segunda-feira, 18 de abril de 2011

ESCOLAS MATAM A CRIATIVIDADE?




Em um mundo tão grande como o que vivemos hoje, às vezes nem nos damos conta da quantidade de ideias que surgem e merecem ser espalhadas. Se você já ouviu a frase “ideias que merecem ser espalhadas” ou “ideas worth spreading”
sabe do que estamos falando. Isso mesmo, do TED .Para quem não conhece, o TED surgiu no ano de 1984 nos Estados Unidos, mais especificamente, na Califórnia e consiste basicamente em um circuito de palestras com quem tem ideias que valem a pena espalhar.


ASSISTA E CONFIRA:


KEN ROBINSON

"A escola mata a criatividade"

Consultor de governos europeus, o professor inglês diz que o sistema educacional inibe as habilidades pessoais. E que nem todos precisam ir à universidade








KEN ROBINSON

"A escola mata a criatividade"

Consultor de governos europeus, o professor inglês diz que o sistema educacional inibe as habilidades pessoais. E que nem todos precisam ir à universidade

Patrícia Diguê

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Ele elaborou para o ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair
relatórios de estratégias sobre criatividade e educação


O mundo se divide em duas categorias de pessoas: aquelas que dividem o mundo em duas categorias e aquelas que não.” Arrancando gargalhadas do público de suas conferências, o especialista em educação e criatividade britânico Ken Robinson, 50 anos, questiona por que a maioria das pessoas passa a vida odiando o que faz, “apenas esperando pelo final de semana”, enquanto outras conseguem descobrir seu “elemento-chave”, termo criado por ele que significa a junção do que se faz bem com o que se ama fazer. Robinson conclama o mundo para uma revolução na educação, criando nas escolas um ambiente propício para que os talentos floresçam. Em sua opinião, aquele que não está preparado para errar jamais fará algo de original.


"A maioria das pessoas leva a vida sem nenhum prazer no que faz.
Apenas toca a vida, esperando pelo sábado e o domingo"



“O atual sistema educacional mata a criatividade”, afirma. “As escolas estão obcecadas em colocar os alunos na universidade”, diz. Professor emérito da Universidade de Warwick, na Inglaterra, Robinson foi consultor de governos europeus, asiáticos e americano. Na Grã-Bretanha, elaborou para o primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007) relatórios de estratégias sobre criatividade, cultura e educação e participou do processo de paz da Irlanda do Norte nos anos 90. Alcançou o grande público com seus livros, que defendem a bandeira do talento e da criatividade. Ele já publicou três best sellers traduzidos para mais de 15 idiomas, mas apenas o terceiro, o recém-lançado “O Elemento-Chave” (Ediouro), está disponível para os brasileiros. Sua popularidade aumentou ainda mais depois que suas conferências foram colocadas no prestigioso site TED, palco de palestras de grandes lideranças mundiais.


"As crianças vivem em um mundo digitalizado e nossa educação é do século passado.Falhamos em conectar os estudantes aos seus talentos"

ISTOÉ -

O que significa elemento-chave?

KEN ROBINSON -

É o que uma pessoa faz naturalmente bem, se divertindo e se sentindo confortável. Pode ser qualquer coisa, como tocar guitarra ou ser bom em matemática. Mas encontrar seu elemento-chave não é somente fazer algo muito bem, porque há muitas pessoas que são boas no que fazem. É também amar o que se faz. Se você gosta daquilo que faz bem, efetivamente está em seu elemento. Mas a maioria das pessoas não tem esse sentimento quando pensa no trabalho delas. Elas levam a vida sem nenhum prazer no que fazem. Frequentemente, não estão fazendo a coisa certa – e não sabem qual é a coisa certa. Então apenas tocam a vida, sem nenhum sentido.

ISTOÉ -

Como fazer, então, para identificar o que você gosta realmente de fazer?

KEN ROBINSON -

Uma das formas de perceber se você está em seu elemento é analisar, por exemplo, seu senso de tempo. Se você faz alguma coisa de que gosta, uma hora pode passar em cinco minutos. E o contrário também é verdadeiro. Se você faz alguma coisa de que não gosta, cinco minutos se tornam uma hora e você passa a semana apenas esperando pelo sábado e o domingo. Além disso, se a pessoa faz o que gosta, no fim de semana se sente fisicamente cansado, mas não espiritualmente. Se perguntar por que essas pessoas não fariam outra coisa, não vão nem entender o que você quer dizer, vão dizer que o que elas fazem na vida é o que amam fazer, não se imaginam fazendo outra coisa e não querem mudar.

ISTOÉ -

Mas há algum tipo de passo a passo?

KEN ROBINSON -

A primeira lição é acreditar que todos nós temos talentos naturais e habilidades reais. Mais do que isso, temos o direito de descobrir e explorar isso. É preciso ter fé em nós mesmos. Uma recomendação é a pessoa gastar um tempo consigo mesma, para pensar o que ela realmente gosta de fazer e o que teria prazer de fazer para a vida toda. Depois que descobrir, é preciso estar disposta a arriscar, aproveitar e explorar essas oportunidades e talentos, tentando várias coisas diferentes, se deixando sentir tolo às vezes, sabendo lidar com críticas e enfrentando os próprios medos.

ISTOÉ -

Existe uma idade certa para isso?

KEN ROBINSON -

A pessoa pode descobrir seu talento em qualquer idade. Conheço pessoas que encontraram seu elemento-chave quando já não eram mais jovens. Semanas atrás, por exemplo, estava conversando com uma senhora de 50 anos que disse que achava que era muito tarde para ela, pois sua grande vontade era dançar balé. Eu disse que provavelmente era realmente tarde para ela ser a dançarina principal do Ballet Bolshoi e perguntei qual era o aspecto do balé de que ela gostava, porque se tivesse a ver com ser capaz de mover o corpo com a música, então por que não experimentava outros tipos de dança? Há muitos outros tipos de dança que ela poderia experimentar. Outro exemplo é uma tataravó que conheço que resolveu estudar direito e acabou de terminar o curso. Antes, ela não podia, estava criando uma família.

ISTOÉ -

Garimpar seus talentos e habilidades é uma questão de sorte?

KEN ROBINSON -

Geralmente, quem está em seu elemento diz isso: que teve muita sorte. Mas esses “sortudos” tiveram atitudes diferentes na vida, em comparação aos insatisfeitos. Claro que os primeiros tiveram oportunidades e circunstâncias para tirar proveito, mas ainda assim correram riscos e desejaram tentar algo diferente. Estiveram abertos às oportunidades e enfrentaram a forte oposição de parentes e amigos, que achavam que o que eles faziam não era ­usual. Souberam lidar com as críticas.

ISTOÉ -

As pessoas podem ter mais de um talento?

KEN ROBINSON -

Sim, se elas se sentem igualmente propensas a fazer coisas diferentes, não há regras para isso. Além do que, o elemento-chave pode mudar de tempos em tempos: num momento nos sentimos bons em algo e depois em outra coisa. Isso tudo tem a ver com energia, nossas vidas não passam de energia. Precisamos conectar nossas energias às nossas paixões e fazer coisas que tenham significado e propósito. Isso não é novo, é encontrado fortemente em diversas tradições que respeitam a parte espiritual e a energia.

ISTOÉ -

Por que a maioria das pessoas acha que não tem talento?

KEN ROBINSON -

A principal causa é a educação. Nosso sistema de educação formal tem 200 anos e durante esse tempo falhamos em conectar os estudantes aos seus talentos. A escola mata a criatividade. Fazemos um uso pobre dos nossos talentos. O sistema é obcecado com as habilidades acadêmicas, em levar os alunos para a faculdade. Nem todo mundo precisa ir para a universidade, nem todo mundo precisa ir na mesma época da vida. Conversei com um rapaz que é bombeiro e ele disse que sempre quis ser bombeiro, desde criança, mas não era levado a sério porque costumam achar que todo garoto sonha em ser bombeiro. E ele ouvia de um professor que iria desperdiçar seu talento. Mais tarde, ele salvou a vida deste professor. Ou seja, as comunidades dependem da diversidade de talentos, não de uma só concepção.

ISTOÉ -

O que há de errado com nosso sistema educacional?

KEN ROBINSON -

Somos formados por um sistema educacional fast-food, em que tudo é padronizado, industrializado. Temos de mudar isso para uma educação manufaturada, orgânica. E aprender que o florescimento humano não é um processo linear e mecânico, mas orgânico. A educação precisa ser customizada para diferentes circunstâncias e personalizada. É preciso criar um sistema em que as pessoas busquem suas próprias respostas.

ISTOÉ -

O sr. pode dar algum exemplo concreto?

KEN ROBINSON -

As escolas gastam muito tempo com matemática, por exemplo, mas há muito pouco de arte, que, para mim, é fundamental em nossas vidas. As artes visuais e a dança são expressões dos sentimentos humanos, da nossa cultura, mas nas escolas são deixadas de lado, ou pior, até ignoradas. As escolas são obcecadas com um tipo específico de talento e acabam ignorando os outros. Desde a minha juventude, estive cercado de pessoas que me pareciam extremamente talentosas, divertidas e interessantes, mas que estavam profundamente frustradas e pensavam que não tinham nenhum talento, não acreditavam que poderiam conquistar algum respeito. Ao mesmo tempo, também conheci outras que alcançaram muitas coisas. Sempre achei que a educação era a solução para isso.

ISTOÉ -

Como é possível mudar essa situação?

KEN ROBINSON -

É preciso tornar a educação mais pessoal, em vez de linear. A vida não é linear. Embora isso seja difícil, não há outra alternativa. Se quisermos encorajar as pessoas a pensar, temos que encorajá-las a ser aventureiras e a não ter medo de cometer erros. Ao longo da vida, os indivíduos vão se tornando mais conscientes e constrangidos e ficam com medo de cometer erros, porque passam por situações em que dão respostas erradas, se sentem estúpidos e não gostam deste sentimento. É preciso criar uma atmosfera, tanto na escola quanto no trabalho, em que não há problema em estar errado.

ISTOÉ -

O sr. é a favor de uma grande reforma escolar?

KEN ROBINSON -

Muitos sistemas educacionais pelo mundo estão sendo reformados. Mas reformar é inútil agora. Precisamos de uma revolução na educação, transformá-la em outra coisa. Inovar é difícil porque é preciso lidar com coisas não óbvias, fora do senso comum. As crianças hoje, por exemplo, vivem em um mundo digitalizado, enquanto nossa educação é do século passado. Eu sei que é um trabalho árduo, que implica um grande esforço para ser revertido, mas no mundo inteiro há países que estão tentando consertar isso com seriedade. Os pais também têm seu papel e eles devem começar por dar o exemplo, ou seja, eles próprios aprendendo mais sobre seus talentos.

ISTOÉ -

É possível recuperar a criatividade depois de ser educado dessa forma impessoal?

KEN ROBINSON -

Sim. Primeiro você precisa entender o que é criatividade. As pessoas pensam que ser criativo é fazer coisas especiais e que poucas pessoas são especiais. Ou, então, que pessoas criativas são aquelas com espírito mais livre e um pou­co loucas. Mas para ser criativo basta que você esteja executando qualquer coisa, ninguém é criativo na esfera abstrata. E isso pode ser resgatado em qualquer momento da vida.

ISTOÉ -

Para desenvolver os talentos é imprescindível um mentor?

KEN ROBINSON -

Ter um mentor é sempre útil, alguém que o encoraje e veja talentos que nem mesmo você sabe que tem. Pode ser os pais, um amigo, vizinho, parente. Ter alguém que o encoraje pode fazer toda a diferença.

ISTOÉ -

Como o sr. educou seus filhos?

KEN ROBINSON -

Sempre tentei encorajá-los nas coisas em que eles demonstravam interesse. Minha filha é professora de crianças em Los Angeles e meu filho é ator e agora está tentando se tornar escritor. No final das contas, você não pode viver a vida deles por eles, mas apenas estimulá-los a aproveitar as oportunidades.

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