Márcia Terra
Doutorandaem
Lingüística Aplicada / IEL/UNICAMP
Doutoranda
APRESENTAÇÃO
O
propósito deste trabalho é tecer algumas considerações sobre o behaviorismo.
Para tanto, desenvolvemos o assunto, procurando, em um primeiro momento,
reconstituir as condições de emergência do behaviorismo que se verifica em um
quadro de crise da Psicologia em busca de sua definição enquanto ciência. Em um
segundo momento, buscamos apresentar a linha de evolução do behaviorismo,
focalizando as suas principais abordagens quer sejam: (i) behaviorismo
Metodológico (Watson); (ii) behaviorismo radical (Skinner); e (iii)
behaviorismo Social (Staats).
1.
O CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DO BEHAVIORISMO: A CRISE NA PSICOLOGIA
Para
situar os modos de produção da representação de mundo que deram origem aos
modelos de concepção e atuação do Behaviorismo, um termo inaugurado por J.B.
Watson em seu artigo publicado em 1913 com o título "Psicologia: como os
behavioristas a vêem" (FURTADO, 1999), torna-se importante uma reflexão
epistemológica relacionada ao percurso percorrido pela Psicologia em busca da
sua definição como ciência. Recuperar tal trajetória, que sempre esteve ligada
às visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da
sociedade, é condição essencial à compreensão do contexto de emergência do
behaviorismo e dos tipos de demanda que a Psicologia procurou superar até
chegar ao estágio de evolução em que se encontra na atualidade.
Em uma
perspectiva histórica, as ciências humanas são marcadas por três concepções de
mundo e de homem que apresentam características distintas: a cosmocêntrica, a teocêntrica
e a antropocêntrica (FREITAS, 2000). Na primeira concepção, a cosmocêntrica, os
homens eram meros expectadores assujeitados aos imperativos do Cosmo que tudo
regia. Trata-se de uma visão de homem abstrato, a-histórico e subjugado a uma
moral de caráter metafísico. Na segunda concepção, a teocêntrica, os
fundamentos que explicam todas as coisas, incluindo a produção do conhecimento,
permaneciam situados externamente ao homem, entretanto, deslocando-se dos
imperativos do Cosmo foram incorporados pelos desígnios de uma ordem divina, de
um Deus criador, que a tudo regia.
A
terceira concepção, a antropocêntrica, emerge no Renascimento, época em que se
verificam transformações radicais no mundo europeu decorrentes do
mercantilismo, movimento que levou à descoberta de novas terras e à acumulação
de riquezas pelas nações em formação (França, Itália, Espanha e Inglaterra),
caracterizando uma transição para o capitalismo e para a formação de uma nova
organização econômica e social. A burguesia que emergia como uma nova classe
social, visando a alcançar a sua própria emancipação, reivindica a libertação
do homem da sua condição de assujeitado à imutabilidade das leis do universo e
defende a possibilidade de desvendar a Natureza.
A
descoberta de Copérnico, em 1543, ao rejeitar a síntese aristotélica,
descentralizando a posição da Terra no universo, altera a posição do homem no
mundo bem como de suas relações com ele, consigo mesmo e com Deus,
estabelecendo um rompimento epistemológico com a visão de mundo antigo e
medieval paradigmado pelo determinismo físico e ontológico da esfera celeste e
introduz, assim, uma nova maneira de perceber o homem. (FREITAS,
2000:44).
Com a
revolução científica do século XVI, conforme assevera Santos (1997),
instaura-se um modelo geral de racionalidade que viria a ser desenvolvido nos
séculos vindouros, embora que timidamente no século XVIII, mas que alcança o
âmbito das ciências sociais emergentes, no século XIX,
Um modelo totalitário, na medida em que nega o
caráter racional a todas as formas de conhecimento que não se pautarem pelos
seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas, sendo esta a
sua característica fundamental e que melhor simboliza a ruptura do novo
paradigma científico com os que o precedem (ibid, p.11)
Em
meados do século XVIII, a ciência moderna, saída da revolução científica do
século XVI, caracteriza-se pelo crescimento da nova ordem econômica - o
capitalismo - que, no século XIX, desencadeia o processo de industrialização e,
com ele, a necessidade de respostas e soluções práticas no campo da técnica, um
movimento que acarretou transformações sem precedentes na história da
humanidade.
A
Psicologia que até meados do século XIX constituía um ramo da Filosofia
encontrava-se marcada por duas vertentes teóricas antagônicas e inconciliáveis,
sendo uma de tendência objetivista e a outra de tendência subjetivista. Ambas
herdadas das proposições de dois grandes filósofos: Bacon (1214-1292), fundador
do materialismo inglês, cujas idéias valorizam o papel da experiência da
ciência (FREITAS, op.cit.) e Descartes (1596-1659).
Descartes,
um dos filósofos mais expressivos para o avanço da ciência, postula a separação
radical entre o corpo e a alma, ou seja, entre o físico e o psíquico,
argumentando que o estudo científico do homem deveria restringir-se ao seu
corpo físico, enquanto que à Filosofia estaria designado o estudo da sua alma
(DESCARTES, 2000). O dualismo corpo-mente proposto por Descartes dá origem às
duas grandes vertentes da Filosofia no século XIX - o idealismo, de tendência
subjetivista e o materialismo-mecanicista, de tendência objetivista - que
permeiam a Psicologia em geral (FREITAS, 2000; LURIA, 2001; COLE&SCRIBNER,
2000, entre outros).
Conforme
pontua Freitas (2000, com base em Japiassu e Marcondes, 1990:68), Descartes foi
quem introduziu os conceitos de reflexo e de consciência (muito embora ele não
tenha usado o termo consciência mas o cogito que é "a descoberta do
espírito por si mesmo, que se percebe que existe como sujeito"). Com
Descartes, portanto, de acordo com Freitas (2000:49), surge "o princípio
da introspecção, da auto-reflexão da consciência, que teve influência sobre as
tendências idealistas, enquanto a interpretação mecanicista ou naturalista da
conduta humana representou a sua influência sobre as tendências
materialistas".
Emmanuel
Kant, filósofo alemão cujas idéias filosófico-racionais derivam da incorporação
de elementos como liberdade, individualismo e igualdade que constituíram a
concepção de mundo da burguesia européia entre os séculos XII e XVIII, exerceu
grande influência rumo ao subjetivismo "ao situar o mundo das idéias na
consciência individual" (FREITAS, op.cit.). No continente europeu, seus
seguidores afirmavam que "idéias de espaço e tempo e conceitos de
quantidade, qualidade e relação originavam-se na mente humana e não poderiam
ser decompostas em elementos mais simples” (COLE&SCRIBNER, 2000).
A
tendência materialista-mecanicista de Descartes foi refletida nos materialistas
franceses do século XVIII e no materialismo sensualista de John Locke
(1632-1704), na Inglaterra. Os seguidores de Locke desenvolveram sua visão
empirista de mente dando conta de que as idéias eram constituídas a partir de
sensações produzidas por estimulação ambiental. Comte (1798-1857) introduz a era
da positividade, e a noção de introspecção, sendo as suas idéias seguidas por
psicólogos empiristas que partiram para o estudo positivo.
Com
Wundt (1832-1920) foi dado o passo definitivo para a constituição da Psicologia
Experimental e, portanto, da Psicologia como ciência. Para Wundt importava uma
Psicologia que só admitisse fatos e, dessa forma, o seu programa de estudos
voltou-se à experimentação e à mensuração a fim de controlar os dados
fornecidos pela introspecção. A trajetória de consolidação da Psicologia como
ciência inclui, ainda, a influência da Biologia Evolucionista de Darwin
(1809-1882), da Psicologia Experimental dos animais de Thorndike (1874-1949) e
da Reflexologia russa de Pavlov (1849-1936).
Em
síntese, a linha evolutiva da Psicologia é marcada por um constante oscilar
entre as duas vertentes teóricas antagônicas, ora o pêndulo aponta para os
princípios de uma tendência objetivista que prioriza o dado externo, e ora
aponta para uma tendência subjetivsta calcada na consciência, ambas, por sua
vez, objetivando atender às demandas configuradas em cada momento histórico que
as originam.
2.
O BEHAVIORISMO: O ESTUDO DO COMPORTAMENTO
Conforme
pontua Baum (1999) "a idéia do behaviorismo é simples de ser formulada: é
possível uma ciência do comportamento". Tal argumento, explica ele,
fundamenta-se no fato de que - apesar das controvérsias sobre o sentido de
"ciência" ou de "comportamento", incluindo questões sobre
"se a ciência do comportamento dever ser a psicologia" ou "se a
psicologia é uma ciência" - "todos os behavioristas concordam que
pode haver uma ciência do comportamento" (id.ibid.). Assim, segundo o
autor, o behaviorismo pode ser referido como
um conjunto de idéias sobre
essa ciência chamada de análise do comportamento, e não a ciência ela própria,
o behaviorismo não é propriamente uma ciência, mas uma filosofia da ciência.
Como filosofia do comportamento, entretanto, aborda tópicos que muito prezamos
e que nos tocam de perto: por que fazemos o que fazemos e o que devemos e não
devemos fazer.
Visando
à melhor compreensão desse conjunto de idéias, abordamos, a seguir, as
características relacionadas aos três principais modelos de Behaviorismo já
que, desde a sua primeira geração, o sentido de "comportamento"
sofreu transformações importantes.
2.1.
A PRIMEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO METODOLÓGICO
John B.
Watson, com a publicação do seu artigo intitulado "Psicologia: como os
behavioristas a vêem", inaugura, em 1913, o termo que passa a denominar
uma das mais expressivas tendências teóricas ainda vigentes: o Behaviorismo. O
termo inglês "behavior" significa "comportamento", razão
pela qual usamos, no Brasil, Behaviorismo como também Comportamentalismo,
Análise Experimental do Comportamento, entre outros, para nos referirmos à
visão teórica em pauta (FURTADO, op.cit.). Ao postular o comportamento como
objeto de estudos da Psicologia, Watson estabelece um objeto de estudos
"observável e mensurável, cujos experimentos poderiam reproduzir
diferentes condições e sujeitos” (ibid. p.45).
As
concepções de Watson, guiadas pela psicologia objetiva de Comte, representam
uma grande oposição à introspecção, movimento que vigorava na época, assim como
rejeitavam também a analogia como métodos. As proposições de Watson, portanto,
trouxeram respostas essenciais aos objetivos que os psicólogos buscavam na
época e contribuíram para o rompimento definitivo da psicologia com a sua
tradição filosófica. Como lembra Staats (1980),
(...) antes do aparecimento do behaviorismo, o
método fundamental para a Psicologia era o da introspecção. Por algum tempo os
psicólogos pensaram que a tarefa da psicologia era investigar os conteúdos, a
estrutura e o funcionamento da mente, realizando o sujeito um auto-exame e
relatando a sua experiência (...) o comportamento animal era igualmente
interpretado adotando-se o conceito de consciência humana.
O
behaviorismo metodológico toma como base o realismo. O realismo defende a idéia
de que há um mundo real, que ocorre no mundo real, sendo que é a partir desse
mundo real externo - objetivo - que constituímos o nosso mundo interno -
subjetivo. Paradoxalmente, temos contato apenas com a nossa experiência interna
que nos é dada pelos nossos sentidos. Isso porque o mundo externo, objetivo,
não nos é accessível diretamente. Assim, os nosso sentidos nos fornecem apenas
dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos
diretamente (BAUM, op.cit).
Como
behaviorista metodológico, portanto, o interesse de Watson concentra-se na
busca de uma psicologia livre de conceitos mentalistas e de métodos subjetivos
e que possa reunir condições de prever e de controlar. Para tanto, torna-se
importante, em compasso com o realismo, estabelecer uma dicotomia entre o mundo
objetivo-mundo subjetivo. À ciência, constituída de métodos próprios ao estudo
do mundo objetivo, caberia lidar apenas com o mundo que está 'fora' do sujeito,
o mundo que é compartilhado, accessível a outras pessoas e com o qual, por
conseguinte, todos poderiam, potencialmente, concordar.
Entendendo
que o homem possui um aparato orgânico que se ajusta ao ambiente em que vive
por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos, Watson
defende a idéia de que o comportamento deve ser estudado como função de certas
variáveis do meio, sob o argumento de que certos estímulos levam o organismo a
dar determinadas respostas. Nessa linha de raciocínio, ele procura descrever os
eventos comportamentais atribuindo-lhes um caráter mecânico e o mais próximo
possível da fisiologia, uma vez que as razões que estariam subjacentes ao 'levar'
o homem a desempenhar o comportamento deveriam ser tratadas isoladamente.
O
behaviorismo de Watson fundamenta-se em uma das leis mais famosas do
behaviorismo metodológico que é a de Pavlov: o condicionamento clássico, ou o
reflexo incondicionado que consiste, tomando as palavras de Furtado
(op.cit.:47), "em respostas que são eliciadas (produzidas) por estímulos
antecedentes do ambiente (ex. contração das pupilas quando há luz forte sobre
os olhos)”. Aprofundando e ampliando tais noções, Watson chega ao conceito de
"reflexo condicionado" que consiste em interações estímulo-resposta
(ambiente-sujeito) nas quais o organismo é levado a responder a estímulos que
antes não respondia. Isso se dá em função de um pareamento de estímulos, como
por exemplo: imergir a mão na água gelada e ouvir o som de uma campainha
repetidas vezes. Depois de um certo tempo, a mudança de temperatura nas mãos
poderá ser eliciada apenas pelo som da campainha, isto é, sem a necessidade de
imersão das mãos (FURTADO, op.cit.). A formulação do behaviorismo de Watson é
representada pela relação S-R, onde S é o estímulo do ambiente e R a resposta
do organismo.
B.F.
Skinner, em 1945, introduz o Behaviorismo radical, defendendo a análise experimental
do comportamento. Contrapondo-se ao Behaviorismo metodológico de Watson, de
cunho realista, o programa de Skinner adota os princípios do pragmatismo, cuja
base é a de que a força da
investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a
maneira como o universo objetivo funciona, mas no que ela nos permite fazer,
ou seja, a grande realização da ciência é
que ela permite dar significado a nossa experiência. Isso implica entender
que o pragmatismo se preocupa com a funcionalidade do objeto real observável,
mensurável, e não com a existência de um objeto real por detrás desses efeitos
(BAUM, op.cit.; FURTADO, op.cit.).
Os
behavioristas radicais, nessa linha, tentam romper com o dualismo mundo
objetivo-mundo subjetivo.Ou seja, em vez de se pautarem em métodos, eles adotam
conceitos e termos "os termos que usamos para falar do comportamento não
apenas nos permitem compreendê-lo, mas também o definem: comportamento inclui
todos os eventos sobre os quais podemos falar sobre eles com os nossos termos
inventados", conforme citação de Skinner, em Baum (op.cit.). Nessa
esteira, os beharioristas radicais equiparam a noção de verdade com poder
explicativo e, então, buscam termos descritivos que sejam "úteis à
compreensão e econômicos à discussão" - se a pergunta sobre a existência
do universo real fora do sujeito é fútil, então também é fútil perguntar sobre
a existência de uma verdade final, absoluta (idem).
Dessa
perspectiva, os behavioristas radicais admitem todos os eventos naturais -
passíveis de serem acessados - incluindo eventos públicos e privados e excluem
os eventos fictícios - que não podem ser acessados. A mente e todas as suas
partes e processos, como causas mentais do comportamento, são considerados
fictícios e, portanto, constituem termos que devem ser evitados. O
mentalismo é, portanto, insatisfatório, na medida em que é anti-econômico. Os
behavioristas radicais assumem, dessa forma, que as causas do comportamento
encontram-se na hereditariedade e no ambiente passado e presente.
À luz
do que precede, o behaviorismo radical de Skinner está na formulação do
"comportamento operante" que pode ser representado pela
relação: R à S , em que R
é a resposta e S (do inglês 'Stimuli') é o estímulo reforçador que tanto
interessa ao organismo, e a flecha significa 'levar a'. A esse respeito,
segundo Keller (1973 apud Figueiredo op.cit.) o comportamento operante inclui todos os movimentos de um
organismo dos quais se possa dizer que em algum momento têm efeito sobre ou
fazem algo ao mundo em redor.
O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim
dizer, quer direta, quer indiretamente.
Ou
seja, no caso do comportamento operante a aprendizagem deixa de ser um mero
condicionamento de hábitos e passa a considerar a interação sujeito-ambiente.
Difere-se da relação R-S do comportamento respondente ou reflexo (Watson) na
medida em que o estímulo reforçador que é chamado de REFORÇO assume a
responsabilidade pela ação, apesar de ela ocorrer após a manifestação do
comportamento. Neste caso, o que vai propiciar a aprendizagem dos
comportamentos é a relação fundamental - a relação entre a ação do sujeito
(emissão da resposta) e as conseqüências. Quer dizer, a aprendizagem está na
relação entre uma ação e o seu efeito, significando entender com isso que as
conseqüências das respostas às ações que praticamos são as variáveis de
controle mais relevantes na determinação de nossos comportamentos subseqüentes.
Em
resumo, estudar o comportamento é fazer uma análise funcional do comportamento
- (F) S à (F)R - é descrever as funções que determinam uma dada resposta, ou
seja, analisar as contingências (conjunto hipotético de relações funcionais)
que determinam o comportamento.que envolve três dimensões: (a) eventos
antecedentes; (b) respostas; (c) eventos conseqüentes. Muito embora só se possa
definir a função reforçadora de um evento ambiental a partir da função que ele
exerce sobre o comportamento do indivíduo, tem-se como definição que o 'reforço
positivo' representa um evento que aumenta a probabilidade futura da resposta
que o produz, tanto quanto um 'reforço negativo' representa um evento que
aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua (FURTADO,
op.cit.).
3.
A TERCEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO SOCIAL
Concordando
com a idéia de que "as revoluções são feitas, geralmente, contra os grupos
que estão no poder" mas discordando, contudo, de revolucionários
extremistas que "demolem a velha ordem e não se preocupam em separar o que
existe de certo e errado na mesma", Staats (1980) reivindica a sua posição
de representante da 3a. geração de behavioristas, objetivando
ultrapassar as duas gerações de behavioristas precedentes. Conforme diz ele, os
dois movimentos anteriores caracterizam-se, justamente, pelo caráter extremista
de seus programas.
Staats
(1980) assevera que embora o programa de Watson tenha sido uma correção para os
abusos da época, ele foi radical e por isso mesmo rejeitou importantes áreas de
estudos, estendendo esta rejeição aos termos e métodos da introspecção. Da
mesma forma, enfatiza o autor, a abordagem de Skinner
Manteve o extremismo da revolução original de
Watson. Esta abordagem rejeita, sem maiores exames, os métodos, conceitos,
princípios e observações das ciências sociais. Ele não elabora princípios que
considerem a forma pela qual os seres humanos diferem dos animais. Não existe
evidência de que o conhecimento social de qualquer outra espécie tenha sido
sistematicamente formulado e tenha valor (...) significa, na prática, que
qualquer outra coisa que não seja o condicionamento operante ou que não possa
ser explicado como tal, incluindo muito do próprio behaviorismo, é rejeitado
(ibid, p. 100-101)
Para
Staats, uma característica fundamental da abordagem de Skinner e de seus
seguidores é a de ser um sistema fechado. Trata-se, argumenta o autor, de um
sistema restritivo e improdutivo, na medida em que a freqüência da resposta é o
dado básico de Skinner e ele considera ser o único válido. E nesse sentido,
enfatiza Staats (1980), Skinner "radicalizou o conflito entre o behaviorismo
e as ciências humanísticas no que se refere à concepção de homem" (ibid
p.102). Igualmente, o behaviorismo de Watson, prossegue o autor,
"fracassou porque não considerou as pesquisas do comportamento humano que
seguiam outras orientações" (id.ibid).
Assim,
Staats (1980) reivindica para a evolução do behaviorismo a integração e união
de áreas do conhecimento, enfatizando a necessidade de "um paradigma
que conduza à unidade todo esse esforço científico no estudo do homem", ou
como diz ele "o que precisamos é de uma terceira geração de behaviorismo,
o behaviorismo social" (ibid p.103). Em linhas gerais, os desenvolvimentos
mais significativos do quadro conceitual da Teoria da Aprendizagem Social, que
surgem a partir de Staats, englobam, dentre outros, os seguintes aspectos que
passamos a discutir.
A
primeira grande modificação introduzida foi o reconhecimento de que a análise
do comportamento deve considerar os processos simbólicos, uma vez que a
capacidade de utilizar a linguagem instrumentaliza a possibilidade de
representação de eventos e de situar o presente com base em experiências
passadas. Em decorrência, ao contrário das duas abordagens anteriores do
behaviorismo, o interesse concentra-se na análise cuidadosa do pensamento e dos
mecanismos que este utiliza para controlar a ação.
Uma
Segunda inovação importante diz respeito "à concepção de comportamento
como uma interação contínua e recíproca entre fatores ambientais,
comportamentais e cognitivos" (DAVIS, s/d: 77). Uma nova visão que se
contrapõe à de Skinner que concebe o comportamento como uma via de mão única,
ou seja, assujeitando o homem à ação do ambiente. Em contraste aos pressupostos
deterministas das abordagens anteriores que tratam os homens como organismos
meramente passivos a um constante bombardeio de estímulos ambientais, o
behaviorismo social coloca em pauta a ênfase nos processos auto-regulatórios.
Passa a vigorar um determinismo recíproco entre homem-ambiente. O homem é capaz
de direcionar o curso da sua ação, isto é, transforma-se em um organismo ativo
que é capaz de selecionar e organizar dentre os estímulos que determinam as
suas respostas, aqueles que considera relevantes.
Uma
terceira modificação é a noção de "aprendizagem através de modelação"
que se refere à aquisição de conhecimentos e comportamentos novos por meio de
observação. A característica fundamental dessa abordagem é a de que
"grande parte da aprendizagem humana depende de processos perceptuais e
cognitivos". Quer dizer, "o reforço direto da própria ação é apenas
uma das variáveis que atuam o processo de aquisição de novos padrões de
respostas" (ibid. p.79). Assim, as expectativas individuais independem de
resultados produzidos pelas próprias ações, ou seja, as respostas às ações de
outros são importantes para guiar o próprio comportamento.
Enfim,
a noção de behaviorismo social caminha em direção a uma explicação do
comportamento que leva em conta a interação homem-ambiente de uma forma mais
ampla do que os programas das duas gerações do behaviorismo anteriores tentaram
propor.
CONSIDEAÇÕES FINAIS
Neste
trabalho, a nossa intenção consistiu em focalizar o Behaviorismo, procurando
traçar as suas condições de emergência e transformações dentro da linha
evolutiva da Psicologia. Em linhas gerais, abordamos as características dos
três principais modelos de Behaviorismo: behaviorismo metodológico - que toma
como base o realismo e cuja expressão máxima é Watson; behariorismo
radical - que toma como base os princípios do pragmatismo e que tem como
expressão máxima Skinner; e o behaviorismo social - que nasce com Staats,
em oposição aos dois programas anteriores por considerá-los sistemas fechados
e, portanto, reducionistas. Dessa forma, o behaviorismo é direcionado a uma
concepção mais humanística do comportamento.
REFERÊNCIAS
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STAATS, A.W. Behaviorismo social: uma ciência do
homem com liberdade e dignidade. In: Arquivos
brasileiros de psicologia 32(4):
97-116, 1980
[1] Trabalho
apresentado em 2003, para a disciplina "Desenvolvimento e
Aprendizagem", ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio Leite, na Faculdade de
Educação da Unicamp.