Paulo
R. S. Ferreira1 & Júlio C. C. de Rose
Universidade Federal de São Carlos)
A investigação da probabilidade (ou tendência) dos organismos
agirem de determinada forma em determinadas situações, é uma das maiores
preocupações de B. F. Skinner ao delinear o seu programa
de análise e interpretação do comportamento (Skinner, 1953a). Estão incluídos nesse programa
tanto os seus trabalhos relacionados com a busca de regularidades em situações rigidamente controladas (e.g., Skinner, 1932a,
1932b, 1932c,1933a, 1933b, 1933c, 1933d, 1933e, 1938/1991; Ferster & Skinner, 1957/1997), como aqueles envolvidos com a interpretação do comportamento ocorrendo em situações complexas do dia-a-dia (Skinner, 1953b/1965, 1955, 1956, 1957, 1961, 1966a, 1966b, 1968). Sendo assim, é sugestivamente produtivo
deter-se na sua
concepção a respeito dos tipos de
processos responsáveis pela probabilidade (ou “força”, como veremos mais adiante) das ações dos organismos. Inicialmente, vejamos o que diz Skinner
a respeito da impor tância
da noção de força (ou probabilidade) ao tratar do comportamento
verbal ou do comportamento em geral:
The
strength of a reflex at any given time is a function of all the operations that affect it. The principal task of a science
of behavior is to isolate
their separate effects and to establish their functional relationships with the strength. (Skinner,
1938/1991, p. 25)
The
task of an experimental analysis is to discover
all the variables of which probability of response is a function. It is not an easy
assignment, but is at least
an explicit one. (...)
(1966a, p. 214])
(...)
Our basic datum is not the occurrence of a
given response as such, but the
probability that will occur
at a given time. Every verbal
operant may be concei- ved of as having under specified circumstances an assignable probability of emis-
sion – conveniently called
its “strength” (...) (Skinner, 1957,
p. 22)
A força da resposta
é o dado básico da análise experimental do comportamento conce- bida por Skinner e trata-se, portanto,
de uma noção fundamental em sua proposta de explicação do comportamento. É disso que tratará o presente artigo:
Será nosso objetivo exclusivo apresentar a noção de força da resposta
operante tal como formulada por B.
F. Skinner. Há, na Análise do Comportamento, outras
concepções de força da resposta. Poderíamos citar, dentre tantas outras, as formulações de Herrnstein (1970) e de Nevin
(1974). No entanto, consideramos
que a concepção skinneriana, dada a sua complexi-
dade e importância, exige uma investigação específica
e detalhada que seja suficiente para demandar um texto como este. De outra forma, incorreríamos no risco de uma apre- sentação superficial. Mesmo assim, esperamos
que a presente investigação, ao elucidar
única e exclusivamente a noção de força da resposta
operante empregada por Skinner, possa
colaborar com futuras
tentativas de comparação mais aprofundadas entre
diferen- tes concepções de força da resposta na Análise do Comportamento.
Antes
de
prosseguirmos,
é
importante que façamos uma breve explicitação
do método empregado na elaboração deste artigo. O procedimento
de investigação conceitual consistiu
na identificação, na obra skinneriana, dos argumentos
considerados relevantes para a definição da noção de força da resposta,
tal como empregada pelo autor em estudo.
Mas não consideramos que a interpretação obtida
a respeito desse aspecto da obra
de B. F. Skinner seja a única possível.
A tarefa de análise textual não consiste
em descobrir exatamente o que o autor quis dizer (Abib, 1996), mesmo porque isso seria impossível segundo a sua própria concepção
(Skinner, 1957), mas sim na elaboração de uma dentre uma diversidade de construções interpretativas possíveis. Dito isso,
vamos à interpretação proposta
pelo presente artigo.
A FORÇA DA RESPOSTA OPERANTE COMO OBJETO DE ESTUDO CIENTÍFICO
Primeiramente, devemos
saber que Skinner
considera dois tipos
principais de comporta- mento, o respondente e o operante2. Segundo o autor, o respondente está relacionado com o tipo de ação que tradicionalmente denominamos de “reflexa” (Skinner, 1938/1991, pp.
20-21) e as topografias das suas respostas
são herdadas filogeneticamente, não
sofrendo modificações significativas no decorrer da história do indivíduo. O operante, por outro
lado, seria, segundo Skinner, adquirido ontogeneticamente, no
decorrer da história indi-
vidual. O operante diferencia-se do respondente, segundo
Skinner, também por possuir um grau superior de flexibilidade e complexidade, o que faria dele um comportamento
mais importante no repertório comportamental humano (Skinner, 1953b/1965, p. 59).
Skinner afirma
que o termo “comportamento operante”, ou simplesmente “operan- te”, abrange os tipos de comportamentos que são afetados
pelas múltiplas relações que mantêm com determinados tipos
de estímulos (Skinner, 1957, p. 20). O comportamento operante é a relação funcional entre eventos do ambiente (estímulos) e do organismo (respostas), na ordem:
estímulo discriminativo, resposta
e estímulo reforçador (Skinner,
1957, p. 31, p. 81; 1963, p. 506). Skinner não define o comportamento como a ocorrên- cia singular de estímulo e resposta
relacionados, mas sim como classe de ocorrências
relacionadas (Hefferline,
1947, p. 02; Skinner, 1953b/1965, p. 65; 1987, p. 87). Trata-se, segundo o autor, de classes definidas por determinadas propriedades físicas que descre- vem a relação funcional entre os estímulos e respostas envolvidos (Skinner, 1957,
p. 177;
1931/1999, p. 497, p. 503; 1979, p. 67, p. 295). Nunca é demais dizer, as respostas
de uma classe diferem umas das outras, assim como os estímulos de uma classe (Skinner,
1938/1991, p. 37), mas compartilham as mesmas propriedades que delimitam a classe,
o que
permite falar de ocorrências diferentes como fazendo
parte de uma mesma classe (Skinner, 1935a/1999, 1953b/1965, p. 66).
O operante
é
também
definido por um conjunto de contingências (Skinner,
1953b/1965, pp. 84-85; 1969, p. 131), de relações
temporais entre os estímulos e respos-
tas incluídos nas classes. Segundo Skinner, é o conjunto de contingências reforçadoras que constrói, com o acréscimo histórico
de ocorrências, as classes de estímulos
e de respostas envolvidas em uma determinada relação funcional. Diz-se de um acréscimo histórico de ocorrências porque a história
de reforçamento que determina o operante
constitui-se de todas as ocorrências a ele relacionadas. São, portanto, as contingências
2)
Há ainda o chamado
“comportamento liberado”, mas Skinner considera que a sua importância está restrita aos organismos de outras espécies
animais, diferentes do homem
(Skinner, 1975, 1984).
reforçadoras que estabelecem e mantêm as propriedades definidoras das classes de estí- mulos discriminativos e de respostas
operantes (Skinner, 1937/1999, p. 536).
Como exemplo
desse tipo de contingência, temos as relações
entre as palavras constituintes do presente texto (estímulos discriminativos), as respostas características
de leitura, emitidas pelo leitor sob o controle de tais palavras, e os eventos
(estímulos re- forçadores) que, seguindo-se às referidas respostas de leitura, modificam a
probabilidade de respostas semelhantes ocorrerem sob o controle de palavras semelhantes no futuro. A partir da noção de classes, podemos afirmar que as palavras
são semelhantes por apre- sentarem, por exemplo, propriedades comuns correspondentes às suas formas
geométri- cas características. Da mesma forma, as respostas
de leitura, ou respostas textuais,
como denominaria Skinner (1957,
pp. 65-69), apresentam propriedades físicas em comum que distinguem, por exemplo, uma palavra
proferida de outra.
Segundo Skinner
(1953b/1965), é devido ao reforçamento operante que as classes
de estímulos e de respostas
apresentam uma correlação consistente entre si. O reforça- mento estabelece e mantém a relação entre classes de estímulos
e respostas operantes e essas, por sua vez, são definidas por conjuntos de propriedades físicas.
Isso permite, no tratamento
da denominada contingência de três termos investigar, sistematicamente na relação entre os dois primeiros
termos, estímulo discriminativo e resposta (Skinner,
1937/1999, p. 537), as várias combinações de propriedades de um e outro lado dessa
relação (Skinner, 1957, p. 117) e os correspondentes
efeitos do reforçamento sobre a ocorrência de respostas.
A análise experimental do comportamento,
tal como entendida por Skinner (1966a), corresponde ao isolamento experimental de uma pequena parte do repertório
individual, com o fito de se obter, dessa maneira,
o máximo de controle possível
a respei- to das variáveis responsáveis pela probabilidade das respostas em foco (Skinner, 1953a;
1953b/1965, p. 20). A análise experimental idealizada por Skinner
consiste, portanto, no arranjo deliberado de variáveis que tenha como produto final
a possibilidade de uma inferência relativamente acurada da sua relação com a probabilidade das respostas es-
pecificadas (Skinner, 1953b/1965, p. 48). O resultado bruto desse empreendimento é a formulação de proposições a respeito de relações funcionais de probabilidade entre
eventos com determinadas propriedades que pertençam, conseqüentemente, a determi- nadas classes.
Skinner, seguindo essa terminologia, ao se referir
à probabilidade de ocorrência de uma
resposta operante utiliza
o termo “força” (“strength”).
Respostas fortes são aque-
las com alta probabilidade de ocorrência e respostas fracas,
por seu turno, são aquelas com baixa probabilidade de ocorrência (Skinner, 1953b/1965, p. 65, 71, 77). Segundo o
autor, há, sempre, por conta de todas as contingências
envolvendo as ações de um determinado organismo, uma complexidade de respostas disponíveis em seu repertório,
cada qual com sua força correspondente (Skinner, 1953b/1965). Nesse sentido, podemos
também dizer, de uma forma mais geral,
que há classes de respostas (operantes) mais for-
tes do que outras, em um dado momento de existência do organismo.
Ademais, segundo Skinner, na medida
em que um organismo pode apresentar simultaneamente apenas um número limitado
de respostas, temos que em sua concepção
a força de respostas é neces-
sariamente uma noção a respeito
da relatividade de uma resposta com relação a outras
no mesmo repertório, no que concerne ao combate pelas suas respectivas ocorrências (Skinner, 1950,
p. 212).
Skinner reconhece
que algumas respostas
são realmente incompatíveis e as suas respectivas forças interferem umas com as outras substancialmente, o que pode levar à anulação de ambas ou à emissão da resposta
mais forte (Skinner, 1953b/1965, 1957, p. 24), ou até mesmo a uma combinação de fragmentos de ambas. Outras
respostas são quase independentes umas das outras, o que faz com que as suas forças sejam
igualmente independentes umas das outras. Mas o fato de se referirem a um mesmo organismo
e de utilizarem, conseqüentemente, um mesmo sistema efetor para execução,
faz com que duas respostas quaisquer
tenham as suas forças sempre
relativas uma em relação à outra.
Mesmo respostas que podem ser emitidas simultaneamente interagem, devido à relação,
ainda que mínima, de força existente entre elas.
Segundo Skinner (1935b/1965,
pp. 218-219), se duas respostas
são semelhantes, no sentido
de compartilharem propriedades definidoras de uma mesma classe,
diferen- ciando-se apenas pelas suas respectivas magnitudes, é possível
ainda que as suas forças conflitantes levem à emissão
de uma resposta intermediária, tendendo a se assemelhar
mais com aquela que é mais forte. Skinner denomina esse caso como aquele em que a
resposta emitida é o
resultado da “soma algébrica” da topografia das
duas respostas for- talecidas3 (Skinner, 1953b/1965).
Por outro lado, conforme
a concepção skinneriana, duas respostas que são competi- tivas, no sentido de se excluírem
mutuamente nas suas respectivas execuções, e que tam- bém
apresentam topografias muito diferentes, não podem se somar algebricamente. A soma das suas
forças leva, então, à emissão
da resposta prepotente – a que possui maior força. É esperado, também,
que a emissão de tal resposta tenha a sua topografia alterada
pela força da resposta concorrente (Skinner, 1953b/1965, pp. 220-221). Há, de acordo
3)
É importante, contudo, ressaltar que não se trata de conceber uma relação ponto a ponto entre contínuos
de estímulos discriminativos e de respostas operantes. Alguns estudos empíricos
têm mostrado, por exemplo,
que as curvas típicas de
generalização de estímulos não envolvem necessariamente a emissão
de respostas com magnitudes intermedi- árias, podendo
ser resultantes simplesmente da distribuição diferencial das diferentes
formas e magnitudes de respostas previamente estabelecidas (Migler, 1964; Migler & Millenson, 1964; Stoddard & Sidman, 1971). O caso considerado
por Skinner é diferente, pois envolve a ocorrência de uma única resposta (excluindo a possibilidade de oscilação
entre diferentes respostas) e o fortalecimento preciso de duas magnitudes diferentes de uma mesma
forma de resposta devido ao papel
desempenhado pelo conjunto total de variáveis
independentes, e não apenas pelo tipo de variável enfocada nos estudos que investigam a formação
das curvas de generalização de estímulos.
consiste simplesmente na emissão de uma forma acabada e bem definida de resposta. O resultado é a variabilidade da forma da resposta em função da sua força,
e podemos falar dessa variabilidade também em termos de classes. A variabilidade de respostas consiste, portanto, no distanciamento topográfico da
resposta com relação
à especificação da clas- se
original e correspondente aproximação, em termos da sua topografia, de outras
classes de respostas
concebíveis em um mesmo repertório4.
FORÇA DE RESPOSTA E FLUXO
COMPORTAMENTAL
A partir
da formulação skinneriana, torna-se importante ainda levarmos em conta
que o fluxo comportamental5 é ininterrupto. Ainda que o dado comportamental seja em alguma
medida arbitrariamente tomado como descontínuo, os processos que visa caracterizar são, como supõe Skinner, contínuos:
(...)
To record the beginning and end
of learning or a few
discrete steps will not suffice, since a series of cross-sections will not give complete
coverage of a conti- nuous process. The dimensions of the change
must spring from the behavior itself; they must not be imposed by an external criterion of completeness. (...) (Skinner,
1950, p.
196)
De acordo
com Skinner, o comportamento do organismo
não corresponde a uma suces-
são de momentos em que começa ou para de responder.
Em uma palavra, o organismo
nunca cessa de responder. Aparentes exceções
à regra, como dormir ou simplesmente
não fazer nada são também ações e são, dessa maneira, ocorrências também correspon-
dentes às suas forças relativas ao repertório como um todo. Não é difícil entender
o por- quê de Skinner (1953b/1965,
p. 221) empregar esse tipo de suposição.
Primeiramente, vemos que qualquer
caso específico de “não responder” corresponde na verdade a um responder incompatível:
4) Apenas podemos
adiantar, por ora, que essa interação entre classes se dá “via” propriedades. Pretendemos desenvolver essa argumentação em um artigo a ser redigido posteriormente, que tratará da relação entre ocorrências e classes comportamentais.
5) Apesar de não ter sido de fato empregada
por Skinner, adotaremos
a expressão “fluxo
comportamental” por
identificarmos nela uma forma conveniente para a indicação do aspecto “fluídico”, “contínuo”, do fenômeno comporta- mental. Coincidentemente, Schoenfeld e Farmer (1970) também empregam a
expressão “fluxo
comportamental”, o que sugere a adequação interpretativa da expressão no que diz respeito ao texto skinneriano. É sugestiva, ainda,
a influência de W. James sobre o pensamento skinneriano, inclusive na concepção de fluxo da consciência, apresentada em seu Principles
of Psychology (1890).
(...)
We
are likely to suppose that forgetting means that the probability
of keeping the appointment has reached zero
or has passed through zero
to a negative value. But we need not deal with any behavior called
“not keeping the appointment.”
One response has simply lost out to another in the matching
of probabilities. (...) Forgetting
is ordinarily attributed to an
inner organism which “represses”
the behavior of keeping
the appointment, but the only repressing
agent is the incom- patible response. (Skinner, 1953b/1965, p. 222)
O autor mostra que desprezamos a especificação de determinadas respostas como “não fazer nada” ou “fazer outra coisa” porque se referem a comportamentos cuja única im- portância no momento reside no fato de competir com o comportamento
de interesse. Mas, para entender tal suposição skinneriana, basta imaginar que, se tomássemos o fluxo comportamental como algo que se interrompesse, teríamos
que explicar ainda porque ele cessa, e também porque ele recomeça.
Exemplificando, teríamos
que explicar por que
uma pessoa dorme e por que acorda
(muito embora saibamos
que uma pessoa geralmente
continua respondendo de outras formas
enquanto dorme). Nesse caso,
teríamos de lidar com a força
desse cessar e desse recomeçar
do fluxo comportamental, o
que equivaleria a tratar
de uma concepção desse
cessar e desse recomeçar como comportamento também.
É igualmente importante constatar que, segundo Skinner, o momento da ocorrência
da resposta não tem duração:
Probability
of response, as well as prediction
of response, is concerned with the
moment of emission. This is a point
in time, but it does not
have the temporal dimension of a latency. The
execution may take time after the response has been initiated, but the moment of occurrence has no duration. (Skinner, 1950, p. 198, grifo nosso).
Por outro lado, segundo
Skinner, a duração de uma resposta
é uma das muitas dimensões disponíveis ao tratamento científico do
comportamento (Skinner, 1953b/1965). Trata-se,
portanto, de diferenciar “ocorrência de resposta” de “resposta”. A resposta apresenta propriedades, relacionadas às suas dimensões
físicas, incluindo a sua duração
(Skinner,
1938/1991). Ao contrário, a ocorrência da resposta é algo pontual,
e não algo que se estende e que contenha,
em si, uma dada duração.
Skinner também esclarece
em detalhe esse importante aspecto do comportamento operante ao interpretar o que seria a “latên- cia” da resposta operante
em termos de aspectos topográficos
sujeitos à especificação operante:
It [the moment
of occurrence] cannot, in fact, be shortened or lengthened. Where a latency appears to be forced toward a
minimal value by differential reinforce-
more energetic behavior or the
faster execution of behavior after it begins,
it is meaningless to speak of differentially
reinforcing responses with short or long latencies. What we actually reinforce differentially
are (a) favorable waiting
behavior and (b) more vigorous responses. When we ask a subject to respond “as soon as possible” in the human reaction-time experiment, we essentially ask him (a) to carry out as much of the response as possible without actually reaching
the criterion of emission, (b) to do as little else as possible, and (c)
to respond energetically after the stimulus
has been given. This may yield a minimal measu-
rable time between stimulus and response,
but this time is not necessarily a basic
datum nor have our instructions altered it as
such. A parallel interpretation
of the differential reinforcement of long “latencies” is required. This is
easily establis- hed by inspection. In the
experiments with pigeons
previously cited,
preliminary behavior is conditioned that postpones
the response to the key until the proper time. Behavior that “mark time”is usually conspicous. (Skinner, 1950,
p. 198-
199, grifo nosso)
Com o objetivo de elucidar esse aspecto da proposição skinneriana, poderíamos reali- zar uma analogia com o que acontece quando encontramos
alguém no dia-a-dia. Não
encontramos tal pessoa durante certo tempo, mas sim em um
momento pontual (em um instante circunscrito), ainda que o encontro
dure horas. O mesmo se dá na diferenciação
entre ocorrência de resposta e essa mesma resposta em termos das suas dimensões. Sen- do assim, a ocorrência da resposta não dura, de tal modo que, no intervalo dessa
duração, fosse concebível uma espécie de vácuo funcional, o tempo gasto pela emissão da res- posta existindo como um lapso do fluxo
comportamental que Skinner
concebe como a sucessão ininterrupta das ações do organismo. O importante a ressaltar aqui é que não há, no fluxo comportamental, vácuos funcionais, intervalos de tempo em que as forças das respostas fiquem em suspensão. Se há uma duração do comportamento, ela corresponde
de forma inextrincável ao fluxo comportamental,
e não
à soma do tempo gasto com a emissão
de cada uma das respostas que se sucedem.
Segundo Skinner, por meio da noção de força da resposta, são agrupados os efeitos
convergentes das diferentes variáveis
independentes do comportamento. Skinner não utiliza “força”
como correspondendo a uma atribuição de realidade ou função a um nível diferente de observação que aquele dos estímulos e das respostas
(Skinner, 1950). Ao contrário, a definição de força como efeito das variáveis independentes sobre a proba- bilidade de resposta é simplesmente a inferência do status de
uma determinada rela- ção funcional, realizada em uma terminologia fisicalista a partir de eventos
observáveis (Skinner, 1953b/1965, p. 36).
Segundo o autor, a força da resposta
é, realmente, o dado básico
da análise do comportamento (Skinner, 1953a).
Ainda que as proposições acerca da força da resposta não sejam obtidas com a observação
direta de eventos singulares,
mas ao invés, com a observação da freqüência, de conjuntos de eventos semelhantes ocorrendo em um perío-
do determinado, a força da resposta tem o seu referente físico
e não se refere, portanto,
a uma coisa ou entidade
diferente do mundo físico
(Skinner, 1950, p. 210). Para Skinner,
a força da resposta pode, ainda, ser considerada simplesmente uma forma útil de se re-
presentar a freqüência de
respostas sem que se identifique, desse modo, frequência com probabilidade. Nesse sentido,
poderíamos falar, em termos skinnerianos, da transferên-
cia de um conhecimento de freqüências para o
de probabilidades de casos
individuais:
(...)
appeal must be made to frequency
of occurrence in order
to establish the notion of strength. The strength of an
operant is proportional to its frequency of occurrence, and the
dynamic laws describe
the changes in the rate of occurren-
ce that are brought about
by various operations performed upon the organism. (Skinner, 1938/1991, p. 21)
É importante ressaltar também que para Skinner
a magnitude da resposta ou as intensi- dades dos estímulos envolvidos não definem a força da resposta operante
– são aspectos que podem ou não ser necessários
à descrição dos eventos de uma relação operante.
Ademais, segundo o autor, a duração
dos eventos ambientais, os estímulos, também
não definem a força da resposta. A duração de tais eventos,
como a duração das respostas, é, no caso do operante, mais uma característica sujeita às especificações
das relações fun- cionais e, portanto, à força operante.
VARIÁVEIS QUE DETERMINAM
A FORÇA
Tendo tratado,
pelo menos preliminarmente, da noção de força da resposta tal como
empregada por Skinner, podemos
finalmente tratar daquilo que constitui o objeto central deste artigo, que são as variáveis
que a determinam (Skinner, 1938/1991, p. 46). São os
determinantes dos denominados processos comportamentais, envolvendo eventos aos quais as respostas estão funcionalmente relacionadas. Além das variáveis independentes já citadas, os estímulos
discriminativos e os estímulos
reforçadores, temos também as
operações motivacionais e emocionais. Doravante, nos ocuparemos da relação entre
tais variáveis e a força da resposta, procurando subsidiar um entendimento da proposta de B. F. Skinner
para a sua interpretação das
modificações
que sofrem a tendência de ação.
Segundo Skinner, a respeito dos seus efeitos
sobre a força de resposta,
os processos comportamentais podem tomar apenas uma de duas possíveis direções.
Skinner fala do fortalecimento (“strengthening”) e do enfraquecimento (“weakening”) de respostas. For-
talecemos uma resposta se a tornamos
mais provável e, do contrário, a enfraquecemos se a tornamos menos provável. Nenhum processo que afete a probabilidade de ocorrência
de respostas escapa à classificação a um desses casos.
De acordo com o autor, dada a especificidade dos processos
de fortalecimento e en-
fraquecimento, é sempre
importante indicar qual a resposta
de cuja força estamos tratan- do. É verdade que uma determinada variável independente pode alterar a força de várias
classes de respostas (Skinner, 1953b/1965,
pp. 205-209), como é o caso, por exemplo,
das operações emocionais e motivacionais (Skinner, 1953b/1965, pp. 141-170). Mas é
certo que nunca uma variável independente pode alterar igualmente a força de todas as respostas de um determinado repertório, pois o fortalecimento define-se justamente pela distinção que produz entre as probabilidades de uma parte do repertório com relação ao restante (Skinner, 1938/1991,
p. 227; 1987, p. 85, p. 94). Sendo assim, segundo a proposição skinneriana, uma alteração
idêntica e simultânea em todo o repertório do organismo é inconcebível. Além disso, para Skinner
o fortalecimento de uma resposta
é sempre dependente do enfraquecimento
concomitante de pelo menos outra resposta, e vice-versa. Podemos, pelo menos
metaforicamente, falar de uma precisa rede de influên-
cias fortalecedoras e enfraquecedoras.
Isso não significa que Skinner considere o enfraquecimento da resposta como fru-
to da
possibilidade de uma mudança definida
como probabilidade negativa
da resposta (Skinner, 1938/1991, p. 111; 1953b/1965, p. 222). Ao contrário, a definição skinneriana de enfraquecimento apóia-se justamente na probabilidade positiva
que é o fortalecimen- to de outra resposta.
Segundo Skinner, fala-se em enfraquecimento da resposta apenas pela facilidade que proporciona ao apontar o efeito do fortalecimento
de uma resposta sobre a probabilidade daquelas com as quais compete.
Em um sentido estrito, o processo
como um todo se define
apenas pelas relações
de fortalecimento envolvidas6 (Skinner,
1953b/1965, pp. 221-222). De acordo com o autor, o que acontece,
ocasionalmente, é que a resposta cuja emissão nos preocupa
tenha a sua força enfraquecida pelo fortale- cimento de uma resposta não considerada ou mesmo
não identificada. Deve ficar claro, portanto, que, ao tratarmos
da definição skinneriana de enfraquecimento de uma res- posta, devemos sempre visar a especificação do processo de fortalecimento da resposta
competitiva.
Daí depreende-se uma das vantagens terminológicas de se falar em “fortalecer” e “enfraquecer”, ao invés de se tentar cunhar
outros termos que correspondam às mudanças em termos de probabilidade (Skinner, 1987,
p. 26). Convém,
nesse momento, apresentar algumas citações skinnerianas a respeito da adoção do termo
“força” (“strength”):
6)
É interessante notar, por exemplo,
que a interpretação skinneriana dos efeitos da punição baseia-se totalmente na noção de fortalecimento da resposta (Skinner, 1953b/1965, pp.
182-193).
“It is possible that a
word is lacking because behavior
is often regarded as
a mere sign or symptom. (…)
(…) But there seems
to be no word, metaphorical or otherwise, for strength itself.
(...) Strength is a basic concept
in the analysis of operant
behavior, but there is no good word for it in everyday English
(…) (Skinner, 1987, p. 26)
Segundo Skinner, “acrescer” ou “retirar” probabilidades são, nesse sentido,
expressões muito bem substituídas pelas expressões “fortalecer” e “enfraquecer”
respostas de de- terminado tipo, ou forma. É por meio desse artifício terminológico que Skinner trata
da interpretação de casos que envolvem
uma diversidade de fontes de probabilidade,
denominando-as de “fontes de força” (Skinner, 1953b/1965, Cap. XIV; 1957, Cap. IX,
X). A única ressalva que se faz a respeito
da terminologia de fortalecimento é a de que a força
da resposta operante
não tem, como no caso do respondente, uma relação essencial com a energia, ou magnitude, da resposta (Skinner, 1957, p. 25). Como
mostra Skinner (1957, pp. 23-28), não só a magnitude
da resposta operante, mas também a sua veloci-
dade, repetição e freqüência total são fatores
de importância limitada na inferência da força
da resposta.
De acordo com Skinner
é possível, e realmente fundamental, tratar da força da
resposta mesmo quando uma resposta
pode não ocorrer (Skinner, 1987, pp. 87-88).
A noção de força não se limita, assim, a uma formulação em termos de ocorrência ou não
de respostas. Corresponde, realmente, à gradação
de uma resposta em termos da sua ocorrência (Skinner, 1953b/1965, p. 62). Um exemplo skinneriano típico é o da res- posta incipiente, incluindo
respostas que, embora não ocorram em sua forma
completa, acabada, apresentam-se com uma parcela
considerável de força em um dado momento
(Skinner, 1953b/1965, p. 263; 1957, p. 314) e ocorrendo de forma indetectável. Trata-se, segundo o autor, de considerar a ocorrência da resposta como um determinado trecho em uma linha contínua
que é a da sua força. Parece contraditório falar de gradações
de ocorrência – pois uma resposta
ou ocorre ou não ocorre,
não sendo possível
uma quase ocorrência. Mas a noção de força tem a sua utilidade centrada justamente
nesse ponto, de tratar das
possibilidades de ocorrência em termos de graus
de força, e não de um sim ou não para ocorrência radicalmente opostos:
If a given
sample of behavior existed
in only two states, in one of which it always
occurred and in the other
never, we should be almost helpless
in following a program
of functional analysis. An all-or-none subject
matter lends itself
only
to primitive
forms of description. It is a great advantage to suppose instead that the
probability that a
response will occur ranges
continuously between these
all-or-none extremes. We can then deal with variables which, unlike the eliciting
stimulus, do not “cause a given bit of behavior
to occur” but simply
make the
occurrence more probable.
We may then proceed to deal, for example,
with the combined effect
of more than one such
variable. (Skinner, 1953b/1965, p. 62)
Esse ponto da formulação skinneriana nos faz ver que mesmo a concepção
de resposta como evento
discreto é uma abstração (Skinner, 1947/1999, p. 351; 1953b/1965, pp.
91-92) – um artifício
bastante útil, e de fato necessário, para o tratamento científico do fenômeno comportamental, mas, ao mesmo tempo, limitado se tratamos de interpretar
o comportamento tal como ele se apresenta naturalmente, em estado bruto. Portanto,
desse ponto de vista, talvez seja possível
reconhecer que as ações de um organismo não correspondem a uma multiplicidade de fenômenos denominados de eventos ou ocorrên-
cias, externos uns aos outros, mas sim a um único ou unificado fenômeno
que pode ser mais
bem indicado pela expressão “fluxo comportamental”. Em certo sentido,
seria inte- ressante perceber
que os eventos comportamentais de um determinado repertório consti-
tuem mais do que simplesmente um arranjo de elementos independentes. Ao invés disso, o que temos a partir
da formulação skinneriana é um fenômeno complexo,
mas também coerente, de elementos intimamente relacionados a um mesmo fluxo comportamental (Skinner, 1953b/1965, p. 17).
É possível
que a noção skinneriana de força da resposta elucide
a continuidade do fluxo
comportamental em um sentido mais fundamental. Se as ocorrências comporta- mentais podem ser representadas em um gráfico como eventos discretos do organismo, é por meio de uma imposição
útil à mensuração do comportamento e, ainda, do enfoque
dado a determinado tipo de resposta. Sendo assim, falta uma importante informação em tal gráfico,
pelo menos no que diz respeito
à forma de resposta enfocada: a força da resposta entre dois pontos
quaisquer da curva.
De acordo com a formulação skinneriana, sabemos exatamente o momento
em que a força da resposta estava
em seu estado máxi- mo,
mas não sabemos precisamente dos estados de força inferiores. Essa informação,
apesar de importante, pode ser apenas parcialmente inferida dos dados observáveis. Ape-
sar disso, não seria exagero
considerar que para Skinner a força da resposta é uma noção primordial, conceitualmente mais
básica do que as próprias
ocorrências que constituem as classes comportamentais, muito
embora seja realmente intratável de um ponto de vis-
ta rigorosamente experimental (Skinner, 1953a).
Não é difícil encontrar trechos do texto skinneriano em que as variáveis são inter- pretadas como fortalecedoras de determinadas respostas, mas sem que seja imprescindí- vel, por isso, que tais respostas
efetivamente ocorram. Os casos mais conspícuos estão incluídos naqueles
que Skinner (1953b/1965, p. 62, pp. 213-216; 1957, pp. 227-252)
interpreta como exemplos de causalidade múltipla do comportamento. Nesse caso, as variáveis fortalecedoras envolvidas são, isoladamente, insuficientes na determinação da ocorrência. Verificamos, dessa maneira, que lidar com a terminologia skinneriana de fortalecimento da resposta
leva a uma investigação de variáveis que, em uma perspectiva
mais rígida,
ou exigente no sentido de efetividade absoluta
das variáveis independentes, seriam totalmente desconsideradas.
Esse aspecto do sistema explicativo skinneirano denota com clareza a complexi-
dade que é inerente ao comportamento, enquanto
objeto de estudo científico.
A análise experimental concebida por Skinner, sendo o meio pelo qual se obtém a inferência dos efeitos isolados das variáveis sobre a força da resposta, é também uma incansável busca das
regularidades exibidas entre classes de eventos ambientais e do organismo (Skinner,
1953b/1965, p. 18). Por seu turno, segundo Skinner
a interpretação, muito mais do que
inferir a mudança da
probabilidade de ocorrência da resposta como efeito de uma
única variável em uma situação experimentalmente controlada, lidará com a combinação de diversas variáveis e suas respectivas contribuições para o fortalecimento de uma única resposta (Skinner, 1930, p. 433; 1953a).
A ocorrência comportamental, nesse contexto,
é efetivamente apenas a superfície
de um
complexo processo de fortalecimento7 simultâneo de todo o repertório compor-
tamental. Ainda, como já dissemos,
pelo fato do repertório estar constantemente em interação com o ambiente,
é natural que a força
de uma resposta esteja sempre
em plena mudança. É também por isso que realizar a inferência das relações entre os processos
envolvidos nessa rede de fortalecimento e as ocorrências comportamentais é, realmente, um árduo exercício de interpretação.
A noção skinneriana de força da resposta é uma espécie de índice de comparação que se obtém entre as muitas
subdivisões do repertório comportamental. De acordo
com essa proposição de Skinner, descobrimos, por meio da identificação
da força de uma resposta, se ela ocorrerá ou não em um momento determinado. Sendo assim, enumerar as forças das respostas
operantes em um dado instante seria para o autor o mesmo que construir uma hierarquia de probabilidades de ocorrências.
Naturalmente, em uma perspectiva skinneirana as forças de respostas
se referem, de maneira
mais exata, às hierarquias de probabilidades de ocorrência sucedendo-se umas às outras no fluxo comportamental. Nesse sentido, a inferência de uma
hierarquia de força é, além de difícil, perecível. Tais hierarquias são, também, abstrações – servin- do como instantâneos de um fenômeno
cuja marca essencial é a continuidade, a fluidez. Como a força de uma determinada resposta está sempre em constante mudança,
a hie- rarquia de forças acaba
sendo simplesmente um artifício útil para o tratamento científico
do comportamento, pois é claramente o retrato momentâneo de um fenômeno
que não é, pela
sua própria natureza, estático.
7) Parece-nos desnecessário e cansativo reafirmar
a todo o momento que o fortalecimento da resposta sempre corresponde a um processo
simultâneo de enfraquecimento de pelo menos outra resposta. Por isso serão suprimidas, a partir
daqui, citações do termo
“enfraquecimento” em parte das
passagens que tratam do fortalecimento da resposta.
Apesar disso, segundo Skinner, a identificação das variáveis responsáveis por um determinado estado de força, fruto da análise experimental, é sempre promissora, pois a continuidade do fluxo comportamental garante que a formulação seja bastante aproxi- mada. Se, por um lado, a força está sempre em plena mudança,
ela corresponde, por outro, a um processo
gradual e preciso (Skinner, 1953a). Afinal,
é justamente devido a esse aspecto que se torna possível a identificação de regularidades
comportamentais e, portanto, de relações funcionais de probabilidade. Embora
a existência de regularidades
comportamentais seja, em princípio, uma suposição, a sua verificação é um fato. Não
há surpresas no fluxo comportamental e qualquer mudança
que apareça como repentina
corresponde,
de fato, ao desconhecimento prévio de processos relevantes em andamento.
Considerando o que discutimos até o momento, é preciso ainda frisar que, apesar
de apresentar aspectos conceituais aparentemente obscuros, não verificáveis ou explíci-
tos, a força da resposta
é concebida por Skinner como uma inferência
obtida com base explicitamente em eventos observáveis (Skinner, 1987, p. 87). A análise experimental, tal como empregada por Skinner não resolve,
portanto, a questão
da força da resposta em um outro sistema dimensional que aquele relacionado aos dados experimentais de laboratório (Skinner, 1950). Em resumo, segundo Skinner, a força da resposta é inferi- da de eventos físicos,
os quais denominamos, coletivamente, de freqüência
da resposta (Skinner, 1953a). A objetividade da noção de força está também no fato de que, uma vez identificadas as variáveis que modificam a probabilidade da resposta, obtém-se
di- retamente, a partir dessa identificação, a especificação das fontes de fortalecimento de respostas do mesmo tipo8. Trata-se, conforme
admissão do autor (Skinner, 1950), de um
tipo de teoria, mas não há um estágio adicional
de elaboração teórica
entre a verificação da freqüência e a formulação
de proposições que identifiquem
e afirmem as fontes de força. A
única suposição adicional, nesse caso, é a de que o fortalecimento da resposta se dê de forma complexa – via de regra, há sempre uma multiplicidade de fontes de força
afetando uma única forma de resposta. Nesse ponto,
pode ser bastante instrutivo verifi-
car a
interpretação skinneriana a respeito daquilo
que se apresenta no chamado
registro cumulativo.
REGISTRO CUMULATIVO E
FORÇA DE RESPOSTA
O registro
cumulativo, extensivamente empregado por Skinner em estudos experimen-
tais com animais não humanos,
é o tipo de gráfico em que é apresentada a quantidade de determinado tipo de resposta emitida no transcorrer do tempo. O número de respostas é
8) Temos utilizado
as expressões “tipos de estímulos” e “tipos de respostas” para nos referirmos aos estímulos
e respostas que pertencem a determinadas classes
e são, portanto, de
determinados tipos, definidas por certo conjunto
de propriedades físicas.
apresentado na ordenada
e o tempo na abscissa
do sistema de coordenadas, e os dados experimentais representados dessa maneira são denominados de taxas, ou freqüências,
de respostas (Ferster & Skinner, 1957/1997, pp. 23-29, p. 731). A cada resposta, a curva sobe um passo, a unidade correspondente a uma resposta, e segue regular e continua- mente na horizontal com o passar
do tempo. O gráfico tem, comumente, a aparência de uma escada, pois cada subida decorrente
da resposta é seguida de um intervalo,
e o desenho realizado possui a aparência de degraus em seqüência. A aceleração e a desace- leração da taxa de respostas correspondem a mudanças no número de respostas emitidas em intervalos fixos de tempo, sendo facilmente percebidas como mudanças na incli-
nação da curva e no tamanho dos degraus (Skinner,
1953a, p. 70). Segundo Skinner,
esse tipo de gráfico deve apresentar os dados experimentais de forma bastante
acurada, exibindo as ocorrências das respostas em correspondência
fiel com a sua distribuição real no tempo. Mas, apesar disso,
é apenas por meio de uma cuidadosa inspeção que tais dados podem ser interpretados (Skinner, 1950,
p. 198), permitindo inferências a respeito do fluxo comportamental.
Em resumo,
o registro cumulativo apresenta-se, de acordo
com a formulação skin-
neriana, como um dado bruto que demanda ainda uma parcela importante de interpre- tação. Apesar disso, tal registro
tem a vantagem de representar as ocorrências do tipo
de resposta em foco de forma contínua ou, em outras palavras, de acordo com o fluxo
comportamental, possibilitando por isso a formulação produtiva de inferências a respeito do
comportamento do organismo
estudado.
Há mais de trinta anos, Skinner
(1976) reconheceu que a utilização do registro cumulativo para a interpretação dos dados obtidos nos laboratórios
de análise experi- mental do comportamento vinha se tornando cada vez mais incomum.
Outros aspectos das pesquisas experimentais executadas por Skinner ainda estariam presentes
em grande parte das pesquisas da área como, por exemplo,
a utilização de aparatos que permitem o registro automático de respostas bastante especificadas e
o estudo dos efeitos de diferen-
tes esquemas de reforçamento sobre a taxa de respostas (Ferster & Skinner, 1957/1997). No entanto, é também verdade que, segundo o autor, o registro
cumulativo tem sido algumas vezes abandonado em favor de representações dos dados baseadas
mais em in- terpretações estatísticas do que na interpretação pura e simples
das mudanças que se dão no fluxo comportamental (Skinner, 1983, p. 124). O registro cumulativo, considerado por Skinner a forma mais interessante de apresentação
dos dados obtidos em laborató- rios de análise experimental do comportamento (Skinner, 1953a),
representa, segundo o autor, a forma
ideal de organização dos dados para a interpretação comportamental dos
processos de fortalecimento envolvidos (Skinner, 1932a, p. 26; 1937/1999, p. 524; 1963, p.
508; 1966a, p. 213, p. 214) e, por isso, pode ser produtivo também
procurarmos expli- citar a sua
relevância para a proposta skinneriana de interpretação da tendência de ação.
dinâmico do que denominamos aqui de “fluxo comportamental.” A taxa de respostas é, dessa
forma, a figuração de
um processo contínuo,
ainda que baseada
em eventos discre- tos. Por isso, uma inspeção do registro cumulativo deve sempre
ter o objetivo de identi-
ficar as variáveis responsáveis por cada ponto de subida
do traçado – cada ocorrência de resposta (Ferster & Skinner, 1957/1997, p. 28). Só assim é possível diminuir
a inexatidão inerente a esse tipo de inferência
a um grau aceitável e, conseqüentemente, útil à pre- visão e ao controle. Segundo
Skinner, a Análise Experimental do Comportamento deve buscar a identificação de variáveis, imediatas
ou não, responsáveis pelo estado de força que é representado por cada ocorrência da resposta, devido
à ação de múltiplas variáveis. Dentre as variáveis, temos aquelas arranjadas pelo experimentador, mas temos também aquelas geradas pelo próprio
organismo (Ferster & Skinner, 1957/1997, p. 10; Skinner,
1950, p. 210).
É importante entendermos também, ao considerarmos
a importância do registro cumulativo para a interpretação skinneriana, porque o autor critica
os métodos estatísti- cos de investigação científica do comportamento. Os métodos estatísticos criticados por Skinner tomam o comportamento em termos de conjuntos de respostas, tratando-o como se fosse constituído de blocos homogêneos de respostas idênticas
emitidos em um am-
biente imutável ou, pelo menos,
cujas mudanças seriam
insignificantes, e não
como um processo de interação
entre o organismo
e o ambiente em plena mudança
e em que cada resposta deve representar uma singularidade. Realizar
o cálculo de médias é considerar
o comportamento como um vago resultado das variáveis ambientais e tende, portan- to, contra a principal
suposição skinneriana, de que o comportamento
é precisamente determinado pelo seu ambiente
(Skinner, 1947/1999, p. 347; 1953b/1965, p. 06). Esta seria uma das razões pela qual Skinner reafirma,
em diversos momentos da sua obra, a sua veemente oposição
aos procedimentos estatísticos no estudo do comportamento. Se- gundo Skinner, o ambiente está sempre mudando, e
conceber médias comportamentais corresponde ao tratamento do ambiente como se ele fosse constante
e, ainda, como se
o organismo não gerasse constantemente e mudasse, por conseguinte, o ambiente que determinará o seu próprio comportamento (Skinner, 1953b/1965, 1957).