terça-feira, 13 de setembro de 2011

O COGNITIVO SEGUNDO SKINNER #2




PAPEL DO  MEIO

Skinner (1961e) se refere, por um lado, a um meio interno relacionado às funções orgânicas e, por outro, a um meio externo relacionado ao comportamento que é o que lhe interessa. No entanto, como será visto posteriormente, ele também admite que parte do ambiente relacionada ao comportamento está encerrada dentro da ppria pele do indivíduo, sendo portanto privada.
Skinner (1961f) também se refere a um meio físico e a um

meio social. O que se visto aqui diz respeito principalmente ao meio






físico que seus princípios gerais também são lidos para o meio social. As especificidades deste último serão tratadas posteriormente quando for analisado o papel da cultura e do social.
Mas o papel do meio o pode ser analisado sem antes termos uma noção geral de como Skinner concebe comportamento, meio e suas  relões,  i.e.,  seu  enfoque  metodológico.  Para  isto  será preferível rever sua postulação inicial tal como apresentada em The Behavior of Organisms. Isto nos levará a tratar também do comportamento nesta parte tendo em vista que comportamento e meio o podem ser concebidos independentemente um do outro.
Neste seu primeiro livro publicado em 1938, Skinner considera que o comportamento é apenas parte da atividade total de um organismo, é aquilo que o organismo está fazendo, ou melhor, é a parte do funcionamento do organismo engajado em agir sobre o mundo externo. Mas para se fazer uma ciência do comportamento torna-se necessária uma delimitão formal, independente do vernáculo, já que muitos dos termos deste implicam esquemas conceptuais, o que é rejeitado por Skinner como foi visto anteriormente.
Além  disso,  para  Skinner,  para  se  fazer  ciência,  é  preciso

estabelecer relações funcionais, o que implica que, no caso do comportamento, ele deve ser concebido em sua relação com o ambiente. É assim que ele diz que:


"O ambiente entra em uma descrição do comportamento quando pode ser mostrado que uma determinada parte do comportamento pode ser induzida à vontade (ou de acordo com certas leis) por  uma  modificação  em  parte  das  forças  que






afetam o organismo. Tal parte,  ou   modificação de uma parte do ambiente é tradicionalmente chamada de um estímulo e a parte correlacionada do comportamento  uma  resposta.       Nenhum    dos termos pode ser definido quanto a suas propriedades essenciais sem o outro. Para a relação observada entre eles usarei o termo reflexo..." (Skinner, 1938, p. 9, grifos do autor)


O reflexo é concebido, então, como uma correlação e possui o status de unidade analítica, mas o é a única já que Skinner admite uma  outra  unidade  de  análise,  que  se vista  logo  a  seguir,  a resposta operante.
Contudo, é preciso conhecer quais os critérios adotados por Skinner para definir essas 'partes' do ambiente e 'partes' do comportamento. Para ele, é preciso que elas retenham sua identidade durante um experimento e que as mudanças por elas sofridas sejam ordenadas de maneira que a unidade seja reprodutível. Por isso, a subdivisão o pode ser arbitrária nem levar em conta apenas o aspecto topográfico, pois é muito difícil encontrar um estímulo e uma resposta que mantenham exatamente as mesmas propriedades topográficas em duas ocasiões sucessivas. O critério deve ser outro. Referindo-se ao reflexo de flexão, Skinner considera que a maioria das propriedades do estímulo e da resposta como a localização exata do estímulo, sua energia ou a direção da resposta de flexão são irrelevantes. Para  ele:  "As  únicas  propriedaderelevantes  são  a flexão (a redução do ângulo feita por segmentos adjacentes de um membro em determinada junta) e um dado tipo ('nocivo') de estimulação aplicada a uma área bastante ampla" (1938, p. 34).






Skinner irá lidar então com uma classe de estímulos e uma classe de respostas, sendo a correlação encontrada uma correlação de classes. Isto posto, o problema passa a ser de encontrar as propriedades definidoras corretas. Skinner (1938) considera que é preciso primeiro observar algum aspecto do comportamento que ocorre repetidamente sob estimulação geral e, em seguida, descobrir os estímulos que eliciam essas respostas por exploração. Assim, a propriedade definidora do estímulo é identificada como a parte comum aos diferentes estímulos que são eficazes. Isto significa que é impossível definir  um  esmulo  funcional  sem  refencia  a  uma  resposta funcional, e vice-versa.
A partir destas noções gerais, Skinner (1970a) admite dois, e

apenas dois, processos de condicionamento suscetíveis de alterar a probabilidade da resposta. São eles o condicionamento respondente e o condicionamento operante. No paradigma respondente, ou pavloviano S-R temos inicialmente um estímulo incondicionado que elicia uma resposta respondente. Quando este estímulo (S) é emparelhado, ou apresentado conjuntamente, com um S neutro para esta resposta (R), este último passa a seguir a também eliciar a R. Neste caso, ele passa a ser um S condicionado e a R uma R condicionada. O importante a ser notado aqui é que este processo de condicionamento proporciona novos estímulos controladores mas não pode acrescentar novas respostas que uma R precisa ser primeiro eliciada antes de ser condicionada, ou seja, ela já deve existir no repertório  do  organismsob  a  forma  de  uma  resposta incondicionada.  Além  disso,  está  envolvida,  neste  processo, uma form d determinação   linear   n qual dad u esmulo condicionado ou incondicionado, a resposta surge obrigatoriamente. Para dar conta da maior parte do comportamento é preciso, então,






lançar o do processo de condicionamento operante. No paradigma operante skinneriano S-R-S temos uma contingência de ts termos que envolve: a condição sob a qual o comportamento ocorre, ou S antecedente; o pprio comportamento, ou R e a conseência deste comportamento, ou S conseqüente. Neste caso, é preciso enfatizar que o papel dos estímulos é diferente do processo anterior, eles não eliciam obrigatoriamente uma R operante, mas apenas modificam a probabilidade de que ela ocorra. É através do condicionamento operante, então, que o meio modela e fortalece, ou mantém, um repertório comportamental.
O que será visto a seguir se refere, então, aos diferentes papéis exercidos pelo meio dentro do paradigma operante já que foi através deste que Skinner desenvolveu sua ciência do comportamento. Serão abordados, assim, os diferentes tipos de estímulos antecedentes e diferentes tipos de estímulos conseentes que podem ser encontrados, os diferentes papéis por eles exercidos sobre o comportamento, as diferentes formas de apresentá-los, ou torná-los contingentes,  e  outras  condições  que  também  devem  ser consideradas para se prever a probabilidade de emissão de uma resposta.
Começaremos pelo S conseqüente, ou S reforçador, isto é, pela parte R-S da contingência de ts termos. Segundo Skinner (1970a), os Ss reforçadores modificam a probabilidade de ocorrência da R. Eles o de dois tipos: os reforçadores positivos cuja apresentação contingente à R aumenta sua probabilidade de ocorrência futura, e os reforçadores negativos (ou Ss aversivos) cuja remoção contingente à R também aumenta sua probabilidade. Por outro lado, as operações opostas com estes dois tipos de reforçadores provoca o efeito oposto. Neste caso, a retirada de um reforçador positivo e a apresentação de






um  reforçadonegativo  diminuem  a  probabilidade  de  ocorrência futura da R e são chamadas de punição. De uma maneira geral, se pode saber se um determinado S reforçador é positivo ou negativo para determinado organismo testando-o diretamente. Isto é, se sua apresentação aumentar a taxa da R ele é positivo; se sua remoção aumentá-la, ele é negativo. Isto significa que de uma maneira geral um S reforçador não é positivo ou negativo em si mesmo e que ele é definido como sendo positivo ou negativo a partir de seus efeitos provocados na taxa da R. Isto ocorre porque apenas alguns Ss reforçadores são positivos ou negativos de forma inata ou incondicionada; o os Ss reforçadores primários. Entre outros, os positivos incluem alimento, água, contato sexual, e os negativos incluem barulho forte, luz brilhante, choque. Os demais Ss reforçadores são condicionados, ou secundários. Ou seja, adquiriram seu valor de reforçador positivo ou negativo a partir da história passada de reforçamento; de sua inclusão em uma determinada contingência de reforçamento (Holland e Skinner, 1969). Isto ocorre d seguint maneira u  antecedente   incluíd e uma contingência na qual está presente um reforçador positivo será também um S reforçador positivo mas da R que o antecede. Neste caso, ele se um S conseqüente desta R, portanto, reforçador. Isto poderá ser melhor ilustrado através do seguinte exemplo: S1 (na Presea do pai e do pipoqueiro)-R1 (a criança pede dinheiro ao pai)- S2 (a criança recebe dinheiro do pai)-R2 (a criança dá dinheiro ao pipoqueiro)-S (a  criança  recebe  a  pipoca).  Temos  aí,  então,  a seguint contingência S1-Rl-S2-R2-S3     n qual   S1     é   u S
discriminativo (Sd  ) que indica à criança a ocasião para ela pedir

dinheiro e ser reforçada, ou seja, recebê-lo, e ela assim o faz através da R1  e é realmente reforçada através de S2. Isto, ou seja S2, lhe






indica a ocasião de dar dinheiro ao pipoqueiro (R2) e ser reforçada (S3). Este esquema mostra que o S2 é ao mesmo tempo um S conseente, ou reforçador positivo, para R1 e um S antecedente, ou Sd , para R2. E é por estar associado ao S3, que é um reforçador positivo, que ele também se torna um reforçador positivo condicionado. Isto significa que para que a criança possa dar a R2, e preciso que ela produza a ocasião (S2) para que ela aconteça , e a criança faz isto através da R1.
Este esquema também nos permite abordar outro conceito de Skinner que é o de reforçador generalizado. Um reforçador condicionado, ou secundário, pode se tornar generalizado se for associado   vários  tipos  de  reforçadores  incondicionados,  ou primários. É o caso do dinheiro, de um diploma, da atenção, aprovação, afeto e submissão. Todos estes Ss costumam indicar a probabilidade de reforçamento positivo futuro se uma determinada R for dada (Holland e Skinner, 1969; Skinner, 1970a).
O exemplo acima envolveu apenas Ss reforçadores positivos. Podemos examinar um exemplo em que estejam envolvidos Ss aversivos para caracterizar duas formas de comportamento a eles relacionadas: a fuga e a esquiva (Skinner, 1970a). Uma criança pode, ao ouvir o som da broca do dentista, começar a chorar para fugir do som da broca que se tornou um S aversivo condicionado, ao ser associado à dor provocada pela broca, e assim se esquivar da dor que é o S aversivo incondicionado.
Corelação  aos   Ss   antecedentes,   eleagem   antedo

aparecimento da R, envolvendo a parte S-R da contingência de ts termos mas eles o eliciam a R como no paradigma respondente , apenas modificam a probabilidade de ocorrência da R por terem sido associados a Ss conseqüentes. Os Ss antecedentes caracterizam o






processo de discriminação. Nos exemplos acima, o dinheiro na mão da criança e o som da broca são Ss discriminaticos para a criança responder dando dinheiro ao pipoqueiro e chorando, e ser reforçada ao receber a pipoca e evitar a dor provocada pela broca. Eles indicam à criança a probabilidade dela ser reforçada se apresentar as Rs requeridas pela contingência. Esta discriminação se estabelece pela história passada, ou seja, de uma certa forma o Straz 'embutido' nele a história de reforçamento. Am disso, a criança poderá apresentar essas duas Rs na presea de Ss parecidos ao dinheiro (uma ficha) e ao som da broca devido ao processo de generalização de Ss. Neste caso, a criança estará respondendo a estes Ss ficha e som parecido ao da broca embora nunca tenha sido submetida a esta contingência (Holland e Skinner 1969; Skinner, 1970a).
Temos então que á probabilidade da R depende da contingência na qual ela está inserida, i.e., de sua relação com os Ss antecedente e conseente. Mas há um outro fator fundamental que irá determinar a taxa da R, ou padrão de comportamento, que são os esquemas de reforçamento. Uma R pode ser reforçada toda vez que ela ocorre, como no reforçamento contínuo, mas o caso mais comum é que ela seja reforçada apenas algumas vezes, como no reforçamento intermitente. Assim, ela pode ser reforçada depois que um certo número de Rs tenha sido dado como no caso do esquema de razão que pode ser fixo ou variável – a cada 5 Rs ou a cada 3, 6, 7 Rs ou depois de decorrido um tempo determinado como no esquema de intervalo que também pode ser fixo ou variável a cada 2' ou a cada
30", 1'. Estes 4 tipos de esquemas intermitentes de reforçamento

levam a padrões picos de R. Além disso, eles podem ser combinados de diferentes formas gerando um novo padrão específico. O importante aqui é salientar que o pprio padrão de comportamento






pode  se  tornar  um  S.  Ou  seja,  o  pprio  comportamento  do organismo se torna uma variável independente. Ferster e Skinner (1957) dizem a este respeito que:


"Pode ser mostrado que, sob determinado esquema de reforçamento, geralmente prevalecerá, no momento  do  reforçamentoum  determinado conjunto de Ss... O reforçamento ocorre na presença de tais Ss, e o comportamento futuro do organismo está  em  parte  controlado  por  eles  ou  por  Ss similares de acordo com o princípio bem estabelecido de discriminação operante... O comportamento do organismo sob qualquer esquema é expresso como uma função das condições prevalecentes sob o esquema, incluindo o comportamento do pprio organismo" (p. 3).


Dito de outra maneira, isto significa que um esquema de reforçamento impõe determinado desempenho e este gera Ss que entram também no controle da taxa da R. Assim, o comportamento do organismo também é parte do meio estimulador (Skinner, 1961f ).
Vimos, então, que o comportamento é função das seguintes

variáveis independentes: Ss antecedentes, contingências de reforçamento aí incluídos os esquemas de reforçamento e o pprio comportamento. Mas existem outras variáveis independentes que devem ser consideradas (Skinner, 1969c, 1970a, 1970b). No campo da motivação, temos a privação e a saciação. Por exemplo, um organismo come se privado de alimento. Ou seja, para que o organismo responda de determinada maneira para ser reforçado por






alimento é preciso que ele tenha sido previamente privado  alimento, sem isto não se observará o efeito do reforçamento operante. No campo da emoção, a apresentação de um S aversivo pode se assemelhar a um aumento da privação já que podemos condicionar qualquer comportamento que elimine o S aversivo. Skinner também menciona a administração de drogas e a idade como variáveis independentes.
Com exceção ao que se refere ao comportamento como sendo

também uma variável independente, o que foi visto até aqui diz respeito a estímulos externos dos quais o comportamento é função. Contudo, Skinner (1970a) admite que Ss privados como os interoceptivos e proprioceptivos também podem ter um papel no controle do comportamento. A esse respeito, ele considera que:


"Quando dizemos que o comportamento é função do ambiente, o termo 'ambiente' presumivelmente significa qualquer evento no universo capaz de afetar o organismo. Mas parte do universo está encerrada dentro da ppria pele de cada um.... uma pequena parte do universo é privada" (p. 148-149)


Isto significa que Ss internos podem desempenhar tanto papel de Sd quanto de Ss reforçadores. Contudo, a análise do controle privado do comportamento deverá ser postergada até o final deste capítulo quando se analisada mais especificamente a noção de cognitivo em Skinner, já que ela irá depender das análises dos papéis da linguagem e do social a serem realizadas logo após a análise do comportamento que se vista a seguir.