terça-feira, 13 de setembro de 2011

O COGNITIVO SEGUNDO SKINNER #1




















CAPÍTULO 4

B.F. Skinner começou a trabalhar em psicologia depois de graduar-se em Letras e ter tentado, por um ano, seguir a carreira literária. Nesta épocaentrou em contato com o behaviorismde Watson, através de artigos de B. Russell, publicados na revista literária Dial que, por sua vez, o levaram a seu livro Philosophy no qual Watson também é analisado. Passou,  então, a ler WatsonPavlov e Loeb, e finalmentdecidifaze pós-graduaçãePsicologia em Harvardno ano de 1928, já decidido a ser um behavioristSkinner diz que resistiu ao mentalismo reinante em Havargraças a dois colegas behavioristas – F. Keller e C. Trueblood. 

Deve ser salientado desde já que behaviorismo e mentalismo, nesta época, não eram posições excludentes, sendo a rejeição de Skinner ao mentalismo, pelas razões que serão vistas a seguir, justamente o qudiferenciou seu behaviorismdo behaviorismo reinante. Isto não costuma ser reconhecido pelos não-estudiosos de Skinner, mas para el te uma  importância  crucial,  po constituir   cerne  de  sua posição em psicologia.
Além disso, Skinner também diz que estudou pouca psicologia

em Harvard, fazendo pesquisas quase sozinho, sem orientação principalment n laboratóri d Departamento  d Biologi cujo chefe, Crozier, ex-aluno de Loeb, tinha preocupões semelhantes à suas quanto ao objeto de estudo (Skinner, 1979).
Duas influências fundamentais pareceter marcado pensamento dSkinner e guiado o setrabalho epsicologinesteanos iniciais, e posteriormente: a de Loeb, quanto ao objeto de estudo e a de Mach, quanto ao método científico. Embora Skinner cite também    outros autores como WatsonPavlov, Sherrington, Thorndike, Poincaré e Bridgman, estas influências parecem ter sido mais periféricas (Skinner, 1979).
De   Loeb,   Skinner   herdou   a    idéia   de   se   estudar   o
comportamento do organismo como um todo. A esse respeito, ele dique:

"O comportamento parece ter sido aceito pela primeir ve com u tem e seu ppriotermos quando foram estudadoorganismopequenos demais e com comportamentsimpledemais para sugerir processoiniciadores internos... A formulação de Loeb dos tropismos e sua ênfase no
'movimento forçado' dispensavam as explicações internas.  A  cois  ser  estudada  era  comportamento do 'organismo como um todo'. E isto também poderia ser dito de organismomaiores" (1989a, p. 61).


E mais especificamente, Skinner afirma:



"Eu queria estudar o comportamentde uorganismseparado de qualquer refencia à vida mental, e isto era Watson, mas eu também querievitar referências ao sistema nervoso, e isto era Loeb" (1989b, p. 122).



Isto significa que a rejeição de Skinner a referências internas ao organismo não se restringia apenas a eventos mentais não-físicos mas também a fatores internos físicos, como o sistema nervoso.
De Mach, Skinner herdou sua posição quanto ao que deve ser a tarefa da investigação cientifica. Referindo-se à descrição do comportamento, Skinner considera que:


"Como uma disciplina científica, ela deve descrever evento não apenapara si mesmo mas em surelação com outros eventos; e... ela deve explicar ... podemotomar agora a visão mais humilde de explicação e causação que parece ter sido primeiro sugerida por Mach e é agora uma característica comum do pensamentcientífico, na qual, em uma palavra, explicação é reduzida a descrição e a noção de função substitui a de causação. A descrição completa de um evento deve incluir uma descrição de sua relação funcional com eventos antecedentes" (1961a, p. 337-338, grifo do autor).


Com   isto,   Skinner   passa   a   rejeitar   também   hipóteses explicativas  para   comportamento,  o  qu parece  reforçar  suposição anterior, ou seja, de rejeitar explicações mentais ou neurológicas.
Sua posição fica clara quando ela é apresentada pela primeira

ve no  artigo  Th Concept  o th Refle i th Descriptio of Behaviorpublicado em 1930, e que foi parte de sua Tese dDoutoradoSkinner (1979) considera que este artigo era, em parte, um ataque a explicões mentalistas do comportamento e tambéum ataquao que ele considerou ser um mau uso da fisiologia já que Sherrington nunca tinha visto uma sinapse. Para eleas   propriedades   podiam   ser   definidas   operacionalmente   coreferência ao comportamento e ao meio sem mencionar o sistemnervoso. Seu objetivo era traçar a relação do comportamentdo organismo intacto com o meio.
Mais explicitamente, ao tratar do reflexo de flexão, Skinner diz



que:



"Temos estado procedendo, é claro, sobre uma suposição desnecessária, i.e., que  um reflexo de flexão, que existe independentementde nossas observações, e que nossas observações aproximamTal suposição é inteiramentgratuita... Se permanecermos ao nível de nossas observaçõesdevemoreconheceum reflexo como uma correlação..." (1961a, p. 341, grifo do autor).


E mais adiante, ao sintetizar sua posição, ele afirma:



"A história do reflexo tem conhecido apenauma característicpositiva pela qual o conceito pode ser definido: a correlação observada de dois eventos, um estímulo e uma respostaPor outro lado, as características negativas que descrevem o reflexo como involuntário, inconsciente e o-aprendido têprocedido a partir dsuposições não científicas sobre o comportamentdos organismos. O reflexo é tentativamente definido aqui como uma correlaçãobservada de esmulo e resposta" (1961a, p. 346).



A partir deste momento, o behaviorismo de Skinner passa diferenciar-sdo behaviorismo da época sob dois aspectos importantes. No aspecto filosófico, como  mencionado, ele passa rejeitar totalmente o recurso a construtos explanatóriossejam eles mentais ou não. E no aspecto da investigação cienfica, eldesenvolve a noção de comportamento operante.
Dando prosseguimento a suas pesquisas, Skinner modificou procedimento experimentade Thorndike, procurando primeireliminar quaisquer fatores perturbadoreda situação experimental para seu organismo – o rato  e depois escolhendo um ato mais claramentdefinido que a corrida no labirinto  o apertar uma alavanca. Ainda nos experimentos em labirinto, Skinner observou quos ratos o começavalogo uma nova corrida, quando tinham sido alimentados. Marcando os atrasos, ele verificou a existência de uma mudança ordenada no comportamentde seu sujeito, e portanto de um processo a ser melhor investigado. Foi então que ele escolheu a taxa de pressão à barra como sua principal medida. A conclusão a que Skinner chegou, com estas modificações, foi que condicionamento não era a mera sobrevivência de  uma resposta bem-sucedida    eliminação  das  restantes,  como  havia  dito Thorndike em sua teoria da aprendizagem por ensaio-e-erro, mas era um aumento ou fortalecimentda taxa da resposta pelas suas conseências (Skinner, 1978b).
Com base nestas pesquisas, Skinner publicou dois artigos importantes em 1935  The Generic Nature of the Concepts Stimulus and Response e Two Types of Conditioned Reflex and a Pseudo-Type
 e em 1937 publicou uma resposta a dois pesquisadorepoloneses sobre a análise feita por estes autores a seu segundo artigo  Two Types of Conditioned Reflex: A Reply to Konorski and Miller. Foi neste último que Skinner usou, pela primeira vez os termos 'operante' 'respondente' para diferenciar os dois tipos de condicionamento, não considerando-se mais, a partir de então, um psicólogo S-R (Skinner,1978b).

Surge, assim, o novo modelo de condicionamentoperantelido tanto para o comportamento humano quanto para o animalque o substitui o modelo respondentemas passa a dar conta da maio part d comportamento  d vid diária.  Nele comportamentdeixa de ser 'determinado' ou eliciado pelo estímulo antecedente, e passa a ser controlado por uma contingência de ttermos, ou continncia de reforçamentoque envolve um estímulantecedente, a resposta e um estímulo conseente ou reforçadorque fortalece e mantém a resposta.
Com relação à posição behaviorista de Skinner, para ele:



"O Behaviorismo, com um acento na última silabanão é o estudo do comportamento mas uma filosofia da ciência interessada no tema e métodos da psicologia. Se a psicologia é uma ciência da vidmenta –  d mente, d experiênci consciente – então ela deve desenvolver e defender ummetodologiespecial, o que ainda o foi feito com sucesso. Se ela é, por outro lado, uma ciência do comportamentdos organismos, humano ou não, então é parte da biologia, uma ciência natural para a qual estão disponíveis métodos testados e altamente bem sucedidos" (1969a, p. 221).


Skinner ficou com a segundhipótese, como visto, e rejeitou behaviorismo tradicionaque   ele   chamou   de   Behaviorismo Metodológic par diferenciá-l d se Behaviorismo Radical. As principai divergência envolve  mentalism   visã de linguagem operacionalista do Behaviorismo Metodológico.   Segundo Skinner, o Behaviorismo Metodológico o nega a existência de eventos mentais não-físicos; ele apenas os descarta de estudo pouma queso metodológicai.e., por o poder haver uma concordância entre oobservadores, que iria contra os princípios do Positivismo Lógico e do Operacionalismo reinantes na épocaOu seja, o que o BehaviorismMetodológico negava era a possibilidade do estudo científico dos eventos mentais, e não a sua existência. Quanto a Skinnerembora ele tenha negado a existência de evento mentaio-físicosele o negou nem descartou o estudo de eventoprivadofísicos. Para ele, é tarefa da psicologia dar conta desteeventos privados, pelo papel que desempenhano auto- conhecimento e nauto-controle (Skinner, 1974).
Sua posição a esse respeito foi; primeiro explicitada no artigo

The Operational Analysis of Psychological Terms, publicado em 1945. É ai que Skinner expõe mais claramente suas divergências corelação ao Operacionalismo e Behaviorismo Metodológico, e qual deve ser o programa de uma ciência do comportamento interessada em dar conta dos eventos privados.
Com relação ao Operacionalismo, o que Skinner questiona é sua noção de definição e sua teoria da linguagem. Ele diz:


"...o operacionalismo tem uma boa definição de definição, operacional ou outra. Ele não desenvolveu uma   formulação   satisfatória   do   comportamentverbal efetivo do cientista..Definição é um termo chave mas não é definido com rigor. A afirmação original de Bridgman de que o 'conceito é sinônimo do conjunto correspondentde operações' o podser tomada literalmente....não proporciona uesquemgeral de definiçãomuito menos uma afirmação explícita da relação entre conceito e operação" (1961b, p. 272-273, grifo do autor)


A falha desta posição, para Skinner, é o basear-sem uma concepção objetiva do comportamento humano; em concepções maimodernas dorganismo. E é nesta direção que se encaminha a crítica de Skinner ao behaviorismo da época, por considerar que ele foi nada mais que uma análise radical de conceitos mentalistas, não chegando a dar uma formulação aceitável do relato verbal, que deve ser a base da análise de termos psicológicos. Segundo Skinner:


"Par se consistente  psicólogo deve lida com suas próprias práticas verbais desenvolvendo uma ciência empírica do comportamento verbal. Ele não pode, infelizmente, s juntar a lógic a definir uma definição, por exemplo, como uma 'regra para uso de um termo(Feigl); em vez disso, ele deve se voltar para contingências de reforçamento que dão conta da relação funcional entre um termo, como uma resposta verbal, e um estímulo dado. Esta é a
'base operacionalpara seu uso de termos; e o é lógica mas ciência" (1961b, p. 281).



O problema do behaviorismmetodológico pareceentão se dever afato, já mencionado, delo tesido capaz de abandonar as fiões mentalistas. Para Skinner (1961b), aquilo que observamos, e sobre o que falamos, é sempre o mundo 'real' ou 'físico' e a
'experiência' é um construto derivado que deve ser compreendido

através de uma análise de processos verbais seguindo o paradigmde condicionamento operante, por ele desenvolvido. Isto significa levar em conta que uma resposta verbal é dada na presença de uestímulo antecedente e recebe conseqüências, i.e., é reforçada pelcomunidadverbal. No caso da análise operacional de termos subjetivos,  é  preciso  conhece as  características  das  respostas verbais a estímulos privados. O que Skinner quer explicar, então, é o comportamento de falar sobre evento privados, seja ele do cientista ou outras pessoas. Para ele, a solução deve ser psicológica em vez dlógica.
Em outras palavras, os eventos privados físicos existem mas o

que é introspectivamente observado são certos produtos colaterais das contingências de reforçamento que aprendemos a conhecer através das contingências estabelecidas pela comunidade verbal (Skinner1974). Como isto ocorre será visto quando for analisado papel da linguagem.
Mas para melhor compreender a posição anti-mentalista de

Skinner, torna-se necessário rever sua visão de ciência e mais particularmente sua concepção de uma ciência do comportamento. Parte dela já foi mencionada anteriormente; o que se pretende aqui é torná-la mais expcita.
 ciência par ele é   busca  d ordem uniformidade  e relações ordenadas entre eventos da natureza. Assim, para se fazer uma  ciênci do  comportamento  é  necessário  pressupor  que  comportamento é ordenado e determinado, e tentar esclarecer torna explícita esta uniformidad d comportamento (Skinner,1970a).

O método científico, por ele adotado, é o método positivista de Mach que se limita à descrição em vez da explicação, sendo seus conceitos  definidos  e termos  de  observaçõe imediatas.  Seu sistema não requer hipóteses, no sentido de construtoexploratório(Skinner, 1938).
Assim, Skinner (1970a) rejeita as noções de causa e efeito,

substituindo-as pela noção de relação funcional. O que uma ciêncido comportamentdeve fazer é uma análise da relação funcional existent entr  variáve dependente o comportamento,  e  variável independenteou operação realizada fora do organismo, da qual seu comportamento é função. Neste sentido, Skinner nega ququalque fato intern poss determinar  o  comportamento.    As causas psíquicas são rejeitadas por não poderem ser diretamente observadas e por não possuírem dimensões físicas, enquanto as conceptuais por serem meras descrições redundantes. E as causas neurais porque


"Uma ciência do sistema nervoso baseada na observaçãdireta, e não na inferência, eventualmente descreverá os estados e eventoneurais que precedem formas de comportamento.... Verificar-se-à que estes eventos são precedidos por outros eventos neurológicos, e estes, por sua vez, de outros. Esta seência levarnosà de volta eventos fora do sistema nervoso e, eventualmente, para fora do organismo" (Skinner, 1970a, p. 24).



Em suma, Skinner considera que:



"O hábito de buscar dentro do organismuma explicação do comportamento tende a obscurecer as variáveis que estão ao alcance de uma análise cienfica. Estas variáveiestão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental. Possuem um status físico para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas"..."A objeção aos estados interiorenão é a de que eles o existem, mas a de que o o relevanteparuma análise funcional" (1970app.   26 e 28respectivamente).


Neste sentido, Skinner passa a rejeitar teoriapsicofisiológicas, assim como teorias que façam referência seja a eventos mentais seja a um sistema nervoso conceptual, por lançarem o de explicaçõe"de um fato observado que apela a eventos que ocorreem outrlugar, em outro vel de observação, descrita em termos diferentes, medida, se tanto, em dimensões diferentes" (1961c, p. 39).
Isto  não  significa  que  Skinner  seja  contra  teorias  e si mesmas, mas apenas contra teorias que tenham as características descritas acima. No artigo Current Trends in Experimental Psychologele chega a afirmar que a psicologia experimentaestá fadada à construção de uma teoria do comportamentpor ser ela essencial à compreensão científica do comportamento, e descreve os diferentes veis que esta teoria deve possuir (Skinner, 1961d).
Em suma, a concepção mais freqüente que se faz da posição de

Skinner acerca dos processos cognitivos é dque ele, por adotar uma
abordagem behaviorista, rejeita a sua relevância. No entanto, como foi visto, não é esta sua posição. Na verdade, Skinner não descarta importância do estudo dos 'eventos privados'nem mesmo um papepara eles, e não descarta o comportamentque ele chama dencoberto. O que ele procura fazer é, em primeiro lugar, discutir sua origem e, em segundo lugar, avaliar seu papel na determinação do comportamento, e é ai que reside sua rejeição. Para Skinner, explicaçã d comportament deve  se sempre  procurada  nos eventos externos  as contingências de reforçamento.
Com base nessas premissas, o desenvolvimento cognitivo para

Skinnersó poderá ser melhor entendido depois de realizadas as análises que serão apresentadas a seguir a respeito principalmente do papel do meio, do comportamento e da linguagem, assim como de sua concepção dos fatores inatos, do social, da aprendizagem e da relação mente-corpo.


FATORES   INATOS

Skinner o nega a existência de fatores inatos, contrariamente ao que é mais freentementpropagado. Ele insiste mesmo qunenhum estudioso reputávedo comportamento animal jamais tomou a posição de "que o animal vem para o laboratóricomo uma tabula rasa virtualque as difereas entre as espécies são insignificantes, que todas as respostas o praticamente igualmente condicionáveis todos os esmulos" (1969b, p. 173). Segundo sua avaliação o mitde que os behavioristarejeitam o papel de fatoreinatos no comportamento se deve certamente às afirmações exageradas de Watson a esse respeito.
Na realidade, Skinner (1969b) admite que, assim como partes

do comportamento do organismo ligadas à economia interna sempre foram aceitas como herdadas, não há nenhuma razão para não se aceitar que algumas respostas ao ambiente externo também não o sejam. Ele também admite a maturação como sendo uma variáveimportante (1969c, 1969d, 1957). No entanto, ele irá analisar o que são estas respostas, no sentido de como elas surgem: se elas surgem inteiramente prontas em sua forma final e se são imutáveis, ou se não o forem qual é, neste caso, o papel do ambiente externoPara Skinner, na medida em que o comportamento de um organismo é simplesmente a fisiologia de uma anatomia, a herança do comportamento é a herança de certas características corporais, mas como no caso do comportamento estas características não são claras, a questão básica deixa de ser se o comportamento é instintivo ou aprendido, mas se identificamos corretamentas variáveiresponsáveipela sua origem, assim como as que estão atualmentem vigor.
Skinner (1961e, 1969b, 1974) passa então a considerar dois

tipos de comportamento, segundo sua origem: aqueles de origefilogenética, devidos ao que ele chama de contingênciade sobrevivênciai.e., a seleção natural, e os de origem ontogenética, devidos a contingências de reforçamentoNo primeiro caso, os padrões herdados de comportamentteriam sido selecionados pelas suas contribuições à sobrevivência. Uma determinada resposta seria fortalecida pelas conseênciarelacionadas com a sobrevivência do indivíduo e da espécie. No entanto, é preciso consideraque ambiente muda e que o organismo que for capaz de modificar secomportamento  d acordo terá  maio probabilidad de sobrevivência. É esta a origem da possibilidade de condicionamento tanto operante como respondente que se  na ontogênese. Neste sentido, o processo de condicionamento operante, por exemplo, deve ter surgido por causa de suas conseênciafilogenéticas. Oestímulos reforçadoreprimários o aqueles que são cruciais para a sobrevivência como alimento, água, contato sexual e fuga de dano físico. Assim, qualquer comportamentque os produzir terá valor de sobrevivência e se tornará mais provável. Isto é, por tanto, inato. Mas, embora estes mecanismos que permitem a modificação do comportamentna ontogênese sejam herdados, para Skinner, comportamentaprendido o emerge e o é uma extensão do comportamentnão-aprendido. Ao fazer uma analogia entre seleção natural, ou contingências de sobrevivência, e condicionamento, ou contingências de reforçamento, Skinner observa que em ambos os casos deve haver primeiro certa variabilidadde respostas para que possa haver seleção. Segundo suas próprias palavras:


"As contingênciaontogenéticas permaneceineficazeaté que uma resposta tenha ocorrido. rato deve pressionar a barra pelo menos uma vez
'por  outras  razões'  ante d pressioná-la  'por

alimento'.  Há  um limitaçã simila nas contingências filogenéticasUm animal deve emitir um grito pela primeira vez por outrarazões anteque o grito possa ser selecionado como um aviso por causa da vantagem para a espécie. Disso se segue que todo o reperride um indivíduo ou espécie deve existir antes da seleção ontogenética ou filogenética, mas apenana forma de unidademínimas Amba a contingências  fil e ontogenéticas 'modelam' formas complexas de comportamento a partir de material relativamente indiferenciado. Ambos os processos são favorecidos se o organismapresentaum repertório extenso, indiferenciado" (1969b, p. 175-176)


Isto significa que, para Skinner, nenhum comportamento seja ele de origem filo ou ontogenéticasurge pela primeira vez em sua forma  final   acabada.  Em  ambo os  casos  é   ambiente  que seleciona, modelandassim formafinais, que na verdade nunca são finais na medida em que o ambiente está semprde alguma formmudando.
A partir destas considerações, Skinner analisa algumas relações e misturas existentes entre as variáveis filo e ontogenéticas. Serão revistos aqui alguns de seus exemplos que ilustram sua posição.
Em primeiro lugar, Skinner (1969b) considerque alguns comportamentos  d origem  filogenética  pode te surgidinicialmente a partir de comportamentos de origem ontogenética. Um exemplo disto é o comportamento do cão de dar voltas em torno dsi mesmo antes de deitar-seSkinner imagina que este tipo de comportamento  operant pod ter  vantagen filogenéticas  como livrar-se de insetos, ter melhor visibilidade de predadores, temovimento mais rápido em uma emergência. Neste caso, aquelees que davam voltas ao deitar-se tiveram maior probabilidadde sobrevivência e isto pode ter-se tornado o facilmente condicionável como um operante que eventualmentapareceu sem reforçamentotornando-se 'instintivo'.
Em   contraposição  a   isto,   Skinner   também  analisa   como

comportamentos de origem ontogenética podem ter surgido a partide comportamentode origem filogenética. É preciso considerar segundo Skinner, que o comportamento relativamente indiferenciado a partir do qual os operantes são selecionados é presumívelmente um produto da filogênese. Ele cita como exemplos a agressão e imitação. Skinner (1970a1972a, 1972b) admite que o indivíduo já traga algum repertório que envolva respostas de atacar, morder, bater ou de mover-sda mesma maneira que acabou de ver outra pessoa mover-se. Mas isto não significa que esta explicação estejcompleta. Para Skinner o as conseênciaatuais destecomportamentoque passam a controlar os comportamentos semelhantes futuros. Ele diz que:


"Por exemplo, se uma criança irada ataca, morde ou golpeia outra criança, tudo sem pvio condicionamento – e se a outra criança chora e fogeentão as mesmas conseqüências podem reforçar outros comportamentos da criança zangada qudificilmente poderiaser inatos  por exemploimportunar a outra criança, tirar o brinquedo dela, destruir seu trabalho, ou dizer-lhe nomes feios" (1970a, p. 99).


Isto significa que o que é herdadnão é tanto a forma ou topografida resposta mas a suscetibilidade de ser reforçadde determinadas maneiras. Um exemplo clardisto está na análise que Skinner (1974) faz do comportamentde seguir do patinho. No ambiente natural, patinho apresenta o comportamentde seguir que tem valor de sobrevivência; logo sua origem parece ser filogenética. Mas o que patinho herda o é, segundo Skinner, o comportamentde seguir mas a suscetibilidadde ser reforçado pela proximidade do objetoIsto pode ser comprovado através de uma situação experimental na qual o comportamento de seguir provoca o afastamento do objeto enquanto que o se afastar provoca sua aproximação. Neste caso, observa-se que o patinho irá se afastar do objeto e o aproximar-se dele ou seguí-lo. Skinner conclui que: "Apenas conhecendo o que como o patinho aprende durante sua vida podemoestar seguros do que está equipado para fazer ao nascimento(p.46). No caso do sehumano, Skinner considera que, poexemplo, dizer que a inteligência é herdada não significa dizer que formas específicade comportamento sejam herdadas. Para ele:


"Contingências filogenéticapossivelmente responsáveipela 'seleção da inteligência' não especificam respostas. O que foi selecionado parece ser uma suscetibilidade para contingências ontogenéticas qu leva particularment  uma maior velocidade de condicionamento e a capacidade d mante u repertóri maio se confusão(1969b, p. 183).


Outros dois exemplos ilustram a queso de se considerar o comportamentapresentado no ambiente dito natural como sendo o comportamentrepresentativo da espécie. No primeiro, Skinne(1969b)  relat u experiment co u porco-marinho  n qual foram condicionadas diferentes respostasSeu repertório padrão logo extinguiu-se    porco-marinho começou   apresentar  respostas nunca observadaem sua espécie, mas em outras. Skinner diz que essas respostas não teriam sido incluídas em um inventário da raça observada não fosse pelas contingências não-usuais que tornaram altamente   provável   que   todo   o   comportamento   disponíveaparecesse. E no segundo exemplo, Skinner comenta que: "Ochimpan qu 'tripularam'  o primeiro satélite foram condicionados sob complexas contingências de reforçamento, e seu comportamento fo log descrit com 'quase-humano"' (p 202-
203).    Ist parec mostra não  só   limitaçã d conceit de

ambientnatural mas também o amplo papel exercido pelas contingências de reforçamento.
Para    Skinner    (1969e,    1974),    muitos    comportamentos

considerados universais específicos da espécie são universais porque as contingências sociais ou não-sociais são universais. No caso do ser humano, os aspectos universaida linguagem o implicam uma dotação genética universal, mas são as contingênciaarranjadas pocomunidadeverbais que têm aspectos universais. O mesmo poderia ser dito, segundo Skinner, sobre alguns conceitos freudianos como o complexo de Édipo, por exemplo. Ele diz a esse respeito que:


"A análise de Freud tem parecido convincentpor causa de sua universalidade, mas são as contingênciaambientais em vez da psique que são invariantes... Os aspectos universais ditos característicos das comunidadelingüisticas surgedo papel desempenhadpela linguagem na vida diária" (1974, pl67).


Um último exemplode um pássarafricano que guia o homem até uma colméia cantando e voando até ela, mostra como ucomportamentconsiderado instintivo pode apresentar tambéaspectos operantes. O canto inicial do pássaro, eliciado pela presença do homem, portanto, incondicionado, serve de aviso ao homem de que ele está pximo de uma colméia. Os diferentes comportamentos apresentados pelos dois 'parceiros' mantêm então uma cadeia de respostas que tem como elo final o homem encontrar a colméia, queb-l   pássaro  comer  os  restos  deixados  pel home(Skinner, 1969b).
Este diferentes  exemplos  parecem  mostrar   limitã do

enfoque metodológico da observação naturalista dque é inato.

Antes de concluir, convém abordar como Skinneencara o caso específico do homemEle considera que "a evolução do homem teenfatizado a modificabilidade em vez da transmissãde formas específicas de comportamento(1961e, p. 36.05). E diz isto quandanalisa o comportamentverbal. Para Skinner, o comportamentverbal o é um refinamentdos gritos instintivos de alarme dos animais porque os mecanismos envolvidos na aquisição do comportamento verbal o separa das respostas instintivas. No caso dos gritos instintivos, eles o respostas emocionais inatas que são difíceis, se não impossíveis de modificar pelo reforçamento operanteEnquanto o balbucio do bebê humano o é eliciado mas envolve respostas indiferenciadas (1957). Am disso, Skinner (1969btambém afirma que: "O homem o 'escolheu a inteligência sobre instinto'; ele simplesmente desenvolveuma sensibilidade a contingências ontogenéticas que tornou as contingências filogenéticas e seus produtos menos importantes" (p. 205).
Concluindo, então, em última instância todo comportamento é herdado, no sentido de que até o 'repertório extenso, indiferenciado', a partir do qual é modelado o comportamento operante, tem uma origem filogenética. Além disso, os estímuloque têm o poder de reforçar o comportamento também têm essa origem. Entretanto, é preciso atentar que mesmo este repertório, considerado 'inato', fo'modelado' pelas contingências ambientais de sobrevivência, i.e., seleção natural que também é responsável pelo poder reforçador doestímulos. Os diferentes exemplos analisados mostraram que tanto comportamento 'inato' pode ter uma origem ontogenética quanto comportamento ontogenético surge de um repertório básico inato. Mas o mais importante a ser consideradnão é tanto a forma do comportamento mas a suscetibilidade de ser reforçado de uma ou outra maneira. É isto que diferencia as espécies. Além disso, uma outra noção a ser rejeitada é a de ambiente natural por ela ocultar repertório possível da espécie; o que é universal o as contingências e não o comportamento. Também é preciso considerar quem alguns casos o comportamento apresentado não é apenas inato, sobre este podem entrar em ação variáveis ontogenéticas que se misturam às filogenéticas. Quanto ao homem, as contingênciaontogenéticas tornaram-se mais importantes que as filogenéticas.
O que Skinner procura sempre enfatizar então é o papel do

ambiente, ou seja, das contingências ambientais, sejam elas filo oontogenéticas.
É este papel do ambiente ou meio que será analisado seguir.


CONTINUA!!