Neste tópico
são apresentadas definições de habilidades sociais e de competência social,
seguidas de descrições acerca de avaliação de desempenho social e de modelos
explicativos.
Habilidades sociais
A origem do
movimento das habilidades sociais (HS) é freqüentemente atribuída a Salter
(1949), considerado um dos pais da terapia comportamental, o qual promoveu
técnicas para aumentar a expressividade verbal e facial descritas em seu livro
Conditioned Reflex Therapy. Em 1958, Wolpe utilizou pela primeira vez o termo
“comportamento assertivo”, referindo-se à expressão de sentimentos negativos e
defesa dos próprios direitos (Caballo, 1996).
Não há
consenso quanto à definição de habilidades sociais (HS), porém, o termo HS
geralmente é usado para designar um conjunto de capacidades comportamentais
aprendidas que envolvem interações sociais (Caballo, 1995; Del Prette & Del
Prette, 1999). Abaixo são apresentadas algumas definições para análise.
MacKay (1988)
critica a definição sobre HS de Alberti e Emmons (1970), a qual enfocaria mais
o comportamento da pessoa que o sucesso da interação, pois coloca que a pessoa
assertiva é aquela que age em seu interesse, é responsável por si mesma sem
sentir ansiedade inadequada, expressa seus sentimentos de forma honesta e
exerce seus direitos sem negar
os direitos
dos outros. De fato, a pessoa, ao interagir, o faz conforme uma história prévia
(antecedentes), e o seu comportamento tem um efeito no interlocutor
(conseqüências), o que fatalmente influenciará comportamentos futuros, podendo
aumentá-los de freqüência ou suprimi-los, além disso, eventos privados2,
enquanto sensações corporais verbalizadas como ansiedade, são subprodutos de
contingências, no caso aversivas (Tourinho, 1999).
Alberti e
Emmons (1978) parecem ter revisado a definição de 1970 atribuindo maior
importância às conseqüências obtidas diante de respostas sociais assertivas,
não-assertivas e agressivas. Assim, assertividade seria o processo pelo qual o
indivíduo (emissor) expressa sentimentos, pensamentos ao receptor de forma
adequada, ou seja, utiliza entonação, latência e fluência de fala apropriadas,
ouve o receptor para então responder, de forma a atingir seus objetivos sem
prejudicar as relações futuras com o mesmo (Alberti & Emmons, 1978;
Caballo, 1987). Não-assertividade ocorre quando o emissor não expressa seus
sentimentos, seus pensamentos ao receptor emitindo, muitas vezes,
comportamentos contra a própria vontade, ou deixando de defender-se por medo de
prejudicar sua relação futura com o receptor, e por isso muitas vezes o emissor
é explorado e prejudicado, sem contudo atingir seus objetivos. A
não-assertividade nega e inibe a expressão de sentimentos, levando a pessoa a
sentir-se ferida, ansiosa e autodesvalorizada, e por conseqüência raramente
atinge os objetivos desejados. Já a agressividade, às vezes, permite atingir os
objetivos desejados, mas no processo magoa os demais, fazendo escolhas por
eles, além de os desvalorizar como pessoas, possibilitando represálias futuras.
Por outro lado, o comportamento assertivo permite a auto-apreciação do emissor
e uma expressão honesta de seus sentimentos, geralmente atingindo os objetivos
desejados, não prejudicando a si mesmo, nem o receptor.
Caballo
(1991) apresenta uma definição que explicita um maior número de habilidades,
quando comparada à de Alberti e Emmons (1978), pois afirma que comportamento
socialmente habilidoso ou mais adequado refere-se à expressão, pelo indivíduo,
de atitudes, sentimentos, opiniões, desejos, respeitando a si próprio e aos
outros, existindo, em geral, resolução dos problemas imediatos da situação e
diminuição da probabilidade de problemas futuros. No entanto, deixa de
enfatizar habilidades não-verbais, tais como entonação, latência e fluência de
fala apropriadas.
Del Prette e
Del Prette (1999) esclarecem que as HS incluem a assertividade (expressão
apropriada de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos) e também
habilidades de comunicação, de resolução de problemas interpessoais, de
cooperação, de desempenhos interpessoais nas atividades profissionais, além de
expressão de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos. Porém,
apesar desta distinção, os termos são comumente utilizados como sinônimos (Del
Prette & Del Prette, 1999; Falcone, 1998; Ca-ballo, 1996).
Para maior
detalhamento, vale apontar que Alberti e Emmons (1978) definem comportamentos
não-assertivos e agressivos como situacionais ou gerais. A não-assertividade,
segundo Albert e Emmons (1978), divide-se em não-asserção situacional e geral.
A não-asserção situacional ocorre quando as pessoas se comportam de forma
não-assertiva apenas em algumas situações que produzem ansiedade. A
não-asserção geral inclui as pessoas em que os comporta-mentos são tipicamente não-assertivos,
sentindo-se incapazes de afirmar seus direitos ou agir de acordo com seus
próprios sentimentos na maior parte ou em quase todas as situações;
conseqüentemente possuem baixa auto-estima e muita ansiedade frente às
situações sociais. A pessoa não-assertiva situacional pode reconhecer seu
problema e rapidamente iniciar, com sucesso, a asserção, percebendo na sua vida
diária maneiras de ser assertivo consigo mesmo e com os outros, sem ser
instruído para isso. Já a pessoa não-assertiva geral necessita de um tratamento
terapêutico especializado para conseguir desenvolver a assertividade
necessária.
A agressão,
segundo os autores, também pode ser geral ou situacional, sendo que o indivíduo
geralmente agressivo o é em todas as situações, e o indivíduo agressivo
situacional o é em apenas algumas situações. A pessoa geralmente agressiva
aparenta ter muita autoconfiança, mas pode ter atrito com a maioria das pessoas
de sua convivência, sendo extremamente sensível à crítica, sentindo-se
rejeitada boa parte do tempo e ansiosa em quase todas as situações sociais. Já
a pessoa situacionalmente agressiva pode reconhecer esta dificuldade e buscar
voluntariamente assistência ou aceitar a sugestão de alguém de que deve mudar e
aprender respostas mais adaptativas que a agressão.
Comportamentos
agressivos geralmente são sentidos, pelo interlocutor, como punições, a qual,
conforme Skinner (1993a/1953), ao contrário do reforço positivo, traz
desvantagens tanto para o organismo punido como para a agência punidora, gerando
emoções negativas e predisposições para fugir ou contra-controlar.
Sidman (1995)
afirma que a natureza e também a cultura pautam-se, muito freqüentemente, por
práticas coercitivas. Nesta direção, valendo-se de Skinner (1993a/1953), a
psicoterapia, enquanto audiência não coercitiva, tem por objetivo reduzir
aversivos criados por outras agências controladoras (por exemplo religião,
governo) e, portanto, cabe ao terapeuta ensinar formas de contra controle mais
eficazes na redução de
aversivos e
na maximização de reforçadores. O comportamento socialmente adequado, descrito
acima, parece cumprir bem este papel, o que não é igualmente sentido com a
inassertividade e/ou agressividade.
É possível
apontar taxonomias para o comporta-mento socialmente adequado, sendo útil em
processos de avaliações e de intervenções terapêuticas.
Para Caballo
(1991), comportamento socialmente habilidoso implicaria as seguintes
capacidades: iniciação e manutenção de conversações; falar em grupo; expressar
amor, afeto e agrado; defender os próprios direitos; solicitar favores; recusar
pedidos; fazer e aceitar cumprimentos; expressar as próprias opiniões, mesmo os
desacordos; expressar justificadamente quando se sentir molestado, enfadado,
desagradado; saber desculpar-se ou admitir falta de conhecimento; pedir mudança
no comportamento do outro e saber enfrentar as críticas recebidas. As situações
onde estas respostas podem ocorrer são muitas e variadas, como, por exemplo,
ambientes familiar, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte público,
de formalidade etc.
Já Del Prette
e Del Prette (2001b) apresentam uma taxonomia mais completa, quando comparada
com as de Caballo (1991), a qual é organizada em categorias amplas e
específicas: 1) habilidades sociais de comunicação: fazer e responder a
perguntas; gratificar e elogiar; pedir e dar feedback nas relações sociais;
iniciar, manter e encerrar conversação; Del Prette e Del Prette (1999) apontam
também para a adequabilidade de componentes verbais de forma na comunicação:
duração, latência e regulação da fala; 2) habilidades sociais de civilidade:
dizer por favor; agradecer; apresentar-se; cumprimentar; despedir-se; 3)
habilidades sociais assertivas de enfrentamento: manifestar opinião, concordar,
discordar; fazer, aceitar e recusar pedidos; desculpar-se e admitir falhas;
estabelecer relacionamento afetivo/sexual; encerrar relaciona-mento; expressar
raiva e pedir mudança de comportamento; interagir com autoridades; lidar com
críticas; 4) habilidades sociais empáticas: parafrasear, refletir sentimentos e
expressar apoio; 5) habilidades sociais de trabalho: coordenar grupo; falar em
público; resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos; habilidades
sociais educativas; e 6) habilidades sociais de expressão de sentimento positivo:
fazer amizade; expressar a solidariedade e cultivar o amor.
Os autores
acima apontam a importância do auto-monitoramento, definido “...como uma
habilidade meta cognitiva e afetivo-comportamental pela qual a pessoa observa,
descreve, interpreta e regula seus pensamentos, sentimentos e comportamentos em
situações sociais.” (p. 62).
Extraído do
artigo de:
Alessandra Turini
Bolsoni-Silva : Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à luz
da análise do comportamento
Universidade
Estadual Paulista, Bauru.
Interação em Psicologia, 2002, 6(2), p. 233-242