sábado, 6 de agosto de 2011

Bate-Papo com Vicente Cassepp Borges

Professor Adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados, Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília. Temas de Pesquisa: Estatística aplicada à Psicologia, Psicometria, Avaliação de construtos relacionados ao Amor.


Vicente Cassepp em seu gabinete (FCH)



CAMPUS II (local de trabalho)



Skinner Café - O que  levou você a ter como objeto de estudo o amor?

Cassepp - Primeiro, o amor é um sentimento que me afeta e afeta a maioria das pessoas.
Bom, mas essa história começa quando eu trabalhava UFRGS e era (estudante) bolsista de iniciação científica, o esposo da minha chefe, Sílvia Helena Koller veio de um congresso no Peru e assistiu a uma palestra do Sternberg, (Robert J. Sternberg)  e ele voltou bastante empolgado já que o Sternberg é um dos grandes nomes da área. Foi quando ele me falou sobre a teoria, eu comecei a me interessar e a partir daí escolhi esse tema para o trabalho de conclusão de curso da faculdade (Psicologia). O trabalho ganhou um prêmio da Sociedade Interamericana de Psicologia como o melhor trabalho para estudantes de graduação e isso me incentivou muito, e teve um papel muito importante para eu continuar nessa área.

Como andam as pesquisas nessa área? Há muitas pessoas trabalhando nessa vertente da psicologia?

O estudo científico do amor começou na década de 70 com o trabalho do Zwick Rubin, e tratando-se de sentimentos mesmo sendo de setenta considero o trabalho bem recente pela sua relevância. Já no Brasil, começou a surgir trabalhos sobre o assunto na última década, mesmo assim, continua sendo uma área recente de trabalho. As pessoas que estão estudando o amo na sua maioria são jovens que estão apresentando dissertações de mestrado e teses de doutorado, acho que essa área tem muito a crescer.



Professor Vicente, Skinner tratava o amor como uma relação de contingências de reforçamento e Freud parece ter direcionado seus estudos ao sofrimento que as relações em sociedade com o outro causavam no individuo. Tomando esses e outros autores, seria possível definir o que é o amor?

O amor é muito difícil de se definir, e cada um que se propõe a fazer uma teoria sobre ele tem uma definição diferente, a definição que eu mais encontrei seria a de "uma atração por outra pessoa" , mas, não acho que essa definição seja nem um pouco boa. Eu pessoalmente gosto da teoria de Sternberg que é a que eu trabalho, onde ele vai definir o amor em três vértices de um triângulo: Intimidade, Paixão e a Decisão do Compromisso.


 A intimidade seria essa vontade de estar próximo, de estar junto e de cumplicidade. A paixão envolve toda a questão da sexualidade e do romantismo que pode haver entre duas pessoas, e o Compromisso tem haver com a racionalidade de que eu quero estar com essa pessoa e que eu quero abrir mão de outras coisas por essa relação até mesmo oficializar a relação num casamento. Então o amor seria uma conjunção dessas três dimensões, se entrelaçam e se somam para formar um sentimento “completo”. Mas veja, não necessariamente há necessidade dos três fatores para se definir ou configurar o amor, mas enfim, esses seriam componentes básicos do amor.


Em suas pesquisas coletando dados sob esse sentimento, seria possível falar em plenitude no amor ou constância desse sentimento? Já que algumas pesquisas reduzem-no a processos neurais com tempo e intensidade definida.

Bom, cada pessoa sente de uma maneira e o meu estudo sobre o amor não consegue responder essa questão da duração do sentimento. Eu fiz um levantamento transversal no tempo e verifiquei seis messes depois, me parece um curto espaço de tempo para responder essa pergunta, mas, encontramos casais de idosos que mantém um nível elevado de amor mesmo depois de um longo período vivendo juntos. Além do que, existem estudos que mostram técnicas para manter esse estudo em longo prazo. Um exemplo seria o de passar um tempo olhando nos olhos de quem tu ama, andar de mãos dadas e outras coisas mais nesse sentido. Agora, sobre plenitude no amor, que eu me lembro e posso falar são de estudos da neurociência que mostram que o cérebro sofre varias alterações tanto a níveis hormonais, como da produção de neurotransmissores em uma pessoa apaixonada.

O amor ao que parece merece mais atenção dos estudos em psicologia, não?  

Sim, sim, merece maior atenção da psicologia, nos primórdios da construção dessa ciência com a tentativa de estabelecê-la como uma área científica procurou-se estudar os estados mentais que não envolvessem as emoções porque acreditavam que onde entra emoção foge-se da cientificidade. Eu acho que é possível estudar emoções de maneira científica com todo rigor metodológico, acho que essa é uma tendência de estudo para a psicologia e parece que sempre tentamos fugir das emoções para sermos científicos, mas as emoções são o estado humano mais relevante para a psicologia.

Sei que você não trabalhou com psicossomática, mas qual a importância de uma vida carente desse sentimento ou de uma vivência em excesso desse sentimento (amor)?

Sim, há muitas doenças relacionadas ao amor e hoje existe uma discussão para tratar o amor patológico como um novo transtorno psiquiátrico, também pesquisas indicam que drogas podem aumentar ou diminuir o sentimento de amor, mas, essas ainda estão em fase de testes e não foram liberadas para o mercado.

Prof: Vicente e a acadêmica Daniela Antoniassi
Vicente finalizando o tema do amor, muita coisa é produzida e vendida sobre o assunto e há até filmes que tratam da questão (fazendo alusão ao filme  “Hitch - conselheiro amoroso” 2005 com Will Smith). Esse material tem alguma validade ou fica apenas no campo da “auto-ajuda”?

Os livros de auto-ajuda fogem do que é científico, mas podem até ser um recurso já que nem todo o conteúdo dos livros pode ser negado cientificamente, tampouco validado. Eu desconheço uma pesquisa que trate desse assunto (auto-ajuda) e isso pode até ser tema de estudos, mas é preciso discutir melhor a questão da “auto-ajuda”. Muitos são os relatos de pessoas que dizem fazer uso desse material e foram ajudados.


Mudando um pouco de assunto, o que você está achando da universidade (UFGD)?

Gostei da Universidade. O campus é novo, bem diferente de algumas federais (universidades) que estão meio sucateadas, eu achei a UFGD bem interessante.



















Falando em universidade como foi a sua graduação lá no sul?

Eu fiz minha graduação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2006) em São Leopoldo-RS, e fui bolsista de iniciação científica na UFRS. Como tinha dito, trabalhei quatro anos com a professora Sílvia Helena Koller e depois eu fui para Brasília fazer mestrado em Ciências do Comportamento, fiquei seis meses e troquei por Psicologia Social do Trabalho nas Organizações. Para trabalhar com testes psicológicos troquei de programa de pós-graduação e fiquei em um mestrado que tinha progressão direta para o doutorado. Passei em vários concursos, e nesse para Docente da UFGD, ainda como estudante de doutorado.

Manha de geada  no campus II

















Cassepp e Hilton Caio




Parece ter sido bem difícil essa caminhada. Que conselho você daria para um estudante que quer partir futuramente para um mestrado e doutorado?

Olha a minha pós-graduação foi bastante corrida, não teve descanso. O conselho é fazer tudo enquanto se é jovem, tem que correr muito e não deixar pra depois.

Quanto aos testes psicológicos que é sua especialidade, quais os planos para o nosso curso de psicologia?

Bom, eu estou na fase de aquisição dos testes (licitação) e da bastante trabalho essa etapa. Mas com a chegada do material teremos condições ideais para trabalhar a disciplina de avaliação psicológica. Quanto à pesquisa, estou trabalhando na formulação de um novo instrumento (teste) para a avaliação da personalidade do amor, ou seja, as diferentes formas de como as pessoas podem amar. Já em sala de aula pretendo repetir a experiência que eu tive quando dei aula na UnB de avaliação psicológica, pretendo focar a disciplina na teoria da psicometria que é na verdade o que habilita a pessoa a aplicar qualquer tipo de teste. Não concordo em ensinar apenas o psicólogo a aplicar o teste, parece-me um conhecimento muito “pobre”, o indivíduo tem que saber montar o teste, construir um, isso sim faz a diferença.


Cassepp e sua Tese

Faculdade de Ciências Humanas (FCH)

















O Prof. Dr.Vicente Cassepp participará da 3º semana acadêmica de psicologia da UFGD ministrando o tema: “Psicologia do amor: Um novo campo de atuação para o psicólogo”
Quinta-feira (tarde) 13h - 16h, Câmara Municipal Dourados-MS



CLICK NA IMAGEM PARA MAIS INFORMAÇÕES 

VÍDEO 


Este vídeo apresenta diversas teorias sobre o Amor na Psicologia, como a Teoria Triangular do Amor de Sternberg e a Teoria das cores do Amor de John Allan Lee. Base da tese de doutorado de Vicente  Cassepp.