segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sobre a noção de força da resposta no Behaviorismo Radical de B. F. Skinner (1º parte)









Paulo R. S. Ferreira1 & Júlio C. C. de Rose

Universidade Federal de São Carlos)


A investigação da probabilidade (ou tendência) dos organismos agirem de determinada forma em determinadas situações, é uma das maiores preocupações de B. F. Skinner ao delinear o seu programa de análise e interpretação do comportamento (Skinner, 1953a). Estão incluídos nesse programa tanto os seus trabalhos relacionados com a busca de regularidades em situações rigidamente controladas (e.g., Skinner, 1932a, 1932b, 1932c,1933a, 1933b, 1933c, 1933d, 1933e, 1938/1991; Ferster & Skinner, 1957/1997), como aqueles envolvidos com a interpretação do comportamento ocorrendo em situações complexas do dia-a-dia (Skinner, 1953b/1965, 1955, 1956, 1957, 1961, 1966a, 1966b, 1968). Sendo assim, é sugestivamente produtivo deter-se na sua concepção a respeito dos tipos de processos responsáveis pela probabilidade (ou “força”, como veremos mais adiante) das ações dos organismos. Inicialmente, vejamos o que diz Skinner a respeito da impor tância da noção de força (ou probabilidade) ao tratar do comportamento verbal ou do comportamento em geral:

The strength of a reflex at any given time is a function of all the operations that affect it. The principal task of a science of behavior is to isolate their separate effects and to establish their functional relationships with the strength. (Skinner,
1938/1991, p. 25)


The task of an experimental analysis is to discover all the variables of which probability of response is a function. It is not an easy assignment, but is at least an explicit one. (...) (1966a, p. 214])

(...) Our basic datum is not the occurrence of a given response as such, but the probability that will occur at a given time. Every verbal operant may be concei- ved of as having under specified circumstances an assignable probability of emis- sion – conveniently called its “strength” (...) (Skinner, 1957, p. 22)



A força da resposta é o dado básico da análise experimental do comportamento conce- bida por Skinner e trata-se, portanto, de uma noção fundamental em sua proposta de explicação do comportamento. É disso que tratará o presente artigo: Será nosso objetivo exclusivo apresentar a noção de força da resposta operante tal como formulada por B. F. Skinner. Há, na Análise do Comportamento, outras concepções de força da resposta. Poderíamos citar, dentre tantas outras, as formulações de Herrnstein (1970) e de Nevin (1974). No entanto, consideramos que a concepção skinneriana, dada a sua complexi- dade e importância, exige uma investigação específica e detalhada que seja suficiente para demandar um texto como este. De outra forma, incorreríamos no risco de uma apre- sentação superficial. Mesmo assim, esperamos que a presente investigação, ao elucidar única e exclusivamente a noção de força da resposta operante empregada por Skinner, possa colaborar com futuras tentativas de comparação mais aprofundadas entre diferen- tes concepções de força da resposta na Análise do Comportamento.
Antes  de  prosseguirmos,  é  importante  que  façamos  uma  breve  explicitação do método empregado na elaboração deste artigo. O procedimento de investigação conceitual consistiu na identificação, na obra skinneriana, dos argumentos considerados relevantes para a definição da noção de força da resposta, tal como empregada pelo autor em estudo. Mas não consideramos que a interpretação obtida a respeito desse aspecto da obra de B. F. Skinner seja a única possível. A tarefa de análise textual não consiste em descobrir exatamente o que o autor quis dizer (Abib, 1996), mesmo porque isso seria impossível segundo a sua própria concepção (Skinner, 1957), mas sim na elaboração de uma dentre uma diversidade de construções interpretativas possíveis. Dito isso, vamos à interpretação proposta pelo presente artigo.



A FORÇA DA RESPOSTA OPERANTE COMO OBJETO DE ESTUDO CIENTÍFICO

Primeiramente, devemos saber que Skinner considera dois tipos principais de comporta- mento, o respondente e o operante2. Segundo o autor, o respondente está relacionado com o tipo de ação que tradicionalmente denominamos de “reflexa” (Skinner, 1938/1991, pp.
20-21) e as topografias das suas respostas são herdadas filogeneticamente, não sofrendo modificações significativas no decorrer da história do indivíduo. O operante, por outro lado, seria, segundo Skinner, adquirido ontogeneticamente, no decorrer da história indi- vidual. O operante diferencia-se do respondente, segundo Skinner, também por possuir um grau superior de flexibilidade e complexidade, o que faria dele um comportamento mais importante no repertório comportamental humano (Skinner, 1953b/1965, p. 59).
Skinner afirma que o termo “comportamento operante”, ou simplesmente “operan- te”, abrange os tipos de comportamentos que são afetados pelas múltiplas relações que mantêm com determinados tipos de estímulos (Skinner, 1957, p. 20). O comportamento operante é a relação funcional entre eventos do ambiente (estímulos) e do organismo (respostas), na ordem: estímulo discriminativo, resposta e estímulo reforçador (Skinner,
1957, p. 31, p. 81; 1963, p. 506). Skinner não define o comportamento como a ocorrên- cia singular de estímulo e resposta relacionados, mas sim como classe de ocorrências relacionadas (Hefferline, 1947, p. 02; Skinner, 1953b/1965, p. 65; 1987, p. 87). Trata-se, segundo o autor, de classes definidas por determinadas propriedades físicas que descre- vem a relação funcional entre os estímulos e respostas envolvidos (Skinner, 1957, p. 177;
1931/1999, p. 497, p. 503; 1979, p. 67, p. 295). Nunca é demais dizer, as respostas de uma classe diferem umas das outras, assim como os estímulos de uma classe (Skinner,
1938/1991, p. 37), mas compartilham as mesmas propriedades que delimitam a classe, o que permite falar de ocorrências diferentes como fazendo parte de uma mesma classe (Skinner, 1935a/1999, 1953b/1965, p. 66).
O  operante  é  também  definido por  um  conjunto  de  contingências  (Skinner,
1953b/1965, pp. 84-85; 1969, p. 131), de relações temporais entre os estímulos e respos- tas incluídos nas classes. Segundo Skinner, é o conjunto de contingências reforçadoras que constrói, com o acréscimo histórico de ocorrências, as classes de estímulos e de respostas envolvidas em uma determinada relação funcional. Diz-se de um acréscimo histórico de ocorrências porque a história de reforçamento que determina o operante constitui-se de todas as ocorrências a ele relacionadas. São, portanto, as contingências





2)   ainda o chamado “comportamento liberado”, mas Skinner considera que a sua importância está restrita aos organismos de outras espécies animais, diferentes do homem (Skinner, 1975, 1984).



reforçadoras que estabelecem e mantêm as propriedades definidoras das classes de estí- mulos discriminativos e de respostas operantes (Skinner, 1937/1999, p. 536).
Como exemplo desse tipo de contingência, temos as relações entre as palavras constituintes do presente texto (estímulos discriminativos), as respostas características de leitura, emitidas pelo leitor sob o controle de tais palavras, e os eventos (estímulos re- forçadores) que, seguindo-se às referidas respostas de leitura, modificam a probabilidade de respostas semelhantes ocorrerem sob o controle de palavras semelhantes no futuro. A partir da noção de classes, podemos afirmar que as palavras são semelhantes por apre- sentarem, por exemplo, propriedades comuns correspondentes às suas formas geométri- cas características. Da mesma forma, as respostas de leitura, ou respostas textuais, como denominaria Skinner (1957, pp. 65-69), apresentam propriedades físicas em comum que distinguem, por exemplo, uma palavra proferida de outra.
Segundo Skinner (1953b/1965), é devido ao reforçamento operante que as classes de estímulos e de respostas apresentam uma correlação consistente entre si. O reforça- mento estabelece e mantém a relação entre classes de estímulos e respostas operantes e essas, por sua vez, são definidas por conjuntos de propriedades físicas. Isso permite, no tratamento da denominada contingência de três termos investigar, sistematicamente na relação entre os dois primeiros termos, estímulo discriminativo e resposta (Skinner,
1937/1999, p. 537), as várias combinações de propriedades de um e outro lado dessa relação (Skinner, 1957, p. 117) e os correspondentes efeitos do reforçamento sobre a ocorrência de respostas.
A análise experimental do comportamento, tal como entendida por Skinner (1966a), corresponde ao isolamento experimental de uma pequena parte do repertório individual, com o fito de se obter, dessa maneira, o máximo de controle possível a respei- to das variáveis responsáveis pela probabilidade das respostas em foco (Skinner, 1953a;
1953b/1965, p. 20). A análise experimental idealizada por Skinner consiste, portanto, no arranjo deliberado de variáveis que tenha como produto final a possibilidade de uma inferência relativamente acurada da sua relação com a probabilidade das respostas es- pecificadas (Skinner, 1953b/1965, p. 48). O resultado bruto desse empreendimento é a formulação de proposições a respeito de relações funcionais de probabilidade entre eventos com determinadas propriedades que pertençam, conseqüentemente, a determi- nadas classes.
Skinner, seguindo essa terminologia, ao se referir à probabilidade de ocorrência de uma resposta operante utiliza o termo “força” (strength”). Respostas fortes são aque- las com alta probabilidade de ocorrência e respostas fracas, por seu turno, são aquelas com baixa probabilidade de ocorrência (Skinner, 1953b/1965, p. 65, 71, 77). Segundo o autor, há, sempre, por conta de todas as contingências envolvendo as ações de um determinado organismo, uma complexidade de respostas disponíveis em seu repertório, cada qual com sua força correspondente (Skinner, 1953b/1965). Nesse sentido, podemos



também dizer, de uma forma mais geral, que classes de respostas (operantes) mais for- tes do que outras, em um dado momento de existência do organismo. Ademais, segundo Skinner, na medida em que um organismo pode apresentar simultaneamente apenas um número limitado de respostas, temos que em sua concepção a força de respostas é neces- sariamente uma noção a respeito da relatividade de uma resposta com relação a outras no mesmo repertório, no que concerne ao combate pelas suas respectivas ocorrências (Skinner, 1950, p. 212).
Skinner reconhece que algumas respostas são realmente incompatíveis e as suas respectivas forças interferem umas com as outras substancialmente, o que pode levar à anulação de ambas ou à emissão da resposta mais forte (Skinner, 1953b/1965, 1957, p. 24), ou até mesmo a uma combinação de fragmentos de ambas. Outras respostas são quase independentes umas das outras, o que faz com que as suas forças sejam igualmente independentes umas das outras. Mas o fato de se referirem a um mesmo organismo e de utilizarem, conseqüentemente, um mesmo sistema efetor para execução, faz com que duas respostas quaisquer tenham as suas forças sempre relativas uma em relação à outra. Mesmo respostas que podem ser emitidas simultaneamente interagem, devido à relação, ainda que mínima, de força existente entre elas.
Segundo Skinner (1935b/1965, pp. 218-219), se duas respostas são semelhantes, no sentido de compartilharem propriedades definidoras de uma mesma classe, diferen- ciando-se apenas pelas suas respectivas magnitudes, é possível ainda que as suas forças conflitantes levem à emissão de uma resposta intermediária, tendendo a se assemelhar mais com aquela que é mais forte. Skinner denomina esse caso como aquele em que a resposta emitida é o resultado da “soma algébrica” da topografia das duas respostas for- talecidas3 (Skinner, 1953b/1965).
Por outro lado, conforme a concepção skinneriana, duas respostas que são competi- tivas, no sentido de se excluírem mutuamente nas suas respectivas execuções, e que tam- bém apresentam topografias muito diferentes, não podem se somar algebricamente. A soma das suas forças leva, então, à emissão da resposta prepotente – a que possui maior força. É esperado, também, que a emissão de tal resposta tenha a sua topografia alterada pela força da resposta concorrente (Skinner, 1953b/1965, pp. 220-221). Há, de acordo



3)  É importante, contudo, ressaltar que não se trata de conceber uma relação ponto a ponto entre contínuos de estímulos discriminativos e de respostas operantes. Alguns estudos empíricos têm mostrado, por exemplo, que as curvas típicas de generalização de estímulos não envolvem necessariamente a emissão de respostas com magnitudes intermedi- árias, podendo ser resultantes simplesmente da distribuição diferencial das diferentes formas e magnitudes de respostas previamente estabelecidas (Migler, 1964; Migler & Millenson, 1964; Stoddard & Sidman, 1971). O caso considerado por Skinner é diferente, pois envolve a ocorrência de uma única resposta (excluindo a possibilidade de oscilação entre diferentes respostas) e o fortalecimento preciso de duas magnitudes diferentes de uma mesma forma de resposta devido ao papel desempenhado pelo conjunto total de variáveis independentes, e não apenas pelo tipo de variável enfocada nos estudos que investigam a formação das curvas de generalização de estímulos.


consiste simplesmente na emissão de uma forma acabada e bem definida de resposta. O resultado é a variabilidade da forma da resposta em função da sua força, e podemos falar dessa variabilidade também em termos de classes. A variabilidade de respostas consiste, portanto, no distanciamento topográfico da resposta com relação à especificação da clas- se original e correspondente aproximação, em termos da sua topografia, de outras classes de respostas concebíveis em um mesmo repertório4.

FORÇA DE RESPOSTA E FLUXO COMPORTAMENTAL

A partir da formulação skinneriana, torna-se importante ainda levarmos em conta que o fluxo comportamental5 é ininterrupto. Ainda que o dado comportamental seja em alguma medida arbitrariamente tomado como descontínuo, os processos que visa caracterizar são, como supõe Skinner, contínuos:

(...) To record the beginning and end of learning or a few discrete steps will not suffice, since a series of cross-sections will not give complete coverage of a conti- nuous process. The dimensions of the change must spring from the behavior itself; they must not be imposed by an external criterion of completeness. (...) (Skinner,
1950, p. 196)

De acordo com Skinner, o comportamento do organismo não corresponde a uma suces- são de momentos em que começa ou para de responder. Em uma palavra, o organismo nunca cessa de responder. Aparentes exceções à regra, como dormir ou simplesmente não fazer nada são também ações e são, dessa maneira, ocorrências também correspon- dentes às suas forças relativas ao repertório como um todo. Não é difícil entender o por- quê de Skinner (1953b/1965, p. 221) empregar esse tipo de suposição. Primeiramente, vemos que qualquer caso específico de “não responder” corresponde na verdade a um responder incompatível:





4)  Apenas podemos adiantar, por ora, que essa interação entre classes se “via” propriedades. Pretendemos desenvolver essa argumentação em um artigo a ser redigido posteriormente, que tratará da relação entre ocorrências e classes comportamentais.
5)  Apesar de não ter sido de fato empregada por Skinner, adotaremos a expressão “fluxo comportamental” por identificarmos nela uma forma conveniente para a indicação do aspecto fluídico”, “contínuo”, do fenômeno comporta- mental. Coincidentemente, Schoenfeld e Farmer (1970) também empregam a expressão fluxo comportamental”, o que sugere a adequação interpretativa da expressão no que diz respeito ao texto skinneriano. É sugestiva, ainda, a influência de W. James sobre o pensamento skinneriano, inclusive na concepção de fluxo da consciência, apresentada em seu Principles of Psychology (1890).



(...) We are likely to suppose that forgetting means that the probability of keeping the appointment has reached zero or has passed through zero to a negative value. But we need not deal with any behavior called “not keeping the appointment.” One response has simply lost out to another in the matching of probabilities. (...) Forgetting is ordinarily attributed to an inner organism which represses” the behavior of keeping the appointment, but the only repressing agent is the incom- patible response. (Skinner, 1953b/1965, p. 222)

O autor mostra que desprezamos a especificação de determinadas respostas como “não fazer nada” ou “fazer outra coisa” porque se referem a comportamentos cuja única im- portância no momento reside no fato de competir com o comportamento de interesse. Mas, para entender tal suposição skinneriana, basta imaginar que, se tomássemos o fluxo comportamental como algo que se interrompesse, teríamos que explicar ainda porque ele cessa, e também porque ele recomeça. Exemplificando, teríamos que explicar por que uma pessoa dorme e por que acorda (muito embora saibamos que uma pessoa geralmente continua respondendo de outras formas enquanto dorme). Nesse caso, teríamos de lidar com a força desse cessar e desse recomeçar do fluxo comportamental, o que equivaleria a tratar de uma concepção desse cessar e desse recomeçar como comportamento também.
É igualmente importante constatar que, segundo Skinner, o momento da ocorrência da resposta não tem duração:

Probability of response, as well as prediction of response, is concerned with the moment of emission. This is a point in time, but it does not have the temporal dimension of a latency. The execution may take time after the response has been initiated, but the moment of occurrence has no duration. (Skinner, 1950, p. 198, grifo nosso).

Por outro lado, segundo Skinner, a duração de uma resposta é uma das muitas dimensões disponíveis ao tratamento científico do comportamento (Skinner, 1953b/1965). Trata-se, portanto, de diferenciar “ocorrência de resposta” de “resposta”. A resposta apresenta propriedades, relacionadas às suas dimensões físicas, incluindo a sua duração (Skinner,
1938/1991). Ao contrário, a ocorrência da resposta é algo pontual, e não algo que se estende e que contenha, em si, uma dada duração. Skinner também esclarece em detalhe esse importante aspecto do comportamento operante ao interpretar o que seria a “latên- cia” da resposta operante em termos de aspectos topográficos sujeitos à especificação operante:

It [the moment of occurrence] cannot, in fact, be shortened or lengthened. Where a latency appears to be forced toward a minimal value by differential reinforce-


more energetic behavior or the faster execution of behavior after it begins, it is meaningless to speak of differentially reinforcing responses with short or long latencies. What we actually reinforce differentially are (a) favorable waiting behavior and (b) more vigorous responses. When we ask a subject to respond “as soon as possible” in the human reaction-time experiment, we essentially ask him (a) to carry out as much of the response as possible without actually reaching
the criterion of emission, (b) to do as little else as possible, and (c) to respond energetically after the stimulus has been given. This may yield a minimal measu- rable time between stimulus and response, but this time is not necessarily a basic  datum nor have our instructions altered it as such. A parallel interpretation of the differential reinforcement of long “latencies” is required. This is easily establis- hed by inspection. In the experiments with pigeons previously cited, preliminary behavior is conditioned that postpones the response to the key until the proper time. Behavior that “mark time”is usually conspicous. (Skinner, 1950, p. 198-
199, grifo nosso)

Com o objetivo de elucidar esse aspecto da proposição skinneriana, poderíamos reali- zar uma analogia com o que acontece quando encontramos alguém no dia-a-dia. Não encontramos tal pessoa durante certo tempo, mas sim em um momento pontual (em um instante circunscrito), ainda que o encontro dure horas. O mesmo se na diferenciação entre ocorrência de resposta e essa mesma resposta em termos das suas dimensões. Sen- do assim, a ocorrência da resposta não dura, de tal modo que, no intervalo dessa duração, fosse concebível uma espécie de vácuo funcional, o tempo gasto pela emissão da res- posta existindo como um lapso do fluxo comportamental que Skinner concebe como a sucessão ininterrupta das ações do organismo. O importante a ressaltar aqui é que não há, no fluxo comportamental, vácuos funcionais, intervalos de tempo em que as forças das respostas fiquem em suspensão. Se uma duração do comportamento, ela corresponde de forma inextrincável ao fluxo comportamental, e não à soma do tempo gasto com a emissão de cada uma das respostas que se sucedem.
Segundo Skinner, por meio da noção de força da resposta, são agrupados os efeitos convergentes das diferentes variáveis independentes do comportamento. Skinner não utiliza “força” como correspondendo a uma atribuição de realidade ou função a um nível diferente de observação que aquele dos estímulos e das respostas (Skinner, 1950). Ao contrário, a definição de força como efeito das variáveis independentes sobre a proba- bilidade de resposta é simplesmente a inferência do status de uma determinada rela- ção funcional, realizada em uma terminologia fisicalista a partir de eventos observáveis (Skinner, 1953b/1965, p. 36).



Segundo o autor, a força da resposta é, realmente, o dado básico da análise do comportamento (Skinner, 1953a). Ainda que as proposições acerca da força da resposta não sejam obtidas com a observação direta de eventos singulares, mas ao invés, com a observação da freqüência, de conjuntos de eventos semelhantes ocorrendo em um perío- do determinado, a força da resposta tem o seu referente físico e não se refere, portanto, a uma coisa ou entidade diferente do mundo físico (Skinner, 1950, p. 210). Para Skinner, a força da resposta pode, ainda, ser considerada simplesmente uma forma útil de se re- presentar a freqüência de respostas sem que se identifique, desse modo, frequência com probabilidade. Nesse sentido, poderíamos falar, em termos skinnerianos, da transferên- cia de um conhecimento de freqüências para o de probabilidades de casos individuais:

(...) appeal must be made to frequency of occurrence in order to establish the notion of strength. The strength of an operant is proportional to its frequency of occurrence, and the dynamic laws describe the changes in the rate of occurren- ce that are brought about by various operations performed upon the organism. (Skinner, 1938/1991, p. 21)

É importante ressaltar também que para Skinner a magnitude da resposta ou as intensi- dades dos estímulos envolvidos não definem a força da resposta operante são aspectos que podem ou não ser necessários à descrição dos eventos de uma relação operante. Ademais, segundo o autor, a duração dos eventos ambientais, os estímulos, também não definem a força da resposta. A duração de tais eventos, como a duração das respostas, é, no caso do operante, mais uma característica sujeita às especificações das relações fun- cionais e, portanto, à força operante.

VARIÁVEIS QUE DETERMINAM A FORÇA

Tendo tratado, pelo menos preliminarmente, da noção de força da resposta tal como empregada por Skinner, podemos finalmente tratar daquilo que constitui o objeto central deste artigo, que são as variáveis que a determinam (Skinner, 1938/1991, p. 46). São os determinantes dos denominados processos comportamentais, envolvendo eventos aos quais as respostas estão funcionalmente relacionadas. Além das variáveis independentes já citadas, os estímulos discriminativos e os estímulos reforçadores, temos também as operações motivacionais e emocionais. Doravante, nos ocuparemos da relação entre tais variáveis e a força da resposta, procurando subsidiar um entendimento da proposta de B. F. Skinner para a sua interpretação das modificações que sofrem a tendência de ação.
Segundo Skinner, a respeito dos seus efeitos sobre a força de resposta, os processos comportamentais podem tomar apenas uma de duas possíveis direções. Skinner fala do fortalecimento (“strengthening”) e do enfraquecimento (“weakening”) de respostas. For-



talecemos uma resposta se a tornamos mais provável e, do contrário, a enfraquecemos se a tornamos menos provável. Nenhum processo que afete a probabilidade de ocorrência de respostas escapa à classificação a um desses casos.
De acordo com o autor, dada a especificidade dos processos de fortalecimento e en- fraquecimento, é sempre importante indicar qual a resposta de cuja força estamos tratan- do. É verdade que uma determinada variável independente pode alterar a força de várias classes de respostas (Skinner, 1953b/1965, pp. 205-209), como é o caso, por exemplo, das operações emocionais e motivacionais (Skinner, 1953b/1965, pp. 141-170). Mas é certo que nunca uma variável independente pode alterar igualmente a força de todas as respostas de um determinado repertório, pois o fortalecimento define-se justamente pela distinção que produz entre as probabilidades de uma parte do repertório com relação ao restante (Skinner, 1938/1991, p. 227; 1987, p. 85, p. 94). Sendo assim, segundo a proposição skinneriana, uma alteração idêntica e simultânea em todo o repertório do organismo é inconcebível. Além disso, para Skinner o fortalecimento de uma resposta é sempre dependente do enfraquecimento concomitante de pelo menos outra resposta, e vice-versa. Podemos, pelo menos metaforicamente, falar de uma precisa rede de influên- cias fortalecedoras e enfraquecedoras.
Isso não significa que Skinner considere o enfraquecimento da resposta como fru- to da possibilidade de uma mudança definida como probabilidade negativa da resposta (Skinner, 1938/1991, p. 111; 1953b/1965, p. 222). Ao contrário, a definição skinneriana de enfraquecimento apóia-se justamente na probabilidade positiva que é o fortalecimen- to de outra resposta. Segundo Skinner, fala-se em enfraquecimento da resposta apenas pela facilidade que proporciona ao apontar o efeito do fortalecimento de uma resposta sobre a probabilidade daquelas com as quais compete. Em um sentido estrito, o processo como um todo se define apenas pelas relações de fortalecimento envolvidas6 (Skinner,
1953b/1965, pp. 221-222). De acordo com o autor, o que acontece, ocasionalmente, é que a resposta cuja emissão nos preocupa tenha a sua força enfraquecida pelo fortale- cimento de uma resposta não considerada ou mesmo não identificada. Deve ficar claro, portanto, que, ao tratarmos da definição skinneriana de enfraquecimento de uma res- posta, devemos sempre visar a especificação do processo de fortalecimento da resposta competitiva.
Daí depreende-se uma das vantagens terminológicas de se falar em “fortalecer” e “enfraquecer”, ao invés de se tentar cunhar outros termos que correspondam às mudanças em termos de probabilidade (Skinner, 1987, p. 26). Convém, nesse momento, apresentar algumas citações skinnerianas a respeito da adoção do termo “força” (strength”):




6)  É interessante notar, por exemplo, que a interpretação skinneriana dos efeitos da punição baseia-se totalmente na noção de fortalecimento da resposta (Skinner, 1953b/1965, pp. 182-193).



“It is possible that a word is lacking because behavior is often regarded as a mere sign or symptom. (…)
(…) But there seems to be no word, metaphorical or otherwise, for strength itself. (...) Strength is a basic concept in the analysis of operant behavior, but there is no good word for it in everyday English (…) (Skinner, 1987, p. 26)

Segundo Skinner, “acrescer” ou “retirar” probabilidades são, nesse sentido, expressões muito bem substituídas pelas expressões “fortalecer” e “enfraquecer” respostas de de- terminado tipo, ou forma. É por meio desse artifício terminológico que Skinner trata da interpretação de casos que envolvem uma diversidade de fontes de probabilidade, denominando-as de “fontes de força” (Skinner, 1953b/1965, Cap. XIV; 1957, Cap. IX, X). A única ressalva que se faz a respeito da terminologia de fortalecimento é a de que a força da resposta operante não tem, como no caso do respondente, uma relação essencial com a energia, ou magnitude, da resposta (Skinner, 1957, p. 25). Como mostra Skinner (1957, pp. 23-28), não a magnitude da resposta operante, mas também a sua veloci- dade, repetição e freqüência total são fatores de importância limitada na inferência da força da resposta.
De acordo com Skinner é possível, e realmente fundamental, tratar da força da resposta mesmo quando uma resposta pode não ocorrer (Skinner, 1987, pp. 87-88). A noção de força não se limita, assim, a uma formulação em termos de ocorrência ou não de respostas. Corresponde, realmente, à gradação de uma resposta em termos da sua ocorrência (Skinner, 1953b/1965, p. 62). Um exemplo skinneriano típico é o da res- posta incipiente, incluindo respostas que, embora não ocorram em sua forma completa, acabada, apresentam-se com uma parcela considerável de força em um dado momento (Skinner, 1953b/1965, p. 263; 1957, p. 314) e ocorrendo de forma indetectável. Trata-se, segundo o autor, de considerar a ocorrência da resposta como um determinado trecho em uma linha contínua que é a da sua força. Parece contraditório falar de gradações de ocorrência pois uma resposta ou ocorre ou não ocorre, não sendo possível uma quase ocorrência. Mas a noção de força tem a sua utilidade centrada justamente nesse ponto, de tratar das possibilidades de ocorrência em termos de graus de força, e não de um sim ou não para ocorrência radicalmente opostos:

If a given sample of behavior existed in only two states, in one of which it always occurred and in the other never, we should be almost helpless in following a program of functional analysis. An all-or-none subject matter lends itself only
to primitive forms of description. It is a great advantage to suppose instead that the probability that a response will occur ranges continuously between these
all-or-none extremes. We can then deal with variables which, unlike the eliciting stimulus, do not “cause a given bit of behavior to occur” but simply make the



occurrence more probable. We may then proceed to deal, for example, with the combined effect of more than one such variable. (Skinner, 1953b/1965, p. 62)

Esse ponto da formulação skinneriana nos faz ver que mesmo a concepção de resposta como evento discreto é uma abstração (Skinner, 1947/1999, p. 351; 1953b/1965, pp.
91-92) um artifício bastante útil, e de fato necessário, para o tratamento científico do fenômeno comportamental, mas, ao mesmo tempo, limitado se tratamos de interpretar o comportamento tal como ele se apresenta naturalmente, em estado bruto. Portanto, desse ponto de vista, talvez seja possível reconhecer que as ações de um organismo não correspondem a uma multiplicidade de fenômenos denominados de eventos ou ocorrên- cias, externos uns aos outros, mas sim a um único ou unificado fenômeno que pode ser mais bem indicado pela expressão “fluxo comportamental”. Em certo sentido, seria inte- ressante perceber que os eventos comportamentais de um determinado repertório consti- tuem mais do que simplesmente um arranjo de elementos independentes. Ao invés disso, o que temos a partir da formulação skinneriana é um fenômeno complexo, mas também coerente, de elementos intimamente relacionados a um mesmo fluxo comportamental (Skinner, 1953b/1965, p. 17).
É possível que a noção skinneriana de força da resposta elucide a continuidade do fluxo comportamental em um sentido mais fundamental. Se as ocorrências comporta- mentais podem ser representadas em um gráfico como eventos discretos do organismo, é por meio de uma imposição útil à mensuração do comportamento e, ainda, do enfoque dado a determinado tipo de resposta. Sendo assim, falta uma importante informação em tal gráfico, pelo menos no que diz respeito à forma de resposta enfocada: a força da resposta entre dois pontos quaisquer da curva. De acordo com a formulação skinneriana, sabemos exatamente o momento em que a força da resposta estava em seu estado máxi- mo, mas não sabemos precisamente dos estados de força inferiores. Essa informação, apesar de importante, pode ser apenas parcialmente inferida dos dados observáveis. Ape- sar disso, não seria exagero considerar que para Skinner a força da resposta é uma noção primordial, conceitualmente mais básica do que as próprias ocorrências que constituem as classes comportamentais, muito embora seja realmente intratável de um ponto de vis- ta rigorosamente experimental (Skinner, 1953a).
Não é difícil encontrar trechos do texto skinneriano em que as variáveis são inter- pretadas como fortalecedoras de determinadas respostas, mas sem que seja imprescindí- vel, por isso, que tais respostas efetivamente ocorram. Os casos mais conspícuos estão incluídos naqueles que Skinner (1953b/1965, p. 62, pp. 213-216; 1957, pp. 227-252) interpreta como exemplos de causalidade múltipla do comportamento. Nesse caso, as variáveis fortalecedoras envolvidas são, isoladamente, insuficientes na determinação da ocorrência. Verificamos, dessa maneira, que lidar com a terminologia skinneriana de fortalecimento da resposta leva a uma investigação de variáveis que, em uma perspectiva



mais rígida, ou exigente no sentido de efetividade absoluta das variáveis independentes, seriam totalmente desconsideradas.
Esse aspecto do sistema explicativo skinneirano denota com clareza a complexi- dade que é inerente ao comportamento, enquanto objeto de estudo científico. A análise experimental concebida por Skinner, sendo o meio pelo qual se obtém a inferência dos efeitos isolados das variáveis sobre a força da resposta, é também uma incansável busca das regularidades exibidas entre classes de eventos ambientais e do organismo (Skinner,
1953b/1965, p. 18). Por seu turno, segundo Skinner a interpretação, muito mais do que inferir a mudança da probabilidade de ocorrência da resposta como efeito de uma única variável em uma situação experimentalmente controlada, lidará com a combinação de diversas variáveis e suas respectivas contribuições para o fortalecimento de uma única resposta (Skinner, 1930, p. 433; 1953a).
A ocorrência comportamental, nesse contexto, é efetivamente apenas a superfície de um complexo processo de fortalecimento7 simultâneo de todo o repertório compor- tamental. Ainda, como dissemos, pelo fato do repertório estar constantemente em interação com o ambiente, é natural que a força de uma resposta esteja sempre em plena mudança. É também por isso que realizar a inferência das relações entre os processos envolvidos nessa rede de fortalecimento e as ocorrências comportamentais é, realmente, um árduo exercício de interpretação.
A noção skinneriana de força da resposta é uma espécie de índice de comparação que se obtém entre as muitas subdivisões do repertório comportamental. De acordo com essa proposição de Skinner, descobrimos, por meio da identificação da força de uma resposta, se ela ocorrerá ou não em um momento determinado. Sendo assim, enumerar as forças das respostas operantes em um dado instante seria para o autor o mesmo que construir uma hierarquia de probabilidades de ocorrências.
Naturalmente, em uma perspectiva skinneirana as forças de respostas se referem, de maneira mais exata, às hierarquias de probabilidades de ocorrência sucedendo-se umas às outras no fluxo comportamental. Nesse sentido, a inferência de uma hierarquia de força é, além de difícil, perecível. Tais hierarquias são, também, abstrações servin- do como instantâneos de um fenômeno cuja marca essencial é a continuidade, a fluidez. Como a força de uma determinada resposta está sempre em constante mudança, a hie- rarquia de forças acaba sendo simplesmente um artifício útil para o tratamento científico do comportamento, pois é claramente o retrato momentâneo de um fenômeno que não é, pela sua própria natureza, estático.




7)  Parece-nos desnecessário e cansativo reafirmar a todo o momento que o fortalecimento da resposta sempre corresponde a um processo simultâneo de enfraquecimento de pelo menos outra resposta. Por isso serão suprimidas, a partir daqui, citações do termo “enfraquecimento” em parte das passagens que tratam do fortalecimento da resposta.



Apesar disso, segundo Skinner, a identificação das variáveis responsáveis por um determinado estado de força, fruto da análise experimental, é sempre promissora, pois a continuidade do fluxo comportamental garante que a formulação seja bastante aproxi- mada. Se, por um lado, a força está sempre em plena mudança, ela corresponde, por outro, a um processo gradual e preciso (Skinner, 1953a). Afinal, é justamente devido a esse aspecto que se torna possível a identificação de regularidades comportamentais e, portanto, de relações funcionais de probabilidade. Embora a existência de regularidades comportamentais seja, em princípio, uma suposição, a sua verificação é um fato. Não há surpresas no fluxo comportamental e qualquer mudança que apareça como repentina corresponde, de fato, ao desconhecimento prévio de processos relevantes em andamento.
Considerando o que discutimos até o momento, é preciso ainda frisar que, apesar de apresentar aspectos conceituais aparentemente obscuros, não verificáveis ou explíci- tos, a força da resposta é concebida por Skinner como uma inferência obtida com base explicitamente em eventos observáveis (Skinner, 1987, p. 87). A análise experimental, tal como empregada por Skinner não resolve, portanto, a questão da força da resposta em um outro sistema dimensional que aquele relacionado aos dados experimentais de laboratório (Skinner, 1950). Em resumo, segundo Skinner, a força da resposta é inferi- da de eventos físicos, os quais denominamos, coletivamente, de freqüência da resposta (Skinner, 1953a). A objetividade da noção de força está também no fato de que, uma vez identificadas as variáveis que modificam a probabilidade da resposta, obtém-se di- retamente, a partir dessa identificação, a especificação das fontes de fortalecimento de respostas do mesmo tipo8. Trata-se, conforme admissão do autor (Skinner, 1950), de um tipo de teoria, mas não um estágio adicional de elaboração teórica entre a verificação da freqüência e a formulação de proposições que identifiquem e afirmem as fontes de força. A única suposição adicional, nesse caso, é a de que o fortalecimento da resposta se dê de forma complexa via de regra, sempre uma multiplicidade de fontes de força afetando uma única forma de resposta. Nesse ponto, pode ser bastante instrutivo verifi- car a interpretação skinneriana a respeito daquilo que se apresenta no chamado registro cumulativo.

REGISTRO CUMULATIVO E FORÇA DE RESPOSTA

O registro cumulativo, extensivamente empregado por Skinner em estudos experimen- tais com animais não humanos, é o tipo de gráfico em que é apresentada a quantidade de determinado tipo de resposta emitida no transcorrer do tempo. O número de respostas é



8)  Temos utilizado as expressões “tipos de estímulos” e “tipos de respostas” para nos referirmos aos estímulos e respostas que pertencem a determinadas classes e são, portanto, de determinados tipos, definidas por certo conjunto de propriedades físicas.



apresentado na ordenada e o tempo na abscissa do sistema de coordenadas, e os dados experimentais representados dessa maneira são denominados de taxas, ou freqüências, de respostas (Ferster & Skinner, 1957/1997, pp. 23-29, p. 731). A cada resposta, a curva sobe um passo, a unidade correspondente a uma resposta, e segue regular e continua- mente na horizontal com o passar do tempo. O gráfico tem, comumente, a aparência de uma escada, pois cada subida decorrente da resposta é seguida de um intervalo, e o desenho realizado possui a aparência de degraus em seqüência. A aceleração e a desace- leração da taxa de respostas correspondem a mudanças no número de respostas emitidas em intervalos fixos de tempo, sendo facilmente percebidas como mudanças na incli- nação da curva e no tamanho dos degraus (Skinner, 1953a, p. 70). Segundo Skinner, esse tipo de gráfico deve apresentar os dados experimentais de forma bastante acurada, exibindo as ocorrências das respostas em correspondência fiel com a sua distribuição real no tempo. Mas, apesar disso, é apenas por meio de uma cuidadosa inspeção que tais dados podem ser interpretados (Skinner, 1950, p. 198), permitindo inferências a respeito do fluxo comportamental.
Em resumo, o registro cumulativo apresenta-se, de acordo com a formulação skin- neriana, como um dado bruto que demanda ainda uma parcela importante de interpre- tação. Apesar disso, tal registro tem a vantagem de representar as ocorrências do tipo de resposta em foco de forma contínua ou, em outras palavras, de acordo com o fluxo comportamental, possibilitando por isso a formulação produtiva de inferências a respeito do comportamento do organismo estudado.
mais de trinta anos, Skinner (1976) reconheceu que a utilização do registro cumulativo para a interpretação dos dados obtidos nos laboratórios de análise experi- mental do comportamento vinha se tornando cada vez mais incomum. Outros aspectos das pesquisas experimentais executadas por Skinner ainda estariam presentes em grande parte das pesquisas da área como, por exemplo, a utilização de aparatos que permitem o registro automático de respostas bastante especificadas e o estudo dos efeitos de diferen- tes esquemas de reforçamento sobre a taxa de respostas (Ferster & Skinner, 1957/1997). No entanto, é também verdade que, segundo o autor, o registro cumulativo tem sido algumas vezes abandonado em favor de representações dos dados baseadas mais em in- terpretações estatísticas do que na interpretação pura e simples das mudanças que se dão no fluxo comportamental (Skinner, 1983, p. 124). O registro cumulativo, considerado por Skinner a forma mais interessante de apresentação dos dados obtidos em laborató- rios de análise experimental do comportamento (Skinner, 1953a), representa, segundo o autor, a forma ideal de organização dos dados para a interpretação comportamental dos processos de fortalecimento envolvidos (Skinner, 1932a, p. 26; 1937/1999, p. 524; 1963, p. 508; 1966a, p. 213, p. 214) e, por isso, pode ser produtivo também procurarmos expli- citar a sua relevância para a proposta skinneriana de interpretação da tendência de ação.


dinâmico do que denominamos aqui de “fluxo comportamental.” A taxa de respostas é, dessa forma, a figuração de um processo contínuo, ainda que baseada em eventos discre- tos. Por isso, uma inspeção do registro cumulativo deve sempre ter o objetivo de identi- ficar as variáveis responsáveis por cada ponto de subida do traçado cada ocorrência de resposta (Ferster & Skinner, 1957/1997, p. 28). assim é possível diminuir a inexatidão inerente a esse tipo de inferência a um grau aceitável e, conseqüentemente, útil à pre- visão e ao controle. Segundo Skinner, a Análise Experimental do Comportamento deve buscar a identificação de variáveis, imediatas ou não, responsáveis pelo estado de força que é representado por cada ocorrência da resposta, devido à ação de múltiplas variáveis. Dentre as variáveis, temos aquelas arranjadas pelo experimentador, mas temos também aquelas geradas pelo próprio organismo (Ferster & Skinner, 1957/1997, p. 10; Skinner,
1950, p. 210).
É importante entendermos também, ao considerarmos a importância do registro cumulativo para a interpretação skinneriana, porque o autor critica os métodos estatísti- cos de investigação científica do comportamento. Os métodos estatísticos criticados por Skinner tomam o comportamento em termos de conjuntos de respostas, tratando-o como se fosse constituído de blocos homogêneos de respostas idênticas emitidos em um am- biente imutável ou, pelo menos, cujas mudanças seriam insignificantes, e não como um processo de interação entre o organismo e o ambiente em plena mudança e em que cada resposta deve representar uma singularidade. Realizar o cálculo de médias é considerar o comportamento como um vago resultado das variáveis ambientais e tende, portan- to, contra a principal suposição skinneriana, de que o comportamento é precisamente determinado pelo seu ambiente (Skinner, 1947/1999, p. 347; 1953b/1965, p. 06). Esta seria uma das razões pela qual Skinner reafirma, em diversos momentos da sua obra, a sua veemente oposição aos procedimentos estatísticos no estudo do comportamento. Se- gundo Skinner, o ambiente está sempre mudando, e conceber médias comportamentais corresponde ao tratamento do ambiente como se ele fosse constante e, ainda, como se o organismo não gerasse constantemente e mudasse, por conseguinte, o ambiente que determinará o seu próprio comportamento (Skinner, 1953b/1965, 1957).