com relação à
consciência por ser ela uma das mais antigas e mais
debatidas questões da psicologia.
Como foi visto no início deste capítulo, ao contrário do
Behaviorismo Metodológico, Skinner não ignora a importância da consciência. Ele apenas tem uma concepção diferente da tradicional e procurou desenvolver novas formas de estudá-la.
Segundo Skinner (1974), uma
pessoa se torna
consciente quando a comunidade verbal arranja contingências especiais para a pessoa referir-se
à estimulação que surge
de
seu corpo.
Assim, a pessoa estaria consciente de estados ou eventos de seu corpo no sentido de seu comportamento verbal estar sob esse controle
de estímulos.
Embora Skinner
tenha apresentado
inúmeras vezes sua
posição, há uma análise de Terrace (1971) a esse respeito que pode
ser
mais esclarecedora. Ele diz que o cerne da análise de Skinner sobre
a consciência está na distinção entre estar consciente de um
estímulo e discriminar um estímulo,
que pode ser público ou privado.
Primeiro, é preciso discriminar o estímulo.
A consciência só aparece depois quando alguém da comunidade
verbal nos ensina a
rotulá-lo. Segundo esta análise, quando tomamos consciência
de um estímulo, este passa a controlar duas respostas,
que
são o operante discriminativo original, sem consciência do estímulo que o controla,
e a identificação do estímulo através do rótulo verbal. Terrace diz também que há pelo menos duas contingências para estabelecer a
consciência: a contingência necessária para condicionar uma resposta
particular e a contingência para fazer dessa resposta um estímulo discriminativo para uma resposta
de
rotular. Por exemplo, uma
contingência pode estabelecer uma resposta emocional de raiva e esta servir de estímulo discriminativo para uma resposta de rotular
'raiva'. A consciência envolveria
esta
segunda resposta.
Terrace
também faz a distinção entre fazer algo, que seria modelado pelas contingências e estar consciente de estar fazendo algo. Isto mostra a
necessidade de uma comunidade
verbal para se estabelecer
a consciência e, portanto, sua origem social e também cultural. É assim
que
Skinner afirma que:
"Diferentes comunidades
verbais geram diferentes
tipos e quantidades
de
consciência. Filosofias orientais, psicanálise, psicologia experimental, fenomenologia e o mundo dos assuntos práticos levam à observação de
sentimentos e estados da
mente muito diferentes. Uma ciência independente
do
subjetivo seria uma ciência independente
das comunidades verbais"
(1974, p. 243)
Em suma, para Skinner,
tanto o conhecer como o pensar e a
consciência envolvem comportamentos. Eles podem ser abertos ou encobertos, mas mesmo estes foram inicialmente adquiridos forma
aberta, de maneira que podem ser analisados segundo os mesmos princípios que regem o comportamento aberto ou público. Não há,
portanto, nenhuma necessidade,
e seria mesmo enganador, supor a existência de um mundo interior da mente que se comporta como o
'homem externo' se comporta. Na realidade, passamos a conhecer
sobre os eventos privados, sejam eles estímulos ou respostas, a
partir das contingências proporcionadas
pela comunidade verbal. Assim, o mental, ou cognitivo,
passa
a ser concebido como se
referindo, na verdade,
a eventos privados, e tendo uma origem externa e social.
Mas vejamos a partir de uma análise mais específica em que
consiste o anti-mentalismo ou anti-cognitivismo de Skinner. Tendo em vista que alguns de seus principais argumentos já foram apresentados, isto será feito a partir de diferentes autores permitindo
apresentar assim também algumas críticas à sua posição.
Skinner (1970a, 1974)
afirma com
grande ênfase que
sua
posição, ao contrário da mentalista, considera que as causas comportamento devem ser encontradas nos eventos externos
antecedentes. E analisa com algum detalhe as razões teóricas e/ou pragmáticas para se rejeitar qualquer tipo tradicional de causação interna do comportamento.
É assim que ele rejeita as causas populares como a astrologia e numerologia, a estrutura corporal e os
fatores hereditários, e também as causas internas
como as neurais, as psíquicas e as conceptuais. No entanto, acabamos
de
ver que ele também admite a existência de comportamento encoberto e de estimulação interna, inclusive auto-gerada. Para melhor esclarecer esta aparente incongruência e o estatuto do cognitivo em Skinner, será analisado inicialmente em que sentido ele é anti–mentalista e posteriormente será apresentada
uma revisão sobre eventos privados, mais particularmente sobre as causas internas.
De uma forma mais geral, o anti-mentalismo de Skinner pode
ser caracterizado
por sua
rejeição da
intencionalidade como explicação
do comportamento humano, tal como apresentada por análises tradicionais. Mas este seria justamente
o principal fator de rejeição à sua posição (Day, 1975, 1980; Julià, 1984). Ao excluir
motivos e propósitos, ou seja, os termos intencionais, Skinner não seria capaz de explicar o comportamento
humano. Seu argumento é
que
o campo do comportamento
operante é o campo da intenção e
que
sua visão alternativa é capaz de substituir intenção por história de reforçamento (1984b).
O anti-mentalismo de Skinner tem sido analisado e discutido
por diversos autores. Alguns têm procurado identificar diferenças
básicas existentes entre o behaviorismo e o cognitivismo,
enquanto
outros têm se detido mais especificamente nos diferentes argumentos anti-mentalistas apresentados por Skinner ao longo de sua obra.
No grupo das análises comparativas entre o behaviorismo e o cognitivismo
temos os artigos de Wessells (1981), Schnaitter (1987), e Catania (1972). Os dois primeiros procuram defender a posição cognitivista mas de maneira diferente
já
que Wessells admite a
possibilidade de conciliação entre as duas abordagens enquanto Schnaitter a rejeita. Por outro lado, Catania que defende uma posição
behaviorista, não
considera que
as duas
posições sejam
incompatíveis.
Esta aparente confusão quanto à possibilidade ou não
de
conciliação entre o behaviorismo e cognitivismo será discutida mais
adiante. No momento, serão apresentadas apenas as diferentes análises.
Wessells argumenta que as abordagens behaviorista e
cognitivista diferem em seus objetivos metateóricos
e em suas concepções sobre explicação,
mas
defende a possibilidade de uma conciliação. Para ele, o principal objetivo do behaviorismo radical
seria a predição e controle, estando então pragmatismo
e concepção explanatória interligados, enquanto que o objetivo da psicologia cognitiva, embora
ainda não alcançado por permanecer ela a nível descritivo, seria
explicar
o
comportamento
especificando a nível
conceptual as estruturas e processos universais, internos, através
dos quais o ambiente exerce seus efeitos. Wessells
conclui que as pesquisas behaviorista e
cognitivista podem ser consideradas complementares.
A primeira especificando os determinantes
ambientais
dos
eventos
privados
e
das relações entre
eventos privados e comportamento
aberto, e a segunda especificando importantes eventos privados e propriedades
biológicas que
influenciam o comportamento. Esta proposta parece não considerar os argumentos
de
Skinner para se rejeitar a explicação mentalista, e apesar dele próprio dizer que para Skinner "os eventos privados
são causais apenas no sentido fraco de pertencerem ao elo intermediário da cadeia causal
ambiente-condição interna-comportamento. Suas
propriedades funcionais
são determinadas pelo ambiente, o locus das
'causas últimas do comportamento"' (1981, p.158).
Seguindo este mesmo tipo de análise comparativa, mas não
admitindo uma
possibilidade de
conciliação,
Schnaitter
(1987)
observa
que, a partir do fato de todas
as
instâncias
do comportamento ocorrerem com relação ao estado interno atual do
organismo e ao contexto ambiental no momento,
desenvolveram-se dois interesses distintos na psicologia: o contextualismo, cujos
objetivos consistem em determinar
como o ambiente age e como o
comportamento ocorre em função desse ambiente, e o organocentrismo
cujos
objetivos consistem em determinar como o organismo funciona internamente e como o comportamento ocorre
em
função de estados internos. Embora contextualistas
e organocentristas façam uso tácito, respectivamente, do organismo e do ambiente, behavioristas e
cognitivistas não estão, segundo
Schnaitter, fazendo o mesmo tipo de coisa. Para ele, pode-se argumentar que os
eventos
privados aludidos
por
Skinner,
por
estarem sob a pele, são fenômenos cognitivos em vez de
comportamentais mas ele considera esta conclusão
injustificada já que os eventos privados são ocorrências
enquanto o interesse da psicologia cognitiva está na organização interna.
Os eventos
privados
só seriam cognitivamente relevantes na medida que manifestassem
características do mecanismo subjacente e sua organização.
Outra maneira de analisar esta questão é apresenta
por um
behaviorista como Catania (1972) em sua abordagem
dos diferentes interesses
presentes em
diferentes
análises da
linguagem. A psicologia cognitiva estaria mais preocupada com a organização interna, ou propriedades
estruturais da linguagem enquanto os behavioristas com suas propriedades
funcionais. No tanto, um mentalista poderia se preocupar
com
problemas funcionais assim
como um behaviorista com os estruturais.
O que se discute, segundo Catania, não é o status empírico desses fenômenos mas como se fala
sobre eles. Embora a linguagem e a cognição envolvam processos, não se deve achar que se está descrevendo esses processos quando
se está descrevendo as estruturas gerada por eles. A conclusão de
Catania é que a controvérsia entre explicações cognitivistas e
comportamentais é, em parte, simplesmente, uma questão de falar
das mesmas coisas de maneiras diferentes.
Passando aos artigos que fazem uma revisão dos diferentes
argumentos anti-mentalistas de Skinner, podemos
citar as análises críticas de Keat (1972), Audi (1976) e Wessells
(1981, 1982) e a
reinterpretação skinneriana de Zuriff (1979) que identifica algumas
possíveis causas internas nos trabalhos de Skinner.
Keat (1972) encontra, em Skinner, cinco argumentos para se
rejeitar o mentalismo: 1) o mentalismo não tem poder explanatório.
Isto significa que, segundo Skinner, as explicações mentalistas são
incompletas, no sentido de também precisarem ser explicadas,
são subprodutos das mesmas variáveis responsáveis
pelas respostas
comportamentais,
não
proporcionam meios de predizer e controlar o comportamento e são deficientes já que são identificadas ou inferidas do próprio comportamento, 2) o mentalismo envolve o emprego de
'teorias', 3) tende a invocar 'agentes internos', 4) tira a atenção do
comportamento e 5) é dualista. Keat considera os argumentos 1 a 4 inconclusivos e não vê o que torna os eventos privados aceitáveis ao contrário de suas contrapartes mentalistas.
Audi (1976) identifica três razões em Skinner para rejeitar-se a psicologia mentalista que podem ser englobadas no argumento
1 apresentado acima por Keat. Sua objeção é que é perfeitamente possível admitir que as histórias genética e ambiental determinem
variáveis internas e que estas determinem por sua vez o
comportamento. Como foi visto, o argumento de Skinner é que então a
'verdadeira' causa do comportamento é a externa.
Wessells
(1981, 1982) divide as críticas de Skinner ao cognitivismo em duas proposições,
elaboradas
em dois artigos: 1) as teorias cognitivistas não têm poder exploratório
por serem
explicações cognitivistas
incompletas já que não especificam
os antecedentes ambientais dos eventos internos; por serem ficções, já que são circulares; e por serem desnecessárias
pois não acrescentam
nada a uma análise funcional (1981)
e 2) as teorias cognitivistas
obstruem a procura das causas do comportamento (1982). O teor dos
artigos de Wessells é defender
as
teorias cognitivistas das críticas de Skinner. No primeiro, ele propõe a complementaridade
das
duas posições, como visto. No segundo, Wessells (1982) considera que uma das razões
de
divergência entre os cognitivistas e Skinner é que
os
primeiros duvidam que a história do organismo
adulto possa ser
especificada
com o detalhe requerido para predizer atividades complexas.
Por exemplo, nunca teria sido demonstrado que uma análise exaustiva das contingências
seria capaz de explicar a compreensão
da
linguagem. A única resposta dada por Skinner
(1970a) é que embora esta análise não tenha sido realizada ainda, isto não significa que não possa vir a sê–lo no futuro.
Segundo Zuciff (1979), as objeções de Skinner à postulação
de causas internas são: 1) a seqüência causal é incompleta porque não
remonta a causa interna
de
volta
ao
ambiente
externo, 2) a seqüência causal pára com as causas internas não manipuláveis;
então não é posslvel modificar o comportamento que elas controlam e 3) o processo
pelo
qual essas causas internas são postuladas, i.e.,
hipotetizadas, é inaceitável.
Em suma, os argumentos de Skinner contra o mentalismo parecem poder ser enquadrados em duas categorias principais: 1) os
argumentos teóricos que consideram as explicações mentalistas incompletas por não chegaram às verdadeiras causas do comportamento,
i.e., às causas externas antecedentes, e 2) os argumentos pragmáticos que consideram que os eventos internos não servem para predizer e
controlar o comportamento por não serem manipuláveis,
não
permitindo assim que se faça uma análise funcional, i.e uma ciência do comportamento.
Na verdade, esses dois tipos de argumentos fazem parte de um
argumento único já que ambos derivam de um dos pressupostos básicos de Skinner que é a rejeição da espontaneidade
do comportamento, a partir de um
agente interno, autônomo. Assim, se o comportamento não é espontâneo, ele é causado externamente. Neste caso, se quisermos fazer uma ciência do comportamento
que envolva
a previsão e o
controle teremos que manipular a
'verdadeiras causas' do comportamento que são externas. Ou seja, o
segundo argumento parece estar inserido ou derivar do primeiro.
A posição de Skinner pode ser sintetizada por suas próprias
palavras:
"Por que supor uma expectativa
no cão de Pavlov ou
num
rato em uma caixa ?... Eu não questiono o fato
de existirem estados relevantes do corpo nesses
momentos ou que temos alguma informação sobre eles ou que eles aparecem na hora certa para servirem
como causas, mas é o que é sentido não o sentimento, que é funcional. Não salivamos ou
pegamos o garfo por causa de uma expectativa
sentida de alimento; o fazemos por
causa das condições de nosso corpo resultantes da experiência passada que podemos sentir e aprendemos a chamar expectativa, embora não
precisemos fazê-lo"
(1984c, p. 663, grifos meus).
Aqui Skinner parece invocar
uma causa interna ao se referir às
‘condições
de nosso corpo' mas deve-se atentar a 'experiência
passada' que, em
última análise,
remete a fatores externos anteriores. Assim, ele admite falar nos eventos privados como causas mas em um sentido fraco e não como causas iniciadoras (1984d).
Portanto, a posição de Skinner não invalida
necessariamente o
interesse e estudo dos eventos privados mesmo aceitando-se
o pressuposto de que não
há um agente autônomo, interno, controlando o comportamento mas sim eventos privados que, em certo sentido, podem ser tomados como causas, embora não as
'verdadeiras'
causas iniciadoras. O próprio Skinner considera que os
eventos privados devem ser estudados pela psicologia dada sua importância para o auto-controle e o auto-conhecimento. Além disso, muitos psicólogos podem considerar
que as
causas imediatas, internas, do comportamento podem ser o tema
também da psicologia e
não só da fisiologia.
Tendo isto em vista, a revisão de Zuriff (1979)
sobre as causas internas pode ser esclarecedora já que ele se baseia em interpretações comportamentais de processos
psicológicos humanos complexos realizadas por Skinner. Zuriff identifica
e
analisa 10 causas internas que são variáveis encobertas que funcionam como estímulos discriminativos, reforçadores positivos e negativos e respostas
pré-correntes, reconhecendo estarem elas sob o controle
de
variáveis ambientais externas mas considerando
que agem como um elo intermediário em uma cadeia causal. Um exemplo de Zuriff é o relato na primeira pessoa no qual um evento privado serve de estímulo discriminativo para um relato verbal. Outro é o da punição na qual estímulos associados
a uma resposta punida adquirem propriedades aversivas. Neste caso, esses eventos encobertos podem
servir de reforçadores
negativos. Um
comportamento
verbal encoberto também pode servir de estímulo discriminativo para um comportamento não-verbal subseqüente como no pensamento e na solução de problemas. Como exemplo de reforçamento
encoberto
temos uma resposta
verbal encoberta que pode reforçar o falante a nível encoberto. A partir destes e outros exemplos, Zuriff afirma que o comportamento encoberto é adquirido de forma aberta e é
controlado por variáveis ambientais e que os estímulo encobertos também funcionam como estímulos públicos. E conclui:
"...freqüentemente essas atividades internas têm um papel importante na causação
do
comportamento aberto. Entretanto, essas causas internas aparecem sob uma luz diferente se comparadas com os
esquemas tradicional ou cognitivo. Começando com o mundo externo de estímulos
e respostas e então
movendo-os para dentro da pele onde necessário, o behaviorismo
radical modifica nosso comportamento
com relação a essas causas internas.
Estamos mais inclinados a manipulá-las via as variáveis
ambientais externas que as controlam, onde apropriado. Temos
maior
probabilidade
de procurar
métodos
para
ensiná-las quando levam a comportamento mais eficaz. Finalmente, não ficamos mistificados por seu
status ontológico de maneira que a metafísica não fica no
caminho da predição,
controle e interpretação do comportamento" (1979, p. 8)
A principal questão sobre esta reinterpretação do cognitivo por
Skinner pode ser sintetizada pela crítica de Natsoulas
(1983) ao
tratamento dado por ele à consciência. Depois de fazer uma análise do que vem a ser a consciência para Skinner, numa linha semelhante à
de Terrace (1971), apresentada anteriormente, Natsoulas conclui
que
Skinner não tratou convenientemente do conteúdo da consciência por causa de um aparato conceptual pobre devido à crença de que seu trabalho científico não lhe dá outra opção a não ser tratar o
conteúdo consciente exclusivamente
com
conceitos
que
dizem respeito a estímulos
e respostas. Assim, tudo que uma pessoa pode saber sobre si mesma introspectivamente é sobre mais estímulos e
mais respostas. Isto
parece estar
de
acordo
com
análise
de
Schnaitter (1978) que
mostra
como
a
concepção de
ciência
de Skinner e seus requisitos metodológicos limitam e determinam sua concepção do cognitivo.
Uma análise crítica elaborada
por Hayes, Hayes e Reese (1988)
pode ajudar a esclarecer algumas comparações entre o behaviorismo e o cognitivismo, apresentadas anteriormente, assim como a possível
confusão
conceptual presente na análise do comportamento.
Estes autores partem de uma obra de Pepper sobre 4 visões de
mundo – mecanicismo, formismo, organicismo, contextualismo – que podem iluminar diferentes posições teóricas,
para analisar a filosofia subjacente à análise do comportamento. A teoria de Skinner
envolveria, para eles, uma mistura da hipótese mecanicistsa com
a contextualista.
Hayes, Hayes e Reese consideram a análise do comportamento
um sistema contextualista devido ao seu conceito de operante, seu
critério de verdade, sua concepção
do
papel do cientista na análise
científica e a possibilidade de novidade presente na idéia de
comportamento emitido, i.e., não-causado. Mas estes autores identificam alguns elementos mecanicistas
na
análise de comportamento. São eles: as definições não-funcionais, o reducionismo,
a causalidade e o modelo reativo de organismo. As
definição
não-funcionais envolveriam considerar o comportamento como movimentos musculares
ou secreções glandulares. O reducionismo estaria presente na redução dos eventos psicológicos a eventos neurológicos ou biológicos. E o modelo reativo negaria o livre arbítrio.
Pode-se questionar se estes três elementos estão realmente
presentes na
obra de
Skinner
ou apenas
em alguns
de seus
seguidores.
Mas sua noção de causalidade parece, algumas vezes envolver realmente uma idéia mecanicista. Hayes, Hayes e Reese
(1988) consideram a este respeito que:
"Se o tratamento
da causalidade da análise do
comportamento é ou não mecanicista depende dos
objetivos desse
tratamento
e dos critérios
pelos quais
a verdade é determinada. Se nossos objetivos forem predição e controle, como são os de Skinner, chamar
algo de uma causa pode ser compreendido
como significando que os objetivos analíticos
do cientista foram realizados: Predição e controle foram conseguidos.
Tal interesse pragmático
na
causalidade eficiente não implica mecanicismo...
Entretanto, a fala causal
pode carregar com
ela
certas suposições filosóficas... 'Isto causou aquilo' pode levar à visão de que isto
e aquilo são partes
discretas que existem independentemente
de
sua relação...
os analistas
do comportamento devem estar especialmente conscientes de seus
pressupostos filosóficos para reter sua visão contextualista" (p. 105, grifos dos autores).
A confusão conceptual na análise do comportamento, segundo Hayes, Hayes e Reese
estaria em se apoiar em uma mistura não- sistemática de postulados mecanicistas e contextualista.
Para eles, Skinner poderia ser visto como um filósofo contextualista que às vezes recorre a uma teorização mecanicista. E isto faz com que os elementos mecanicistas da análise do comportamento possam ser
erradamente considerados como representando sua base filosófica. Por um lado, para estes
autores, qualquer motivo da análise pode ser consistente
com o contextualismo já que este não impõe nenhum objetivo. Assim, os objetivos da predição e controle podem
ser
harmônicos com o contextualismo.
Mas, por outro lado, há o perigo das análises que ajudam a alcançar
esses objetivos serem tomadas
literalmente.
Neste caso, causas e efeitos passam a ser vistos como coisas pré-existentes
no
mundo, a qualidade holística do contextualismo é ameaçada e o mecanicismo
estará muito próximo. Hayes, Hayes e Reese concluem que:
"um sistema contextualista
dirigido para objetivos
diferentes
da
predição e controle pode parecer estranho ou mesmo hostil à análise do comportamento, mas o seria apenas no sentido de ser,
um rival. Seria um membro rival da mesma
'família de teorias', isto é, teorias derivadas de uma única visão de mundo, e portanto comparáveis entre si em bases empíricas... A análise do comportamento é um sistema contextualista. Essa conclusão
altera significativamente nossa visão do que é central para a
análise do comportamento e o que é mero acidente histórico ou preferência teórica" (p. 110).
Esta análise crítica de Hayes,
Hayes e Reese permite apontar, em primeiro lugar, para a inconsistência da tentativa de se pensar
na possibilidade de uma conciliação entre behavior
e cognitivismo.
Suas posições teóricas baseiam-se em diferentes visões de mundo e uma tentativa
de conciliação levaria apenas à confusão
conceptual. Assim,
não faz sentido admitir,
como o faz Wessells
(1981), a complementaridade das pesquisas behaviorista e cognitivista, mesmo reconhecendo seus diferentes objetivos e concepção de explicação.
Também não faz sentido considerar, como Catania (1972), que a
controvérsia entre explicações cognitivistas e comportamentais é, em parte, uma questão de falar das mesmas
coisas de maneiras
diferentes
já
que cabe perguntar se ao falar-se de maneira diferente das
mesmas coisas estas permanecem as mesmas.
Em segundo
lugar, a análise
destes autores parece apontar
para uma diferença importante que é a diferença entre a visão de
mundo adotada por um sistema e sua realização teórica. O próprio Skinner diferencia a filosofia da ciência do comportamento
– o behaviorismo
– desta própria ciência. Neste sentido, seria possível
considerar que o behaviorismo enquanto filosofia é contextualista;
a ciência do comportamento
é que seria mecanicista. O principal problema da posição de Skinner,
se quisermos rejeitar uma posição mecanicista, parece
consistir então
em
sua visão de ciência que tem
como
noções fundamentais
a predição
e
o
controle
do comportamento. É isto que o faz recorrer sempre a estímulos e respostas como aponta Natsoulas (1983). A questão passa a ser
então como desenvolver uma análise do comportamento realmente contextualista.
FIM!
POSTADO POR : HILTON CAIO