Para Skinner (1957), comportamento verbal é comportamento; é todo comportamento reforçado através da mediação de outras pessoas. O termo 'comportamento verbal' enfatiza o falante individual assim como especifica o comportamento modelado e mantido por conseqüências mediadas. Esta sua definição de comportamento verbal aplica-se apenas ao falante mas o comportamento do ouvinte, embora possa ser não-verbal, precisa ser considerado pois é ele que modela e mantém o comportamento verbal do falante.
Não há, para Skinner (1957), nenhuma forma ou modo
comportamento especificamente verbal já que qualquer movimento
capaz de afetar outro organismo
pode ser verbal. Como exemplos,
ele cita as linguagens escritas e de signo, o bater palmas, gestos, o
telégrafo,
o apontar, a manipulação de objetos
físicos em cerimônias, além é claro do comportamento vocal.
Mas Skinner (1957)
procura restringir essa definição de
comportamento verbal por considerar que ela acaba abrangendo todo comportamento
social. Assim, ele diz que: "Uma restrição preliminar seria
limitar o termo verbal a instâncias nas quais as respostas do
'ouvinte' foram condicionadas"
(p. 224). Seu exemplo de como fazer
para levar um cavalo a virar-se é ilustrativo das diferenças. Num primeiro caso, podemos empurrar
o cavalo, mas isto é claro não interessa. Num segundo caso, podemos movimentar um objeto que o
assusta ou usar um
pedaço de açúcar,
o
que
Skinner
também
descarta por envolver comportamento
incondicionado e
condicionamento incidental, respectivamente.
Para ele, um bom exemplo de comportamento verbal seria quando o cavaleiro deixa as
rédeas tocarem suavemente
o pescoço do cavalo. Aqui, Skinner considera que:
"O cavalo foi condicionado com relação ao toque das rédeas especialmente para criar
um meio de controle. Mais particularmente, ele foi submetido a
certas contingências
que
envolvem
um
toque no
pescoço e fuga, ou esquiva, de estímulos aversivos produzidos pelo chicote ou calcanhar.
Esse condicionamento especial dá ao comportamento do cavaleiro propriedades de interesse especial, pois
circunstâncias similares na história do ouvinte dão lugar a características importantes
do comportamento
do falante. O condicionamento especial do ouvinte é o xis do problema.
O comportamento verbal é modelado e mantido por
um
ambiente verbal – por pessoas que respondem
ao comportamento de certas maneiras por causa das práticas do grupo do qual são membros.
Essas práticas e a interação
resultante
entre falante e ouvinte produzem os fenômenos que são considerados
sob a
rubrica de comportamento verbal"
(1957, p. 225-226, grifo do autor)
Este exemplo de Skinner nos leva a considerar a possibilidade
de comportamento verbal em não-humanos. Até aqui, foi visto que
em sua definição ele se refere a humanos.
Por um lado, ele tem se
referido ao comportamento verbal de falantes humanos mas tem considerado que o comportamento do ouvinte, embora precise afetar o comportamento do falante, não precisa ser necessariamente verbal para
caracterizar o comportamento de ambos como um episódio verbal. Por outro lado, Skinner parece considerar que o comportamento de um gato que mia na porta para sair não pode ser
considerado verbal por envolver uma resposta emocional e não um operante. No entanto, ele considera que sua
"definição de comportamento verbal, incidentalmente,
inclui o comportamento
de
animais experimentais
onde reforçamentos são
proporcionados por um experimentador
ou
por um aparato projetado para estabelecer contingências que se parecem a aquelas
mantidas pelo ouvinte normal.
O animal e o experimentador abrangem uma pequena mas genuína
comunidade verbal"
(Skinner, 1957, p. 108)
Ou seja, parece que o animal pode
atuar não só como 'ouvinte', como no exemplo do cavalo, mas também como 'falante'.
Torna-se importante ver, então, como se dá a aquisição da
linguagem, segundo Skinner, para melhor precisar sua concepção de
linguagem e compreender seu papel na constituição do cognitivo .
Como linguagem é comportamento verbal e
este é
comportamento, a aquisição da linguagem se
dá
seguindo os mesmos princípios da aquisição de qualquer outro comportamento.
O que se requer é
uma comunidade verbal e
uma contingência de reforçamento.
De uma maneira geral, a aquisição da linguagem para eventos públicos e privados se dá da mesma maneira. No caso de eventos
públicos, em determinada
situação, i.e., na presença de um estímulo antecedente, a criança diz algo e é reforçada pelo adulto. No caso de eventos privados, sendo o estímulo antecedente
privado,
a comunidade verbal precisa inferir as condições internas da criança, e
ela o faz a partir
de condições públicas, como será visto posteriormente.
Vejamos primeiro a classificação que Skinner (1957) faz dos
diferentes tipos
de operantes
verbais
segundo suas
relações funcionais com as variáveis independentes, já que o que a criança adquire são os diferentes
operantes verbais, e que se utiliza
principalmente
de
exemplos de situações públicas, para depois apresentar sua análise da aquisição da linguagem referente a eventos
privados.
Skinner identifica, em primeiro lugar, o 'mando' que é definido
como "um
operante verbal no qual a resposta
é reforçada por uma
conseqüência característica e está portanto sob o controle funcional de condições relevantes de privação ou estimulação aversiva" (1957, p. 35-36). Como exemplo de mandos temos 'Espere!", "Água!",
"Pare!", etc. Aqui, nenhum estímulo antecedente
determina a forma
específica da resposta.
Outros três tipos de operantes verbais são o
'comportamento ecóico', o 'comportamento textual' e o 'intraverbal',
nos quais a resposta
é determinada
por um estímulo verbal
antecedente, auditivo, escrito ou ambos. No comportamento ecóico e no textual há uma correspondência
ponto-a-ponto entre as propriedades do estímulo e da resposta. Assim, no caso do comportamento
ecóico, ao ouvir 'casa', a pessoa diz 'casa', enquanto
no
comportamento textual ao olhar a palavra impressa 'casa',
a
pessoa diz 'casa'. No caso do intraverbal a pessoa apresenta uma resposta tematicamente relacionada com a palavra lida ou ouvida;
por exemplo, ao ler ou ouvir 'capital da França', a pessoa diz 'Paris'.
O último
operante verbal é o 'tato' que é definido como "um
operante verbal no qual uma resposta de determinada forma é evocada (ou pelo menos fortalecida) por um objeto particular ou evento ou propriedade de
um objeto ou
evento" (1957, p.
81-82).
Como exemplo temos dizer 'livro' na presença de um livro ou 'vermelho'
na presença de um objeto vermelho. Neste caso, temos um estímulo,
em geral, não-verbal, que
controla
a
forma
da resposta
verbal. Skinner (1957) considera que o controle é
compartilhado
por todas as propriedades do estímulo sendo que um novo estímulo que possua
uma
ou mais das mesmas propriedades
pode ser também eficaz. É o que permite explicar a extensão genérica, metafórica e metonímica
do tato.
Por
outro lado, o controle
pode ser restrito a uma
propriedade ou grupo de propriedades
na
abstração, através de reforçamento diferencial.
Assim, segundo esta classificação, para Skinner (1957) uma
resposta
verbal como "Fogo" pode ser um mando para os bombeiros, um
tato para um
incêndio,
ou uma resposta ecóica ou
textual segundo o estímulo apresentado.
Além das variáveis controladoras mencionadas, Skinner (1957)
observa que uma resposta única pode ser função de mais de uma variável e que em diferentes ocasiões uma comunidade pode reforçar diferentes respostas da mesma maneira. Além disso, ele admite que o controle de estímulo nunca é perfeito já que o comportamento verbal nunca é inteiramente independente da condição do falante e
que
este pode modelar seu próprio comportamento
pelo fato de em algumas ocasiões ser falante e ouvinte simultaneamente.
Vejamos, então, alguns exemplos gerais sobre a aquisição da linguagem. Skinner (1957) diz que a criança, ao aprender a falar, adquire tatos de tamanhos diferentes,
como palavras, frases, sentenças, mas de
forma unitária, em todos os casos, sob controle de estímulos particulares. Mas eventualmente de uma unidade maior pode surgir uma unidade menor. Assim, quando da aprendizagem
de "eu tenho
uma
boneca", "eu
tenho
um cachorro" pode surgir a unidade funcional "eu tenho..."
que pode ser combinada com outras
palavras sem necessidade de condicionamento.
Skinner (1957) também considera que cada um dos diferentes
operantes verbais é adquirido separadamente, o que significa que o fato de ter aprendido o mando "Boneca!" não implica que a criança
possua o tato "boneca",
ou vice-versa.
Em outro exemplo, Skinner (1957) considera que também
é possível estabelecer tatos através da definição
ostensiva ou quando se observa
alguém manipulando
objetos ao mesmo tempo que os nomeia. Finalmente,
Skinner (1957) analisa um exemplo mais complexo
no
qual se pede uma refeição marcando
uma
lista. Aqui, a situação parece envolver a aquisição de diferentes repertórios
comportamentais como o poder ler e o marcar em uma lista.
Estes são apenas alguns exemplos mas que permitem ter–se uma idéia dos tipos de análises desenvolvidas
por Skinner e a melhor compreender suas noções de significado e referência.
Dada a definição
de comportamento
verbal como comportamento operante, Skinner (1957) passa a descartar as explicações tradicionais segundo as quais a linguagem envolveria a expressão de idéias, imagens, significado e informação.
Segundo Skinner (1957), esses termos desencorajam uma análise funcional e
apóiam práticas associadas à doutrina das idéias, o que para ele tem
como conseqüência
considerar que a fala tem uma existência
independente do comportamento do falante. Assim, tratando mais especificamente da noção de significado, Skinner critica a idéia de que o significado tenha uma existência própria, independente, que ele
possa ser comunicado ou expresso por uma verbalização, e que seja o
mesmo para o ouvinte e o falante. Para Skinner (1957),
"o significado não é uma propriedade do comportamento como tal mas das condições sob as quais o comportamento ocorre. Tecnicamente, os significados devem ser encontrados entre as
variáveis independentes numa explicação funcional, em vez de como propriedades
da
variável dependente" (p. 13-14).
Da mesma maneira, segundo esta abordagem, o significado não é o mesmo para o ouvinte e o falante já que os processos envolvidos nos dois casos são diferentes. Skinner (1974) diz
que:
"O significado de uma expressão
é diferente para o falante e o ouvinte; o significado
para o falante deve ser procurado
nas circunstâncias sob as quais ele
emite uma resposta verbal e para o ouvinte na resposta que ele dá a um estímulo verbal" (p. 191).
Para tornar este argumento
mais claro podemos citar um exemplo de Skinner (1974)
no
qual uma pessoa – o ouvinte –
pergunta a hora a outra pessoa – o falante – para manter um compromisso.
Segundo
a
análise de
Skinner,
o
significado da resposta para o falante inclui o estímulo que a controla, i.e., os
ponteiros do relógio e possivelmente aspectos aversivos da pergunta, enquanto que o significado para o ouvinte estaria próximo do significado que relógio teria se fosse visível a ele e também
inclui as contingências envolvendo o compromisso. Ou
seja, o significado
depende das contingências de reforçamento que são diferentes para o ouvinte e o falante.
E isto nos leva a analisar sua noção de referência. Para Skinner
(1974):
"Um referente
pode ser definido
como aquele aspecto do ambiente
que
exerce controle sobre a
resposta da qual se diz ser o referente. Ele o faz por
causa das práticas reforçadoras
de
uma comunidade verbal. Em termos tradicionais, significados e referência não devem ser encontrados nas palavras mas nas circunstâncias
sob as quais as palavras são usadas pelos falantes e compreendidas
pelos
ouvintes, mas 'usadas' e 'compreendidas' precisam
de
mais análise" (p. 103)
Assim, Skinner descarta a idéia de
que o
referente seja o próprio objeto já que não há, por exemplo, uma cadeira única que seja o referente da resposta "cadeira". Mas ele também descarta a
idéia de que o referente seja um conceito pois ele considera que nunca reforçamos uma resposta quando um 'conceito' está presente;
o que está presente é um estímulo particular. Assim, o referente seria a propriedade ou conjunto de propriedades sobre as quais o reforçamento é tornado contingente e que controla a resposta.
Uma implicação
deste tipo de análise
é que para Skinner
nenhuma palavra descreve algo. Ele
considera que:
"O cientista dá um conjunto de respostas para um determinado
estado de coisas por causa das contingências reforçadoras
estabelecidas pela
comunidade
verbal científica. O poeta emite um
conjunto inteiramente diferente de respostas
ao mesmo estado de coisas porque elas são eficazes
de outras maneiras
em outros tipos de ouvintes ou
leitores. Qual comportamento mais se aproxima da
situação atual não é tanto uma questão de fato,
precisão, ou extensão mas dos interesses
e práticas das comunidades verbais"
(Skinner, 1957, p. 127).
Podemos passar a examinar
então a aquisição de respostas verbais para eventos privados e que está diretamente relacionada com o conhecimento
das próprias sensações e do próprio comportamento .
Skinner (1989a) observa a respeito do auto-conhecimento que:
"Uma melhor compreensão das
contingências verbais também trouxe
dois campos importantes da psicologia dentro do âmbito de uma análise operante. Um deles
é a
auto-observação. A análise não 'ignora a
consciência'...;
ela simplesmente analisa a maneira
pela qual as contingências verbais de reforçamento
colocam o comportamento chamado de introspeção sob
o controle de eventos privados. Apenas quando
CONTINUA!!
CONTINUA!!