto é, que existem por efeito da própria
organização. Exemplos seria a regularidade maior, divisão em figura e fundo. Ao
contrário, fatores de organização externos seriam aqueles que apresentam
maior influência da estimulação e que se mostram em perceptos de duração comum.
O produto será sempre uma combinação dos fatores externos e internos.
Segundo estudos empíricos
de um assistente de Sander, Undeutsch, as fases por que passam as Gestalten, ou
melhor as Pré-Gestalten transformando-se com durações maiores em
Gestalten, seriam quatro: primeiro, a percepção difusa e indiferenciada; a
seguir, uma organização, como a figura e o fundo; posteriormente, uma fase em
que se percebe contornos e conteúdos internos; e, finalmente, a Gestalt normal.
A Pré-Gestalt inicial seria um todo quase exclusivamente de fatores internos.
Com o aumento da duração, aumenta também a ação de fatores externos. Sander
acha que as quatro fases perceptíveis, que inúmeros experimentadores alemães
apresentaram, seriam as fases normais da percepção de uma Gestalt. Há inclusive
um estudo de Sommer no qual a seqüência normal foi invertida, isto é, os
sujeitos viam primeiro a Gestalt normal; depois a apresentação visual da figura
ia sendo apresentada com durações cada vez menores. Apesar disso, encontrou-se
as mesmas quatro fases (Flavell & Draguns, 1957; Sander, 1928/1967, 1930.)
O procedimento foi
denominado por Sander de Aktualgenese é traduzido para o inglês pela
tradutora Langer como realização genética. Heinz Werner, um psicólogo
alemão do mesmo grupo, que mais tarde emigrou para os Estados Unidos por causa
do nazismo, chamou o método de microgenética. Com esse nome estão sendo
feitos experimentos até hoje em dia (Flavell & Draguns, 1957; Sander, 1930;
Werner, 1956.)
Mudança dos
Fundadores da Psicologia da Gestalt para os Estados Unidos
Nos primeiros anos do
governo nazista na Alemanha, dois dos fundadores da psicologia da Gestalt,
Wertheimer e Köhler, o primeiro por ser judeu e o outro por ter-se oficialmente
posicionado contra o nazismo, deixaram a Alemanha. Receberam postos em
universidades americanas: Wertheimer na New School for Social Research em New York ; Köhler no
Swarthmore College perto de Filadélfia. É interessante que com sua chegada ao
país em que Koffka
trabalhava desde 1927, os três membros da antiga escola de Berlim estavam de
novo próximos entre eles.
Na época, a maioria dos
americanos era behaviorista. John Watson, iniciador do movimento através de um
artigo apresentado em 1913, "A visão da psicologia por um
behaviorista", achava que a psicologia deveria seguir o mesmo procedimento
utilizado pelos fisiólogos e pelos outros cientistas naturais. Deveria estudar
os organismos humanos e não-humanos fora dos observadores. Os gestaltistas
lutavam por uma nova maneira compreender os organismos, partindo inicialmente
do todo e vendo como esse todo se relaciona com suas diversas partes. Essas
duas caracterizações dos dois tipos de psicologia apresentam algum ponto de
conflito? Do meu ponto de vista e quanto ao ponto básico da escola de
psicologia, não (Koffka, 1935/1975; Köhler, 1929/1947; Watson, 1913/1961.)
Porém, se formos para
outros aspectos das teorizações, Watson (1919/1929), Hull (1951), Skinner
(1953) e Osgood (1953) apresentam-se com influências elementaristas. Os
gestaltistas, pelo contrário, acreditavam que a posição inicial dos psicólogos
era totalmente diferente. Tolman (1932), apesar de sempre se qualificar de
behaviorista, introduziu inúmeras concepções gestaltistas em sua teoria.
Em 1941, faleceu Koffka. Em
1935 havia publicado um livro básico que contém a parte teórica e as principais
pesquisas da psicologia da Gestalt. Foi traduzido para diversas línguas entre
as quais o português (Koffka, 1935/1975.)
Utilizando uma abordagem de
teoria do campo psicológica, Koffka apresenta como base a interação entre
organismo e meio. O meio, sem o organismo, é geográfico. Esse meio
geográfico determina em cada organismo um meio comportamental. Parte
desse meio comportamental dá origem à experiência direta ou, em outra
linguagem, consciência. Essa experiência direta e a sua base fisiológica
apresentam-se como topologicamente correspondentes. É o isomorfismo
psiconeural. A experiência direta pode ter como um de seus objetos o Ego,
tudo que está dentro da pele. O resto será o objeto, aquilo que está
fora da pele. A organização será então bipolar: Ego-objeto. Dentro dessa
concepção teórica, Koffka cita uma série de experimentos (Koffka, 1935/1975.)
Dois anos depois da morte
de Koffka, faleceu Wertheimer. Publicou em seus últimos anos um livro sobre o
pensamento e solução de problemas. Nesse livro volta a preocupações que
mantinha na Alemanha. Dizia que a falta de clareza leva o indivíduo a procurar
várias tentativas até achar a solução (Wertheimer, 1945.)
Köhler, ao contrário de
seus companheiros, viveu até 1967. Continuou trabalhando na mesma universidade
e, depois de aposentado, pesquisou junto ao Dartmouth College, na Nova
Inglaterra. Entre outros experimentos, procurou demonstrar em organismos o
isomorfismo psiconeural.
Dada a semelhança entre a
organização fenomenológica ou "dentro" e a organização física do
cérebro ou "fora", e dada muito maior conhecimento das Gestalten
imediatas do que das mediatas, é muito melhor estudarmos fatos conscientes do
que fatos físicos que lhe são psiconeuralmente isomórficos, disse Köhler. A
teoria isomórfica, entretanto, vai de encontro à concepção comum, pelo menos
durante a época da vida de Köhler.
Diversos estudos tentaram
evidenciar o errôneo de correntes diretas no cérebro. Forgus, no entanto,
encontrou nessas pesquisas sempre explicações falhas. Na mesma época, Köhler
achou muito importante experimentos que mostrassem o contrário: a verdade das
idéias da teoria gestáltica do isomorfismo psiconeural. Praticamente, tentou
comprovar a existência de correntes corticais. Numa série de experimentos, nas
quais o próprio Köhler foi o sujeito, demonstrou-se que a visão de um objeto
que se movia lentamente passando pela fóvea dava origem a correntes diretas.
Mas passando pelo crânio humano, os resultados são correntes muito fracas. Os
experimentos foram repetidos com um gato, no qual os eletrodos foram
introduzidos no cérebro. Nesse caso as correntes foram bem mais fortes (Forgus,
1966/1971; Henle, 1984; Köhler, 1920/1938a, 1938b, 1969, 1957/1971b)
A Teoria Geral de
Sistemas e a Teoria da Gestalt
Em fins da década de 1920,
o biólogo Ludwig von Bertalanffy julgou que as duas principais explicações
embriológicas, então existentes, estavam erradas. A primeira partia dos
elementos e explicava todas as formações em termos mecanicistas. O
desenvolvimento de um embrião seria explicado desta maneira. A segunda propunha
uma explicação vitalista que se superpunha à explicação elementar. De
acordo com Driesch, o ser vivo mantinha-se graças à sua enteléquia18,
à sua capacidade de constituir-se tendo em vista o seu fim. De acordo com von
Bertalanffy, a nova explicação era apenas uma maneira de colocar uma pergunta
importantíssima na explicação mecanicista. Entretanto, não procurava
resolvê-la. A solução do problema que Bertalanffy encontrou era gestáltica. A
Gestalt, apesar de nascer na psicologia, era demonstrada na biologia e também
na física. Era uma maneira nova de abordar o problema (Bertalanffy, 1933, 1977;
Köhler, 1920/1938a, 1927/1971c.)
Os seres vivos
apresentam-se numa série hierárquica. Para Lloyd Morgan, em um nível há
uma porção do Universo com uma maneira de organização que surgiu como emergência
de um outro nível inferior. Os vários sistemas se organizam em níveis e
esses níveis são cada vez maiores à medida que se pode subir. A ciência
empírica deve reconhecer tanto a abordagem gestáltica quanto a dos
emergentistas (Bertalanffy, 1933, 1975; Goudge, 1967; Jantsch, 1980.)
Von Bertalanffy achou
importante reunir físicos, químicos, biólogos, psicólogos, sociólogos,
matemáticos e outros ao fundar a Sociedade de Pesquisa Geral de Sistemas. Isso
ocorreu em 1954. O conceito fundamental é o de sistema. Um sistema, pelo menos
de acordo com von Bertalanffy como vimos acima, seria uma Gestalt. Entretanto,
há cientistas empíricos para os quais os quais os sistemas seriam construídos a
partir de elementos e não de Gestalten (Bertalanffy, 1977; 1975.)
Há diferentes classificações
por sistematistas baseadas em sua visão do mundo. Por exemplo, em 1942 o
químico Needham achava que o Universo apresentava os seguintes níveis, partindo
do menor: organização subatômica ®
átomo ® molécula ®
partícula coloidal ® célula viva ®
órgão ® organismo ®
entidade psicológica ® entidade sociológica. O
biólogo Bertalanffy, em 1967, julgava que a passagem das organizações menores
até as maiores consiste em: partículas elementares ® átomos
® moléculas ®
células ® organismos ®
organizações supra-individuais. O psicólogo James G. Miller, em 1978, acha que
os níveis compreendiam: partículas ®
átomos ® moléculas ®
cristais ou organelas. A seguir haveria uma repartição. Os níveis superiores minerais
apresentavam o seguinte esquema: sistemas ecológicos ®
planetas ® sistemas solares ®
galáxias ® outros sistemas superiores; os níveis
superiores vivos incluíam células ®
órgãos ® organismos ®
grupos ® organizações ®
sociedades ® sistemas supranacionais (Bertalanffy, 1977;
Miller, 1978; Needham, 1942.)
Há pontos em que discordo
de alguns representantes da teoria geral de sistemas. Por exemplo, ainda que a
classificação hierárquica em níveis seja, de um modo geral, válida, não aceito
os isomorfismos entre os vários níveis, como os de von Bertalanffy ou os de
Miller. Esses isomorfismos são distintos do isomorfismo psiconeural de Köhler.
São identidades formais entre vários níveis. As semelhanças entre os diferentes
níveis não me parecem, até o momento, convincentes (Bertalanffy, 1977; Miller,
1978.)
Em 1959, Köhler fazia parte
dos intelectuais que iam discutir o problema das "Dimensões da
mente". Na parte final de sua comunicação, Köhler levanta o problema das
pessoas que acham que a solução do problema da mente residia em "... uma
emergência incompreensível"19.
Para ele a conclusão melhor para a questão consciência-cérebro consistia no
isomorfismo psiconeural, isto é, na semelhança das "... características
estruturais dos processos cerebrais e dos eventos fenomenológicos relacionados
..."20.
Scheerer achava que para
Köhler uma solução horizontal, na qual as diversas emergências de camadas
compreendiam cada uma um aumento de complexidade, era contraproducente. Ao
contrário, Köhler pensava na existência de um limite vertical entre as
distribuições dinâmicas – pelo menos nos seres vivos – e as funções de tipo
máquina (Köhler, 1960/1978; Scheerer, 1994.)
A base da teoria das
emergências consiste na existência de níveis em que cada sistema reconstrói o
nível imediatamente inferior, já que o novo sistema apresenta melhor
eficiência. Entretanto, apesar dos vários sistemas se originarem de baixo para
cima, cada novo sistema é uma Gestalt e, enquanto Gestalt, suas leis de
organização são de cima para baixo. Um desses níveis é o organismo. Uma pequena
parte desse organismo mostra-se como consciente, isto é, o próprio organismo
conhece essa parte. Qual a maneira para explicar o conhecimento desta parte,
quer dizer, que relação existe entre a consciência e a base desta consciência?
Não sei. A relação isomórfica entre o psíquico e o neural é uma hipótese muito
boa.
Muitos teóricos acreditam
ao mesmo tempo na abordagem gestáltica e na abordagem das emergências, e sou um
deles. Dou um exemplo de uma brasileira que pesquisou danças de salão (veja a Figura
7). Suponhamos que quatro pares, isto é, um cavalheiro e uma dama, estão
dançando um samba. Uma orquestra de três pessoas está tocando a música. Em cada
par, a dama é uma pessoa e o cavalheiro é outra. Aceitando-se a classificação
em níveis, cada pessoa é um organismo. Entretanto, o que interessava a
investigadora é o movimento do par que executa a dança e não o movimento de
cada organismo. Este movimento é grupal. Há quatro grupos e esses grupos dançam
a música tocada por três músicos. De outro lado os três músicos tocam em conjunto. São
portanto quatro pares dançando e mais o grupo dos três músicos. Grupo é um
conjunto de pessoas em contato perceptível. No presente caso teremos um grupo
de organismos, divididos em um subgrupo de músicos mais o subgrupo de
dançarinos. O subgrupo de dançarinos será constituído de quatro subsubgrupos.
Em cada subsubgrupo há dois organismos de sexo diferente.
De outro lado, enquanto
Gestalt, começamos com a Gestalt fraca de onze pessoas. Esta Gestalt será
formada pela parte de músicos e pela parte de dançarinos. Essas partes podem,
por sua vez, ser constituídas por Gestalten um pouco mais fortes. A Gestalt dos
oito dançarinos apresenta, por sua vez, quatro partes. Cada parte pode ser
vista como uma Gestalt mais forte ainda e constituída por duas partes, uma dama
e um cavalheiro. Evidentemente, cada parte pode ser vista como uma Gestalt bem
forte, se a força dessas Gestalten serão comparadas com a Gestalt do conjunto
de pessoas (Volp, 2001.)
O Renascimento das
Pesquisas Gestálticas
Desde mais ou menos 1985,
houve um renascimento da psicologia da Gestalt em países de língua inglesa.
Trechos dos três autores clássicos voltam a ser "descobertos" e daí
vieram a guiar pesquisas atuais. Em 1994, saiu um número da Philosophical
Psychology dedicado à Gestalt. É importante que os artigos não se resumem à
psicologia da Gestalt, mas incluem a visão de Köhler de um Universo gestáltico
(Leeuwen, 1994.)
Spillmann (1997) batiza de
abordagem neo-gestáltica o renascimento da psicologia da Gestalt. Vários
problemas que no início se apresentavam como pouco claros, hoje em dia, com a
tecnologia dos computadores, voltam a ser estudados. E os resultados confirmam
os antigos pesquisadores da Gestalt.
Por exemplo, Kóvacs (1996)
reviu observações recentes realizadas por psicofísicos, anatomistas e
neurofisiólogos que acham muito importantes as idéias antigas quanto à noção de
forma e quanto à lei da pregnância. Essa importância refere-se a níveis
inferiores ao do organismo. Singer (1995) descobriu que as descargas dos
neurônios são sincronizadas de maneira a obedecerem aos critérios gestálticos
no agrupamento perceptivo. Essas descargas de milhares de células ocorrem ao
mesmo tempo numa escala de milissegundos.
Cataliotti e Gilchrist
(1995) reviram, mais uma vez, o efeito Gelb descrito por Koffka (1935/1975).
Nesse efeito, um disco preto numa sala preta parece branco. No momento em que
um pedaço de papel branco é colocado em frente ao disco, este último muda a
aparência para preto. De acordo com muitos pesquisadores, a mudança de
luminosidade seria o efeito de um processo local que se estabelece devido à
inibição realizada pelas unidades neurais. Cataliotti e Gilchrist demonstraram,
após uma série de experimentos, que a explicação gestáltica seria a melhor: o
objeto mais iluminado seria visto como branco de acordo com Koffka. Wehner e
Stadler (1994) mostram que freqüentes erros em processos não são conseqüência
de fatos aleatórios, mas de um processo interno gestáltico. A solução é um
erro, mas o erro surge da organização. Seja a seguinte adivinhação: "Há
dois gansos que passam por baixo de uma ponte. Dois gansos nadam na frente de
dois gansos. Dois gansos nadam atrás de dois gansos. Dois gansos estão no meio.
Qual é o número mínimo de gansos?" A maioria responde que o número de
gansos seria seis, porém o correto é quatro. Se se pensar que os gansos podem
nadar um atrás do outro, é fácil imaginar a resposta correta. O agrupamento em
pares devido à pergunta leva à solução errada; entretanto, seria um erro bom,
da mesma maneira como outros erros bons são devidos à interferência entre
diferentes leis gestálticas, a duas organizações figural e semântica, etc. O
erro bom é o caminho para a solução correta.
Baseado na tradição
microgenética de Sander e de Werner, Navon (1971, 1981) publicou uma série de
pesquisas nas quais os sujeitos preferiam, como visão inicial, as
características globais, que ocupam um tamanho maior, do que as locais.
Podemos citar, como exemplo, o título do artigo do próprio Navon.: um indivíduo
vê em primeiro lugar uma floresta, e somente se houver interesse as árvores
dessa floresta. Muitos pesquisadores acham que estava de volta o problema da
Gestalt. Kimchi (1992), entretanto, supõe que lidar-se com essa questão não tem
nada a ver com a suposição Gestalt-parte. A primeira suposição representa dois
"níveis" perceptivos, um global e um local. O global seria mais
freqüente do que o local. Mas há casos em que a atitude local seria a
prevalecente. Esta não era a atitude dos descobridores da microgenética, Sander
(1930) e mais tarde Werner (1956)
Köhler publicou dados sobre
os acompanhantes elétricos diretos no cérebro da visão e da audição. Na época
não recebeu reações favoráveis. Entretanto, nos últimos dez ou quinze anos
houve uma reviravolta. Em 1992, propuseram os fisiologistas Agnati, Bjelke e
Fuxe uma nova teoria para explicar a comunicação no cérebro além da sináptica:
a transmissão de volume. O meio de comunicação é o espaço constituído
fora dos neurônios. As substâncias químicas dentro dos neurônios se lançam
neste espaço extracelular. É uma transmissão lenta, captável externamente.
Cerca de 20% do peso do cérebro é fornecido por esse espaço. Agnati, Bjelke e
Fuxe citam diversos pesquisadores que prepararam a sua teoria, começando com
Golgi. Entretanto, esqueceram o psicólogo Köhler, que já havia reaIizado um
modelo muito semelhante ao seu. A explicação dos pós-efeitos da figura – a
pessoa que observa firmemente uma figura de 5 a 10 minutos verá a área correspondente a
essa figura saciada e propaga, para fora dessa área, uma segunda figura – é um
deslocamento no campo extra-celular. A explicação é a mesma de Agnati, porém
foi publicada muito tempo antes, em 1944. O leitor pode rever o primeiro
parágrafo da parte "O isomorfismo psiconeural" (Agnati, Bjelke &
Fuxe, 1992; Köhler & Wallach, 1944.)
Scheerer (1994) demonstra
que não apenas houve uma volta hodierna da teoria da Gestalt, mas que o
isomorfismo psiconeural, após sua queda injustificada, voltou como uma das
melhores explicações da ocorrência cérebro-consciência. Entretanto, Scheerer
acha que Köhler seria correto apenas no caso da percepção. No caso do
pensamento, as regras seriam outras.
Westheimer (1999) demonstra
que a volta da psicologia gestáltica continua. O impacto da obra inicial de Max
Wertheimer em 1910 é importante hoje em dia. Os pesquisadores atuais não aceitam mais a
visão simplificada segundo a qual as operações corticais seriam
comportamentalizadas. A idéia antiga do isomorfismo psiconeural, ainda que se
sirva de modelos mais sofisticados, continua viva.
Trabalhos
Brasileiros na Linha Gestáltica
Falei em pesquisas escritas
na língua inglesa, já que os Estados Unidos representam atualmente o principal
alicerce da psicologia mundial. Entretanto, grupos menores de psicólogos alemães,
italianos e japoneses continuavam as suas publicações baseadas em pesquisadores
gestálticos, inclusive no interregno norte-americano.
Entre nós temos ainda
poucos textos gestálticos. Vou citar aqueles que recordo. Entretanto, isso não
me torna um historiador da psicologia. Não tenho esquema de busca.
Nilton Campos, médico mas
professor de psicologia no Rio de Janeiro, caracterizou-se por possuir uma
visão gestáltica da ciência. Esteve em contato com Köhler em Berlim, durante
uma viagem na Alemanha em 1927, e recebeu Köhler quando de sua rápida vinda em São Paulo na segunda
quinzena de agosto de 1930. Na bibliografia de Campos existem pelo menos vinte
artigos nitidamente gestaltistas publicados no Rio de Janeiro, principalmente
em boletins da Universidade do Brasil. Além disso, realizou o seu trabalho
"O método fenomenológico na psicologia" em 1945, que apresentou para
concorrer à cátedra de psicologia na Faculdade Nacional de Filosofia e que
ganhou. Em 1948, apresentou um resumo no 12º Congresso Internacional de
Psicologia (Campos, 1948; Engelmann, 1978c; Penna, 1987.)
Annita Cabral, aluna de
Koffka e de Wertheimer nos Estados Unidos, propagou a visão gestáltica em São Paulo. Em 1944
saíu um artigo seu sobre a obra social de Wertheimer (Cabral, 1944). Em 1946, a Faculdade de
Filosofia publicou seu trabalho sobre memória de formas (Cabral, 1946).
Recentemente, Ramozzi-Chiarottino (2001) retratou a figura de Cabral. Carolina
Martuscelli Bori, assistente na época de Cabral, após passar um período nos
Estados Unidos com Tamara Dembo, discípula de Kurt Lewin, publicou uma pesquisa
gestáltica sobre interrupção de formas (Martuscelli, 1959). Outro assistente de
Cabral, Dante Moreira Leite foi aluno de Heider. Desse contato nasceu em seus
cursos de relações pessoais influência da psicologia ingênua de origem
heideriana. Deu grande importância à psicologia da literatura. A sua análise do
processo criador literário apresenta como base a psicologia da Gestalt (Leite,
1965.)
Walter Hugo de Andrade
Cunha é o iniciador do núcleo de ensino e pesquisa da etologia no Brasil.
Entretanto, sua teoria básica era gestaltista e tolmaniana. Tolman, apesar de
behaviorista, era também em boa parte gestaltista. Cunha publicou em 1963 um
texto em que aborda a psicologia tal qual era transmitida por representantes
gestaltistas na época (Cunha, 1963). O livro de Cunha, "Explorações no
mundo psicológico da formiga", retrata as suas principais descobertas na
época. Entretanto, ficou algum tempo numa editora, quando tentou reescrevê-lo
segundo a abordagem do behaviorismo operante. Após sua passagem rápida pelo
behaviorismo de Skinner, Cunha redescobriu que a primeira versão de sua obra,
na qual havia conceitos importantes como propósito e expectativa
cognitiva, eram básicos para descrever o comportamento da formiga Nylanderia
fulva (Cunha, 1980). Acredita que há duas formas de comportamento: a estrutural,
produto da espécie e estudado pelos etólogos, e a funcional, que estuda
a mente individual, como era apresentado na primeira versão do livro (Cunha,
1995.)
Ainda que eu tenha tido
sempre uma concepção gestáltica desde as aulas com Annita Cabral, as
publicações são poucas. No livro "Os estados subjetivos", a concepção
do título, estado subjetivo, é gestaltista, provinda do conceito de Ego
de Koffka. Num manuscrito recente sobre "Da conceituação de estado
subjetivo até a proposição dos escalões de percepto", a teoria
é de base gestaltista (Engelmann, 1978a, no prelo; 2001b). Um contínuo para
explicar melhor a teoria da força da Gestalt, que publico pela primeira vez no
presente artigo, é também uma colaboração minha. Além disso sou organizador e
autor da introdução num livro sobre Köhler (Engelmann, 1978b; 1978c.)
Há pouco tempo, Penna
(1999) publicou um pequeno livro sobre "Introdução ao gestaltismo".
Meu Ceticismo
Mitigado e o Realismo dos Primeiros Gestaltistas
Não há dúvida que Descartes
e muitos outros, contemporâneos e sucessores seus nos séculos XVII, XVIII e
XIX, colocaram como essencial para o progresso das ciências naturais a divisão
dos processos complexos em processos mais simples. Além disso, para Descartes,
os organismos animais e também o organismo humano iam ser melhor conhecidos
comparando-os com máquinas. Essa tese de Descartes provocou a repulsa de
Köhler. Para Köhler a teoria da máquina está errada para explicação dos
animais, e nesse ponto concordo plenamente com a crítica gestáltica (Descartes,
1662/1988; Engelmann, 1964; Gilson, 1947; Köhler, 1929/1947.)
De outro lado, Descartes
foi o primeiro pensador a colocar a sua própria consciência, pelo menos na
parte inicial de suas "Meditações", como o primórdio de qualquer
observação, inclusive de observações científicas. Foi sob influência de
Descartes, que Hume também pôs sua consciência como o primórdio de suas
observações. Para Hume, essa consciência momentânea e individual é a única
coisa na qual podemos acreditar piamente. O universo pode ser observado e nele
há coisas que, com o tempo, serão mais acreditáveis ou menos acreditáveis.
Nunca todavia essas coisas serão acreditáveis cem por cento. O universo é
cético, porém além disso mitigado ou probabilista (Descartes,
1641-1642/1647/1967; Engelmann, 1997, 2001a; Hume, 1748/1955.)
Cada indivíduo apresenta a
consciência que chamo de imediata num tempo minúsculo, num momento que no ser humano
dura de 2 a
4 segundos. De outro lado o indivíduo pode perceber Gestalten temporais que
duram, na maioria das vezes, bem mais do que 4 segundos. Como explicar esse
acontecimento? Köhler (1920/1938a) escreveu que os momentos são
passagens de uma topografia total. Esses momentos não são, de maneira nenhuma,
as partes da Gestalt. Acredito que apesar da consciência-imediata21
durar um momento não limitado, durante este momento – ou os momentos em que se
fica consciente – a consciência-imediata capta os momentos anteriores na
percepção da Gestalt temporal (Engelmann, 2001a.)
Wertheimer, Koffka e Köhler
foram realistas. Eu, no entanto, sou cético probabilista. Por razões
provavelmente evolucionárias, os seres humanos apresentam uma consciência
individual e momentânea através da qual são capazes de construir um universo
(Engelmann, 2001a.) Esse universo me parece muito melhor captado na linha
gestáltica do que na linha elementarista.
Conclusão
Acho que possuo a melhor
justificação da certeza de se observar o todo, a Gestalt, e não os elementos.
Em 1952 estava estudando física médica na Faculdade de Medicina. Num livro da
época, constava a afirmação de que os átomos dos seres vivos estão em constante
mudança. Em mais ou menos dois anos, os átomos de cachorros, de gatos, de seres
humanos são quase totalmente diferentes. Uma pessoa que vi há cinco anos e que
vejo hoje em dia não apresenta quase nenhuma parte igual, pelo menos com
relação à sua formação básica: os átomos. Em 2000, quis ter afirmação
contemporânea desse fato. Falei com meu colega Menna-Barreto que, por sua vez,
entrou em contato com um bioquímico, Chuck Farah. Farah confirmou-me que as
"moléculas 'biológicas' ... estão sempre se transformando in vivo"22
(Alberts & cols., 1994.)
Para mim, concordando com a
teoria geral da Gestalt – e não apenas com a originária escola psicológica – e
concordando com a teoria geral dos sistemas, os seres humanos estão sempre se
transformando. Entretanto, são no entanto sempre os mesmos. O importante é a
Gestalt total do organismo e não as suas partes constituintes. Quando se
observam moléculas, são moléculas como um todo e não suas partes atômicas.
Quando se observam órgãos do corpo, são os órgãos como um todo e não seus
átomos constituintes. E quando se observam pessoas, são pessoas como um todo e
não os seus incontáveis números de átomos. São as pessoas que permanecem
através do tempo.
Ao contrário de grande
parte das teorias que julgam serem os elementos que se juntam na constituição
de coisas ou organismos, os gestaltistas invertem a questão. No Universo, o
importante são os todos ou Gestalten. Esses todos podem constituir as suas
próprias partes.
Depois de tudo que disse e
depois do que afirmei na parte de psicólogos brasileiros, sou gestaltista?
Dizia o próprio Wolfgang Köhler em reuniões com seus alunos:
"A única coisa da qual
tenho medo, é que vocês queiram se tornar verdadeiros psicólogos da Gestalt.
Eu, propriamente dito, não o sou."23
Para ser gestaltista,
sistematista, behaviorista ou cognitivista espera-se que o pesquisador carregue
um rótulo para classificá-lo. Entretanto, esses quatro nomes não são tão
nítidos e apresentam, cada um, uma série de significados. Sou gestaltista por
abordar sempre em primeiro lugar o todo e, a seguir, as partes deste todo. Sou
sistematista por acreditar, com a evolução dos seres vivos e dos seres
minerais, há uma série de sistemas, cada um se superpondo aos outros com
exceção do mais inferior de todos. Sou behaviorista por abordar o organismo,
humano ou não-humano, sempre fora de mim, de minha consciência-imediata. E sou
cognitivista pela seleção de assuntos que quero estudar. Entretanto sou, em
primeiro lugar, um cientista empírico.
Referências
Agnati, L.F.; Bjelke, B. e
Fuxe, K. (1992) Volume transmission in the brain. American Scientist, 80,
362-373. [ Links ]
Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M.; Roberts,
K. e Watson, J. D. (Orgs.) (1994) Molecular of the cell. 3a. ed. New York : Garland . [ Links ]
Anjos, M. dos e Ferreira,
M.B. (Orgs.) (1999) Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Ed. Nova
Fronteira. [ Links ]
Aristóteles (1953) La
métaphysique. (J. Tricot, Trad.). Paris: J. Vrin. [ Links ]
Aristóteles (1956) Les
parties des animaux. (P. Louis, Trad.). Paris: "Les belles
lettres". [ Links ]
Aristóteles (1962) La
politique (J. Tricot, Trad.). Paris : J. Vrin. [ Links ]
Arnheim, R. (1986) The two faces of gestalt
psychology. American Psychologist, 41, 820-824. [ Links ]
Ash, M.G. (1995) Gestalt psychology in German
culture, 1890-1967. Cambridge , UK : Cambridge
University Press. [ Links ]
Bertalanffy, L. von (1933) Modern theories of
development. An introduction to theoretical biology (J.H. Woodger, Trad.). Oxford , UK :
Oxford University Press. [ Links ]
Bertalanffy, L. von (1975) The history and development
of general system theory. Em
E. Taschdjian (Org.), Perspectives on general system
theory by Ludwig von Bertalanffy (pp. 149-169). New
York: George Braziller. [ Links ]
Bertalanffy, L. von (1977) Teoria
geral dos sistemas (F.M. Guimarães, Trad.) Petrópolis: Vozes. [ Links ]
Boring, E.G. (1950) A history of experimental
psychology. New York :
Appleton-Centuy-Crofts. (Trabalho original publicado em 1929) [ Links ]
Bringmann, W.G., Bringmann ,
N.J. e Ungerer, G.A. (1980) The
establishment of Wundt's laboratory: An archival and documentary study. Em W.G. Bringmann e
R.D. Tweney (Org.), Wundt studies. A centennial collection (pp.
123-157). Toronto :
C. J. Hogrefe. [ Links ]
Bunge, M. (1977) General systems theory. General
Systems, 22, 87-90. [ Links ]
Cabral, A.C.M. (1944) Max
Wertheimer e as ciências sociais. Sociologia, 6 (2), 111-122. [ Links ]
Cabral, A.C.M. (1946) O
conflito dos resultados dos experimentos sobre a memória de formas. Boletim
nº 76 da FFCL da USP. Psicologia n° 2. [ Links ]
Campos, N. (1948)
Fundamentals of the phenomenological attitude in modern psychology. Universidade
do Brasil. Instituto de Psicologia. Monografias Psicológicas, nº 1. [ Links ]
Cataliotti, J. &
Gilchrist, A. (1995) Local and global processes in surface lightness
perception. Perception and Psychophysics, 57, 125-135. [ Links ]
Cunha, W.H.A. (1963) Os
fatos da psicologia. Boletim nº 281 da FFCL da USP. Psicologia nº 11. [ Links ]
Cunha, W.H.A. (1980) Explorações
no mundo da formiga. São Paulo: Ática. [ Links ]
Cunha, W.H.A. (1995) Trilha
de formiga, senda de psicólogo e etólogo (meus caminhos e descaminhos no estudo
do comportamento). Psicologia USP, 6 (1), 43-73. [ Links ]
Descartes, R. (1967) Les
méditations, les objections et les réponses. Em F. Alquié (Org.), Descartes
Œuvres philosophiques. Tome II (1638-1642) (pp. 375-890). Paris: Garnier.
(Trabalho original publicado em 1647; texto em latim de 1641-1642) [ Links ]
Descartes, R. (1988)
L'homme. Em F. Alquié
(Org.), Descartes Œuvres philosophiques. Tome I (1618-1637) (pp.
379-480). Paris: Garnier. (Trabalho original publicado em 1662) [ Links ]
Engelmann, A. (1964)
Descartes e a psicologia científica. Jornal Brasileiro de Psicologia, 1
(2), 13-35. [ Links ]
Engelmann, A. (1978a) Os
estados subjetivos: Uma tentativa de classificação de seus relatos verbais
São Paulo: Ática. [ Links ]
Engelmann, A. (Org.)
(1978b) Wolfgang Köhler. São Paulo: Ática. [ Links ]
Engelmann, A. (1978c)
Introdução. Em A.
Engelmann (Org.), Wolfgang Köhler (pp. 7-36). São
Paulo: Ática. [ Links ]
Engelmann, A. (1997) Dois
tipos de consciência: a busca da autenticidade. Psicologia USP, 8
(2), 25-67. [ Links ]
Engelmann, A. (1998)
Ciência natural e consciência. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11,
273-280. [ Links ]
Engelmann, A. (2001a) O
meu-mundo e o resto-do-mundo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14,
211-223. [ Links ]
Engelmann, A. (1978a, no
prelo) Da conceituação de estado subjetivo até a proposição dos escalões de
percepto. Psicologia: Reflexão e
Crítica. [ Links ]
Flavell, J. H. & Draguns, J. (1957) A microgenetic
approach to perception and thought. Psychological Bulletin, 57,
197-217. [ Links ]
Forgus, R.H. (1971) Percepção (N. P. Mejías, Trad.). São
Paulo: Herder, Editora da Universidade de Brasília, Editora da Universidade de
São Paulo. [ Links ]
Gilson, É. (1947)
Commentaire historique. Em É. Gilson (Org.), René Descartes - Discours de la
méthode (pp. 79-477). Paris : J. Vrin. [ Links ]
Goerdt, W. (1974) Holismus. Em J. Ritter (Org.),
Historisches Wörterbuch der Philosophie. Band 3 (pp. 1167-1168). Darmstadt , Alemanha
Ocidental: Wissenschaftliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Goudge, T. A. (1967) Emergent evolutionism. Em P. Edwards (Org.), The
encyclopaedia of philosophy (pp. 474-477). New York : Macmillan e Free Press. [ Links ]
Grande enciclopédia Larousse cultural (Org.) (1998) Cidade: Nova Cultura. [ Links ]
Heider, F. (1970) Gestalt theory: Early history and
reminiscences. Journal of the History of the Behavioral Sciences, 6,
131-139. [ Links ]
Henle, M. (1984) Isomorphism: Setting the record
straight. Psychological Research, 46, 317-327. [ Links ]
Herrmann, T. (1974a) Ganzheit. I.
Em J. Ritter
(Org.), Historisches Wörterbuch der Philosophie. Band 3 (p. 20). Darmstadt , Alemanha
Ocidental: Wissenschafliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Herrmann, T. (1974b) Ganzheitspsychologie. Em J. Ritter (Org.), Historisches
Wörterbuch der Philosophie. Band 3
(pp.22-23) Darmstadt, Alemanha Ocidental: Wissenschaftliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Houaiss, A., Villar, F.M. e
Franco, M. (Orgs.) (2001) Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Objetiva. [ Links ]
Hull, C. L. (1951) Essentials
of behavior. New Haven , CT : Yale
University Press. [ Links ]
Hume, D. (1955) An inquiry concerning human
understanding. Indianapolis ,
IN : Liberal Arts Press. (Trabalho
original publicado em 1748) [ Links ]
Jantsch, E. (1980) The self-organizing universe.
Oxford , UK : Pergamon. [ Links ]
Kimchi, R. (1992) Primacy of wholistic processing and
global/local paradigm: A critical review. Psychological Bulletin, 112,
24-38. [ Links ]
Koffka, K. (1924) Introspection and the method of
psychology. British Journal of Psychology, 15, 149-161. [ Links ]
Koffka, K. (1938) Reply to V. Benussi. Em W. D. Ellis
(Condensador e tradutor), A source book of Gestalt psychology (pp.
371-378). London: Routledge & Kegan Paul. (Trabalho original publicado em
alemão em 1915). [ Links ]
Koffka, K. (1975) Princípios
da psicologia da Gestalt (A. Cabral, trad.). São Paulo: Editora Cultrix,
Editora da Universidade de São Paulo. (Trabalho original publicado em inglês,
em 1935) [ Links ]
Köhler, W. (1927) The
mentality of apes (E. Winter, Trad. do alemão). London: Routledge &
Kegan Paul. (Trabalho original publicado em alemão, em 1917) [ Links ]
Köhler, W. (1938a) Physical Gestalten. Em W. D. Ellis
(Condensador e tradutor), A source book of Gestalt psychology (pp.
17-54). London: Routledge & Kegan Paul. (Trabalho original publicado em
alemão em 1920) [ Links ]
Köhler, W. (1938b) The place of value in a world of
facts. New York :
Liveright. [ Links ]
Köhler, W. (1944) Max Wertheimer 1880-1945. Psychological
Review, 51, 143-146. [ Links ]
Köhler, W. (1947) Gestalt psychology. New York : Liveright. (Texto
original publicado em 1929) [ Links ]
Köhler, W. (1969) The task of Gestalt psychology.
Princeton , NJ : Princeton University Press. [ Links ]
Köhler, W. (1971a) On unnoticed sensations and errors
of judgment. Em M. Henle
(Org.), The selected papers of Wolfgang Köhler (pp. 13-39). New
York: Liveright. (Texto original publicado em alemão, em 1913) [ Links ]
Köhler, W. (1971b) Psychology and natural science. Em M. Henle (Org.), The
selected papers of Wolfgang Köhler (pp. 252-273). New
York: Liveright. (Texto original publicado em alemão, em 1957) [ Links ]
Köhler, W. (1971c) On the problem of regulation. Em M. Henle (Org.), The
selected papers of Wolfgang Köhler (pp. 305-326). New
York: Liveright. (Texto original publicado em alemão, em 1927) [ Links ]
Köhler, W. (1978) O
problema mente-corpo. Em
A. Engelmann (Org.), Wolfgang Köhler (pp. 129-147) (J.
S. de C. Pereira e V. L. Bianco, Trads.) São Paulo: Ática. (Trabalho original
publicado em inglês, em 1960) [ Links ]
Köhler, W. & Wallach, H. (1944) Figural
after-effects. An investigation of visual processes. Proceedings of the
American Philosophical Society, 88, 269-357. [ Links ]
Kovács, I. (1996)
Gestalten of today: early processing of visual contours and surfaces. Behavioural
Brain Research, 82, 1-11. [ Links ]
Lewin, K. (1936) Principles of topological
psychology (F. Heider e G. M. Heider, trads.). New York : McGraw-Hill. [ Links ]
Leeuwen, Cees van (Org.) (1994) Special issue on
Gestalt. Philosophical Psychology, 7,
nº 2. [ Links ]
Leite, D. M. (1965) Psicologia
e literatura. Conselho Estadual da Cultura. [ Links ]
Martuscelli, C. (1959) Os
experimentos de interrupção de tarefa e a teoria de motivação de Kurt Lewin. Boletim
nº 174 da FFCL da USP. Psicologia nº 5. [ Links ]
Metzger, W. (1974a) Gestalt.
II. Em J. Ritter (Org.), Historisches Wörterbuch der
Philosophie. Band 3 (pp. 547-548). Darmstadt ,
Alemanha Ocidental: Wissenschafliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Metzger, W. (1974b) Gestaltpsychologie. Em J. Ritter (Org.), Historisches
Wörterbuch der Philosophie. Band 3 (pp. 549-550). Darmstadt , Alemanha Ocidental:
Wissenschaftliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Metzger, W. (1974c) Gestaltqualität. Em J. Ritter (Org.), Historisches
Wörterbuch der Philosophie Band 3 (pp. 550-551). Darmstadt , Alemanha Ocidental:
Wissenschaftliche Buchgesellschaft. [ Links ]
Miller, J. G. (1978) Living systems. New York : McGraw-Hill. [ Links ]
Navon, D. (1977) Forest
before trees: The precedence of global features in visual perception. Cognitive
Psychology, 9, 353-383. [ Links ]
Navon, D. (1981) The forest revisited: More on global
precedence. Psychological Research, 43,
1-32. [ Links ]
Osgood, C. E. (1953) Method and theory in
experimental psychology. New York: Oxford University Press. [ Links ]
Penna, A. G. (1987) Nilton
Campos e a divulgação do método fenomenológico e do gestaltismo. História da
psicologia: apontamentos sobre as fontes e sobre algumas das figuras mais
expressivas da psicologia na Cidade do Rio de Janeiro, IV (pp. 16-28). Rio
de Janeiro: ISOP, Texto do centro de pós-graduação em psicologia, n° 7. [ Links ]
Penna, A.G. (1999) Introdução
ao gestaltismo. Rio de Janeiro: Imago. [ Links ]
Ramozzi-Chiarottino, Z.
(2001) Annita Castilho Cabral. Rio de Janeiro: Imago. [ Links ]
Ross, W.D . (1949) Aristotle. London :
Methuen . (Trabalho
original publicado em 1923) [ Links ]
Sander, F. (1930) Structure, totality of experience,
and Gestalt. Em
C. Murchison (Org.), Psychologies of 1930
(pp. 188-204) Cidade: Editora. [ Links ]
Sander, F. (1967)
Experimentelle Ergebnisse der Gestaltpsychologie. Em F. Sander e H. Volkelt
(Orgs.), Ganzheitspsychologie (pp. 73-112). Munique, Alemanha Ocidental:
C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung. (Trabalho originalmente publicado em 1928) [ Links ]
Scheerer, E. (1994) Psychoneural isomorphism:
historical background and current relevance. Philosophical
Psychology, 7, 183-210. [ Links ]
Sekuler, R. (1996) Motion perception: A modern view of
Wertheimer's 1912 monograph. Perception, 25,
1243-1258. [ Links ]
Singer, W. (1995) Time as coding space in neocortical
processing: A hypothesis. Em M. S. Gazzaniga (Org.), The
cognitive neurosciences. Cambridge, MA: MIT. [ Links ]
Skinner, B.F. (1953) Science and human behavior.
New York: Macmillan. [ Links ]
Spillmann, L. (1997) Colour in a larger perspective:
the rebirth of Gestalt psychology. Perception, 26,
1341-1352. [ Links ]
Strube, W. (1974) Gestalt. I.
(1974) Em J. Ritter
(1974), Historisches Wörterbuch der Philosophie. Band
3 (pp. 540-547). Darmstadt, Alemanha Ocidental: Wissenschafliche
Buchgesellschaft. [ Links ]
Teuber, H.-L. (1967) Wolfgang Köhler zum Gedenken. Psychologische
Forschung, 31, X-XI. [ Links ]
Tolman, E.C. (1932) Purposive behavior in animals
and men. New York :
Century [ Links ]
Verstegen, I. (2000) Gestalt psychology in Italy . Journal
of the History of the Behavioral Sciences, 36, 31-42. [ Links ]
Volp, C.M. (2001) De
dança em dança: dos pés aos instrumentos, do corpo à música, da razão ás
emoções. Tese de livre-docência não publicada. UEP, Inst. de Biociências.
Rio Claro, SP. [ Links ]
Watson, J.B. (1929) Psychology from the standpoint
of a behaviorist. Philadelphia, PA: J.B. Lippincott. (Trabalho
original publicado em 1919) [ Links ]
Watson, J.B. (1961) Psychology as the behaviorist
views it. Em T. Shipley
(Org.), Classics in psychology. New
York : Philosophical Library. (Trabalho original
publicado em 1913) [ Links ]
Wehner, T. e Stadler, M. (1994) The cognitive
organization of human errors: a Gestalt theory perspective. Applied
Psychology: An international review, 43, 565-584. [ Links ]
Weiszflog, W. (Org.) (1998) Michaelis. Moderno
dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Comp.
Melhoramentos. (Trabalho original publicado em 1962) [ Links ]
Werner, H. (1956)
Microgenesis and aphasia. Journal
of Abnormal and Social Psychology, 52, 347-353. [ Links ]
Wertheimer, Max (1938a) Gestalt theory. Em W. D. Ellis
(Condensador e tradutor), A source book of Gestalt psychology (pp.
1-11). London :
Routledge & Kegan Paul. (Trabalho original publicado em 1924) [ Links ]
Wertheimer, Max (1938b) Laws of organization in
perceptual forms. Em W. D.
Ellis (Condensador e tradutor), A source book of Gestalt
psychology (pp. 71-88). London :
Routledge & Kegan Paul. (Trabalho original publicado em 1923) [ Links ]
Wertheimer, Max (1945) Productive thinking. New
York: Harper. [ Links ]
Wertheimer, Max (1961) Experimental studies on the
seeing of motion. Em T.
Shipley (Org.), Classics in psychology (pp. 1032-
1089). New York :
Philosophical Library. (Trabalho original publicado em 1912) [ Links ]
Wertheimer, Michael (1979) A
brief history of psychology. Cidade: Editora. [ Links ]
Westheimer, G. (1999) Gestalt theory reconfigured: Max
Wertheimer's anticipation of recent developments in visual neuroscience. Perception, 28,
5-15. [ Links ]
Wundt, W. (1905) Grundriss der Psychologie. Leipzig:
Wilhelm Engelmann (Trabalho original publicado em 1896) [ Links ]
Endereço
para correspondência
Arno Engelmann
Rua da Consolação, 3617 ap. 42
CEP: 01416-001, São Paulo, SP
E-mail: aengelmann@attglobal.net
Arno Engelmann
Rua da Consolação, 3617 ap. 42
CEP: 01416-001, São Paulo, SP
E-mail: aengelmann@attglobal.net
Recebido em 04.12.2001
Aceito em 21.01.2002
Aceito em 21.01.2002
1
Parte do presente artigo é baseado numa conferência que realizei a 28-10-2000
em Brasília, na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia.
2 Endereço: Rua da Consolação, 3617 ap. 42,. CEP: 01416-001 - São Paulo, SP. E-mail: aengelmann@attglobal.net
3 Aparelho com clarões regulares e com espaços para a inserção de representações estáticas que permitem a "ilusão" de percepção de movimento ao se mover rapidamente. O movimento percebido é chamado de estroboscópico.
4 "Percepto" é uma palavra de uso restrito no português do Brasil. Significa o contéudo consciente da percepção (Anjos e Ferreira, 1986/1999, p. 1541; Weiszflog, 1962/1998, p. 1593.) É semelhante ao uso inglês de "percept", que encontramos na obra de Köhler (1938b), por exemplo.
5 Num dicionário comum recente Gestalt "... considera os fenômenos psicológicos como totalidades organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como configurações" (Houaiss, Villar e Franco, 2001, p. 1449.) Na Grande enciclopédia Larousse cultural (1995/1998, p.2703), Gestalt é a "Percepção absorvida como uma totalidade pelo indivíduo, mais do que como uma justaposição de partes".
6 "Gestalten" é o plural em alemão de "Gestalt". Em português é melhor falar em "Gestalten" do que em "Gestalts".
7 Tradução francesa por J. Tricot de Aristóteles (1962) da Política, I, 2, 1253a, 20, retraduzida por mim.
8 Tradução francesa por P. Louis de Aristóteles (1956) da Partes dos animais, I, V, 645a, retraduzida por mim.
9 Reducionismo é a doutrina que, acreditando-se num Universo único, encara a redução total dos acontecimentos complexos nos acontecimentos mais simples e formadores, ainda que seja atualmente uma redução puramente teórica. Por exemplo, a redução iria das sociedades humanas aos indivíduos humanos, iria das células às moléculas, etc.
10 Tradução minha de um trecho traduzido para o inglês na p. 377 de Koffka (1938.)
11 Os Camarões foram colônia alemã de 1884 até1916. A seguir tiveram o
território dividido entre a França e a Grã Bretanha. Atualmente é uma república
independente.
12 Tradução minha do resumo de Köhler (1938a, p. 30.)
13 Tradução minha da citação de Goethe por Köhler (1938a, p. 33.)
14 Na Alemanha, chama-se de república de Weimar o período limitado pelo fim da Primeira Grande Guerra e 1933, estabelecimento da ditadura de Hitler. Weimar é o nome da cidade alemã onde se escreveu a primeira constituição republicana.
15 A primeira escola de Leipzig é constituída por Wundt e seus assistentes.
16 Wundt era, na época, o mais importante psicólogo experimental. Nos anos entre 1858 e 1862 publicou um livro em que conceitua uma "psicologia experimental" que necessariamente deve iniciar-se pela introspecção e que possui dois auxiliares: a história e a experimentação. Em 1879, recebe autorização para fundar o primeiro laboratório de psicologia do mundo na Universidade de Leipzig (Boring, 1929/1950; W. Bringmann, N. Bringmann e Ungerer, 1980.)
17 Taquistoscópio é um instrumento em que os estímulos visuais são apresentados em durações controladas.
18 Enteléquia é um termo grego criado por Aristóteles. Significa a forma que determina a atualização de uma potência. Foi retomado por Driesch.
19 Trecho do artigo de Köhler (1978, p. 145.)
20 Outro trecho do mesmo artigo de Köhler (1978, p. 145.)
21 Na minha teoria há duas consciências: a consciência-imediata, que o indivíduo humano observa imediatamente e por um período não maior do que alguns segundos, e a consciência-mediata, que é parte dos organismos de seres humanos ou não-humanos. Essa consciência-mediata é observada através da mediação da memória – consciência-mediata-do-observador – ou através de diversas mediações na percepção de outros organismos – consciência-mediata-de-outros (Engelmann, 1997, 1998, 2001a.)
22 Resposta de Chuck Farah à minha pergunta num e-mail recebido em 11-4-2000.
23 Tradução minha, feita para a "Introdução" do livro sobre a obra de Köhler (Engelmann, 1978c), de trecho citado em alemão por Teuber (1967.)
2 Endereço: Rua da Consolação, 3617 ap. 42,. CEP: 01416-001 - São Paulo, SP. E-mail: aengelmann@attglobal.net
3 Aparelho com clarões regulares e com espaços para a inserção de representações estáticas que permitem a "ilusão" de percepção de movimento ao se mover rapidamente. O movimento percebido é chamado de estroboscópico.
4 "Percepto" é uma palavra de uso restrito no português do Brasil. Significa o contéudo consciente da percepção (Anjos e Ferreira, 1986/1999, p. 1541; Weiszflog, 1962/1998, p. 1593.) É semelhante ao uso inglês de "percept", que encontramos na obra de Köhler (1938b), por exemplo.
5 Num dicionário comum recente Gestalt "... considera os fenômenos psicológicos como totalidades organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como configurações" (Houaiss, Villar e Franco, 2001, p. 1449.) Na Grande enciclopédia Larousse cultural (1995/1998, p.2703), Gestalt é a "Percepção absorvida como uma totalidade pelo indivíduo, mais do que como uma justaposição de partes".
6 "Gestalten" é o plural em alemão de "Gestalt". Em português é melhor falar em "Gestalten" do que em "Gestalts".
7 Tradução francesa por J. Tricot de Aristóteles (1962) da Política, I, 2, 1253a, 20, retraduzida por mim.
8 Tradução francesa por P. Louis de Aristóteles (1956) da Partes dos animais, I, V, 645a, retraduzida por mim.
9 Reducionismo é a doutrina que, acreditando-se num Universo único, encara a redução total dos acontecimentos complexos nos acontecimentos mais simples e formadores, ainda que seja atualmente uma redução puramente teórica. Por exemplo, a redução iria das sociedades humanas aos indivíduos humanos, iria das células às moléculas, etc.
10 Tradução minha de um trecho traduzido para o inglês na p. 377 de Koffka (1938.)
11 Os Camarões foram colônia alemã de 1884 até
12 Tradução minha do resumo de Köhler (1938a, p. 30.)
13 Tradução minha da citação de Goethe por Köhler (1938a, p. 33.)
14 Na Alemanha, chama-se de república de Weimar o período limitado pelo fim da Primeira Grande Guerra e 1933, estabelecimento da ditadura de Hitler. Weimar é o nome da cidade alemã onde se escreveu a primeira constituição republicana.
15 A primeira escola de Leipzig é constituída por Wundt e seus assistentes.
16 Wundt era, na época, o mais importante psicólogo experimental. Nos anos entre 1858 e 1862 publicou um livro em que conceitua uma "psicologia experimental" que necessariamente deve iniciar-se pela introspecção e que possui dois auxiliares: a história e a experimentação. Em 1879, recebe autorização para fundar o primeiro laboratório de psicologia do mundo na Universidade de Leipzig (Boring, 1929/1950; W. Bringmann, N. Bringmann e Ungerer, 1980.)
17 Taquistoscópio é um instrumento em que os estímulos visuais são apresentados em durações controladas.
18 Enteléquia é um termo grego criado por Aristóteles. Significa a forma que determina a atualização de uma potência. Foi retomado por Driesch.
19 Trecho do artigo de Köhler (1978, p. 145.)
20 Outro trecho do mesmo artigo de Köhler (1978, p. 145.)
21 Na minha teoria há duas consciências: a consciência-imediata, que o indivíduo humano observa imediatamente e por um período não maior do que alguns segundos, e a consciência-mediata, que é parte dos organismos de seres humanos ou não-humanos. Essa consciência-mediata é observada através da mediação da memória – consciência-mediata-do-observador – ou através de diversas mediações na percepção de outros organismos – consciência-mediata-de-outros (Engelmann, 1997, 1998, 2001a.)
22 Resposta de Chuck Farah à minha pergunta num e-mail recebido em 11-4-2000.
23 Tradução minha, feita para a "Introdução" do livro sobre a obra de Köhler (Engelmann, 1978c), de trecho citado em alemão por Teuber (1967.)