Breve Análise Comportamental da Depressão
Tenho acompanhado um pouco assustado o aumento da quantidade de pessoas com depressão. A cada dia fico sabendo de novos casos. Alguns, inclusive, tiveram desfecho com tentativas de suicídio.
O mundo está ao contrário e ninguém reparou? (Relicário - Cássia Eller) Parece que as pessoas não estão mais conseguindo se envolver em atividades que deem prazer a elas, ou sequer tem tempo para descansar de suas obrigações. Eu estava lendo um livro para o estágio em Tanatologia que se chama O que é morrer¹, de autoria de José Luiz de Souza Maranhão, no qual o autor comenta que as pessoas não tem tempo mais nem mesmo para vivenciarem o luto de suas perdas e elaborá-las. São, muitas vezes, consideradas fracas e inadequadas se não estiverem em condições de voltarem às suas obrigações imediatamente, e isto pode gerar um acúmulo de angústia e estresse prejudiciais.
¹ - este livro merece uma postagem inteira dedicada a ele. Procurarei fazê-la assim que possível.
O Código Internacional de Doenças (CID-10) descreve a depressão (F32 a F33) com os seguintes sintomas:
"o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido"
Como a Análise do Comportamento entende a depressão?
Outro ponto levantado pelos autores é a extinção. Pesquisas em laboratório demonstram que, se uma extinção generalizada é exposta após uma história de reforço, os sujeitos demonstram fortes sinais de depressão (abulia, não responsividade). "Os efeitos da perda súbita de reforço são tipicamente graves"(sic), afirmam os autores, especialmente quando aquela fonte de reforço mantinha grande parte do repertório do indivído.
Por exemplo, aquela pessoa cuja vida toda girava em torno do trabalho, a qual não tinha mais nem uma outra fonte de distração, prazer, etc. Se ela perder o trabalho, as chances de entrar em depressão são bem maiores do que daquela pessoa que se envolve em outras atividades que ocupam seu tempo, dão prazer, etc.
Também é comum entre os depressivos, histórias de punição longas e sem possibilidades de fuga, como aquelas associadas a bullying ou pais e professores extremamente exigentes e críticos. A situação piora ainda mais quando, além disso tudo, os comportamentos que poderiam remover aquela estimulação aversiva também são punidos.
Pesquisas mostram que a exposição repetitiva a ambientes punitivos gera uma redução generalizada do repertório comportamental do indivíduo, a qual pode interferir, inclusive, no efeito de reforçadores disponíveis no ambiente em outras situações. Os autores citam, inclusive, um caso no qual uma mulher que, quando criança sofrera abuso sexual de seu pai, não conseguia fazer sexo com o marido, depois de adulta. Não conseguia sentir tesão por ele, mesmo descrevendo-o como uma pessoa amável, gentil e sensível. Esta sensibilidade apenas piorava a situação da mulher, pois ela acreditava que o problema era com ela. "O esforço de intimidade sexual frequente induzia a longos discursos de autocrítica"(sic).
Falando ainda das consequências que podem ajudar a instalar e manter o comportamento depressivo, os autores comentam o reforço do comportamento de angústia. Sabe-se que, através de expressões de tristeza, choro, reclamações, etc., é possível que se consiga uma diminuição da cobrança e punição impostas por outras pessoas. Existem pesquisas que demonstram que, inclusive, estes comportamentos podem ser generalizados para outros ambientes em que o reforço imediato a eles não esteja presente. Nestes casos, ainda pode passar a ser mantido por reforço positivo (atenção, carinho) dos outros que veem a pessoa triste, o que também reforça positivamente este comportamento.
A discussão não para por aqui. Existem também estímulos antecedentes que contribuem para a instalação e manutenção do comportamento depressivo. Indico a leitura do referido artigo a quem se interessar por eles.
Fonte site: http://www.comportese.com/2010/03/breve-analise-comportamental-da.html