segunda-feira, 11 de julho de 2011

HABILIDADES SOCIAIS ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO (PARTE1)



Neste tópico são apresentadas definições de habilidades sociais e de competência social, seguidas de descrições acerca de avaliação de desempenho social e de modelos explicativos.

 Habilidades sociais

A origem do movimento das habilidades sociais (HS) é freqüentemente atribuída a Salter (1949), considerado um dos pais da terapia comportamental, o qual promoveu técnicas para aumentar a expressividade verbal e facial descritas em seu livro Conditioned Reflex Therapy. Em 1958, Wolpe utilizou pela primeira vez o termo “comportamento assertivo”, referindo-se à expressão de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos (Caballo, 1996).




Não há consenso quanto à definição de habilidades sociais (HS), porém, o termo HS geralmente é usado para designar um conjunto de capacidades comportamentais aprendidas que envolvem interações sociais (Caballo, 1995; Del Prette & Del Prette, 1999). Abaixo são apresentadas algumas definições para análise.

MacKay (1988) critica a definição sobre HS de Alberti e Emmons (1970), a qual enfocaria mais o comportamento da pessoa que o sucesso da interação, pois coloca que a pessoa assertiva é aquela que age em seu interesse, é responsável por si mesma sem sentir ansiedade inadequada, expressa seus sentimentos de forma honesta e exerce seus direitos sem negar

os direitos dos outros. De fato, a pessoa, ao interagir, o faz conforme uma história prévia (antecedentes), e o seu comportamento tem um efeito no interlocutor (conseqüências), o que fatalmente influenciará comportamentos futuros, podendo aumentá-los de freqüência ou suprimi-los, além disso, eventos privados2, enquanto sensações corporais verbalizadas como ansiedade, são subprodutos de contingências, no caso aversivas (Tourinho, 1999).

Alberti e Emmons (1978) parecem ter revisado a definição de 1970 atribuindo maior importância às conseqüências obtidas diante de respostas sociais assertivas, não-assertivas e agressivas. Assim, assertividade seria o processo pelo qual o indivíduo (emissor) expressa sentimentos, pensamentos ao receptor de forma adequada, ou seja, utiliza entonação, latência e fluência de fala apropriadas, ouve o receptor para então responder, de forma a atingir seus objetivos sem prejudicar as relações futuras com o mesmo (Alberti & Emmons, 1978; Caballo, 1987). Não-assertividade ocorre quando o emissor não expressa seus sentimentos, seus pensamentos ao receptor emitindo, muitas vezes, comportamentos contra a própria vontade, ou deixando de defender-se por medo de prejudicar sua relação futura com o receptor, e por isso muitas vezes o emissor é explorado e prejudicado, sem contudo atingir seus objetivos. A não-assertividade nega e inibe a expressão de sentimentos, levando a pessoa a sentir-se ferida, ansiosa e autodesvalorizada, e por conseqüência raramente atinge os objetivos desejados. Já a agressividade, às vezes, permite atingir os objetivos desejados, mas no processo magoa os demais, fazendo escolhas por eles, além de os desvalorizar como pessoas, possibilitando represálias futuras. Por outro lado, o comportamento assertivo permite a auto-apreciação do emissor e uma expressão honesta de seus sentimentos, geralmente atingindo os objetivos desejados, não prejudicando a si mesmo, nem o receptor.

Caballo (1991) apresenta uma definição que explicita um maior número de habilidades, quando comparada à de Alberti e Emmons (1978), pois afirma que comportamento socialmente habilidoso ou mais adequado refere-se à expressão, pelo indivíduo, de atitudes, sentimentos, opiniões, desejos, respeitando a si próprio e aos outros, existindo, em geral, resolução dos problemas imediatos da situação e diminuição da probabilidade de problemas futuros. No entanto, deixa de enfatizar habilidades não-verbais, tais como entonação, latência e fluência de fala apropriadas.

Del Prette e Del Prette (1999) esclarecem que as HS incluem a assertividade (expressão apropriada de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos) e também habilidades de comunicação, de resolução de problemas interpessoais, de cooperação, de desempenhos interpessoais nas atividades profissionais, além de expressão de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos. Porém, apesar desta distinção, os termos são comumente utilizados como sinônimos (Del Prette & Del Prette, 1999; Falcone, 1998; Ca-ballo, 1996).

Para maior detalhamento, vale apontar que Alberti e Emmons (1978) definem comportamentos não-assertivos e agressivos como situacionais ou gerais. A não-assertividade, segundo Albert e Emmons (1978), divide-se em não-asserção situacional e geral. A não-asserção situacional ocorre quando as pessoas se comportam de forma não-assertiva apenas em algumas situações que produzem ansiedade. A não-asserção geral inclui as pessoas em que os comporta-mentos são tipicamente não-assertivos, sentindo-se incapazes de afirmar seus direitos ou agir de acordo com seus próprios sentimentos na maior parte ou em quase todas as situações; conseqüentemente possuem baixa auto-estima e muita ansiedade frente às situações sociais. A pessoa não-assertiva situacional pode reconhecer seu problema e rapidamente iniciar, com sucesso, a asserção, percebendo na sua vida diária maneiras de ser assertivo consigo mesmo e com os outros, sem ser instruído para isso. Já a pessoa não-assertiva geral necessita de um tratamento terapêutico especializado para conseguir desenvolver a assertividade necessária.

A agressão, segundo os autores, também pode ser geral ou situacional, sendo que o indivíduo geralmente agressivo o é em todas as situações, e o indivíduo agressivo situacional o é em apenas algumas situações. A pessoa geralmente agressiva aparenta ter muita autoconfiança, mas pode ter atrito com a maioria das pessoas de sua convivência, sendo extremamente sensível à crítica, sentindo-se rejeitada boa parte do tempo e ansiosa em quase todas as situações sociais. Já a pessoa situacionalmente agressiva pode reconhecer esta dificuldade e buscar voluntariamente assistência ou aceitar a sugestão de alguém de que deve mudar e aprender respostas mais adaptativas que a agressão.

Comportamentos agressivos geralmente são sentidos, pelo interlocutor, como punições, a qual, conforme Skinner (1993a/1953), ao contrário do reforço positivo, traz desvantagens tanto para o organismo punido como para a agência punidora, gerando emoções negativas e predisposições para fugir ou contra-controlar.

Sidman (1995) afirma que a natureza e também a cultura pautam-se, muito freqüentemente, por práticas coercitivas. Nesta direção, valendo-se de Skinner (1993a/1953), a psicoterapia, enquanto audiência não coercitiva, tem por objetivo reduzir aversivos criados por outras agências controladoras (por exemplo religião, governo) e, portanto, cabe ao terapeuta ensinar formas de contra controle mais eficazes na redução de

aversivos e na maximização de reforçadores. O comportamento socialmente adequado, descrito acima, parece cumprir bem este papel, o que não é igualmente sentido com a inassertividade e/ou agressividade.

É possível apontar taxonomias para o comporta-mento socialmente adequado, sendo útil em processos de avaliações e de intervenções terapêuticas.



Para Caballo (1991), comportamento socialmente habilidoso implicaria as seguintes capacidades: iniciação e manutenção de conversações; falar em grupo; expressar amor, afeto e agrado; defender os próprios direitos; solicitar favores; recusar pedidos; fazer e aceitar cumprimentos; expressar as próprias opiniões, mesmo os desacordos; expressar justificadamente quando se sentir molestado, enfadado, desagradado; saber desculpar-se ou admitir falta de conhecimento; pedir mudança no comportamento do outro e saber enfrentar as críticas recebidas. As situações onde estas respostas podem ocorrer são muitas e variadas, como, por exemplo, ambientes familiar, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte público, de formalidade etc.

Já Del Prette e Del Prette (2001b) apresentam uma taxonomia mais completa, quando comparada com as de Caballo (1991), a qual é organizada em categorias amplas e específicas: 1) habilidades sociais de comunicação: fazer e responder a perguntas; gratificar e elogiar; pedir e dar feedback nas relações sociais; iniciar, manter e encerrar conversação; Del Prette e Del Prette (1999) apontam também para a adequabilidade de componentes verbais de forma na comunicação: duração, latência e regulação da fala; 2) habilidades sociais de civilidade: dizer por favor; agradecer; apresentar-se; cumprimentar; despedir-se; 3) habilidades sociais assertivas de enfrentamento: manifestar opinião, concordar, discordar; fazer, aceitar e recusar pedidos; desculpar-se e admitir falhas; estabelecer relacionamento afetivo/sexual; encerrar relaciona-mento; expressar raiva e pedir mudança de comportamento; interagir com autoridades; lidar com críticas; 4) habilidades sociais empáticas: parafrasear, refletir sentimentos e expressar apoio; 5) habilidades sociais de trabalho: coordenar grupo; falar em público; resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos; habilidades sociais educativas; e 6) habilidades sociais de expressão de sentimento positivo: fazer amizade; expressar a solidariedade e cultivar o amor.

Os autores acima apontam a importância do auto-monitoramento, definido “...como uma habilidade meta cognitiva e afetivo-comportamental pela qual a pessoa observa, descreve, interpreta e regula seus pensamentos, sentimentos e comportamentos em situações sociais.” (p. 62).





Extraído do artigo de:
Alessandra Turini Bolsoni-Silva : Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à luz da análise do comportamento
Universidade Estadual Paulista, Bauru.
Interação em Psicologia, 2002, 6(2), p. 233-242