quinta-feira, 5 de maio de 2011

É POSSÍVEL TER AUTO-CONTROLE ?









Tratado geralmente como uma características das pessoas, no sentido de que alguns têm e outros não, a análise do comportamento tem proposto explicar fenômenos como este a partir das relações entre o ambiente e o organismo. Preparados para mudarem sua forma de ver o autocontrole?

Primeiramente, uma concepção internalista trata o autocontrole como derivado de traços de personalidade, de características inatas e de forças interiores. Argumentos à parte, tais concepções facilmente sucumbiriam a indagações tais como “por que as pessoas demonstram diferentes níveis de autocontrole em diferentes situações?”, “por que uma pessoa tem mais autocontrole em uma fase da vida e menos em outra?” e “por que as crianças são mais impulsivas que os adultos?”. São perguntas que enfraquecem o argumento de que o autocontrole pode ser determinado por um eu iniciador localizado no interior do sujeito.

A partir daí, podemos começar a buscar uma explicação externalista, ou seja, que parte da análise da interação entre resposta e ambiente para caracterizar o autocontrole. O primeiro passo para uma definição operacional do autocontrole é delimitar o que se pretende estudar. Os analistas do comportamento propõem que o autocontrole trata-se da escolha por um reforçador de maior magnitude com maior atraso atrasado em detrimento da escolha por um reforçador de menor magnitude e com menor atraso. A imagem abaixo ilustra esta definição:

Como podemos ver, o autocontrole é a preferência por uma recompensa maior que ocorrerá no futuro, ao invés de uma recompensa menor que está disponível no presente. Esta definição parece útil, pois retrata bem o que pode ser entendido como autocontrole no cotidiano. Por exemplo, eu digo que tenho autocontrole quando resisto a um belo pedaço de bolo de chocolate. Em outras palavras, estou optando por ser paquerado na praia durante o verão e talvez até arrumar um casamento (um reforçador de maior magnitude e mais atrasado), ao invés de comer um pedaço de bolo que logo será esquecido (um reforçador menor e imediato).

Porém, em que condições alguém escolhe a alternativa de autocontrole ao invés da alternativa de impulsividade? Os analistas experimentais tentaram responder a esta pergunta e encontraram resultados interessantes.



O primeiro deles vem das pesquisas sobre a escolha de compromisso. Nestas pesquisas, um sujeito (pombo, rato, criança etc.) poderia optar por uma contingência em que escolheria entre um reforçador menor e imediato ou um reforçador maior e mais atrasado (em geral o reforçador era tempo de acesso a alimento); ou por outra contingência em que somente poderia ter acesso ao reforçador maior e mais atrasado (chamada elo de compromisso). Os resultados demonstram que os sujeitos preferem a primeira contingência e acessam ao reforçador menor e imediato quando o intervalo entre a escolha desta contingência e o acesso ao alimento é pequeno; porém os sujeitos preferem apenas o elo de compromisso – aquela contingência que só permite acesso ao reforçador maior e mais atrasado – quando há um intervalo maior entre a escolha das contingências e o acesso aos reforçadores. É como se os sujeitos dissessem “já que eu tenho que esperar mesmo, então vou esperar só pelo que vale a pena”. Outro resultado interessante é que os participantes escolhem a contingência que não os permitem “cair na tentação” de optar pela impulsividade.



Um fenômeno observado a partir dos estudos de autocontrole é a inversão de preferência. Os pesquisadores demonstraram que a magnitude do reforçador estabelece um determinado intervalo de tempo em que aquele reforçador controla a resposta que o produz. Ou seja, um reforçador de maior magnitude pode controlar uma resposta mesmo estando mais distante no tempo, ao passo que um reforçador menor somente pode controlar uma resposta mais imediata. Assim, os reforçadores disponíveis no ambiente poderiam concorrer pela resposta, sendo que a distancia temporal determinaria a escolha. Tentarei explicar melhor a partir da figura abaixo:

Suponhamos que a moça rosa seja Maria, que tem diante de si a possibilidade de escolher entre dois reforçadores: um carro ou algumas guloseimas. O custo implicado em comprar um carro é maior que aquele implicado em comprar guloseimas, mas estão relacionados – então se Maria sempre comprar doces, dificilmente conseguirá comprar seu carro. Porém, o fato é que o carro é um reforçador de maior magnitude (GM) e controla o comportamento de Maria mesmo distante no tempo (linha amarela). Já as guloseimas são reforçadores menores (Gm) e só controlam o comportamento de Maria quando estão disponíveis imediatamente (linha verde). O fenômeno da inversão de preferência prevê, então, que Maria se comportará para comprar o seu carro mesmo muito antes de ir à concessionária (ponto x), poupando dinheiro por exemplo. Porém, quando Maria estiver passeando no shopping e ver uma loja com muitas guloseimas (ponto y), é muito provável que ela torre o dinheiro e compre suas balas prediletas. O ponto i da figura indica o momento em que Maria tende tanto a poupar como a torrar; é quando Maria fica confusa e seu comportamento é imprevisível.

A contribuição aplicada da análise do comportamento mais proeminente é a proposição de um procedimento que pode gerar a escolha pelo autocontrole em sujeitos que não demonstrem este repertório. O procedimento básico consiste em apresentar um reforçador de maior magnitude e um outro reforçador de menor magnitude simultaneamente, sendo que o sujeito pode escolher livremente entre ambos reforçadores. Uma vez observada a preferência pelo reforçador de maior magnitude, deve-se aumentar o intervalo de tempo ou o custo de resposta necessário para produzir o reforçador de maior magnitude. Este aumente deve ser realizado segundo um procedimento conhecido como esvanecimento aditivo, que é caracterizado pelo aumento gradual no intervalo ou no custo da resposta. Um exemplo é oferecer uma intervenção a crianças com TDAH que consista na apresentação de um prêmio maior e outro menor pela resolução de duas contas de matemática com nível de dificuldade semelhante. A partir do momento que a criança começar a preferir aquela conta que permite acesso ao reforçador de maior de magnitude, o terapeuta pode aumentar gradualmente a dificuldade dos problemas correlacionados ao reforço maior e manter o mesmo nível de dificuldade para aquele problema que permite acesso ao reforçador de menor magnitude. Em geral os resultados deste tipo de intervenção demonstram preferência pelos problemas de maior dificuldade em comparação ao repertório apresentado pela criança antes da intervenção.

Então, como você vê o autocontrole agora? Se antes este só poderia ser entendido como uma aptidão inata, agora você pode contar com a compreensão analítico-comportamental deste complexo fenômeno estudado pela psicologia. E se você não sabia responder à pergunta-título desta publicação, o que me diria agora?

Texto base: Hanna, E. S. & Ribeiro, M. R. (2005). Autocontrole: um caso especial de comportamento de escolha. Em: J. Abreu-Rodrigues & M. R. Ribeiro. Análise do comportamento: teoria, pesquisa e aplicação. Porto Alegre: Artmed.

FONTE: http://www.psicologiaeciencia.com.br/autocontrole-voce-pode-ter/





MODELOS DE AUTOCONTROLE NA ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO: UTILIDADE E CRÍTICA


Elenice S. HannaI, 2; João Claudio TodorovII

Um pesquisador poderia facilmente justificar a utilização de paradigmas experimentais de comportamentos complexos demonstrando que esses modelos possibilitam a investigação sistemática de variáveis que afetam esses comportamentos. À medida que os fatores envolvidos são identificados, previsão e controle desses comportamentos em contextos clínicos e educacionais tornam-se possíveis (Todorov, 1989). Entretanto, é comum encontrarmos na linguagem do dia a dia o caso de um só termo utilizado para significar um comportamento complexo e significar também uma fonte de variáveis controladoras desse comportamento. Um exemplo é o conceito de autocontrole.

As concepções de autocontrole como um traço de personalidade, uma característica inata dos indivíduos ou uma força interior que possibilita o controle de suas próprias ações contrastam com observações casuais de que uma mesma pessoa pode apresentar diferentes graus de autocontrole em situações diferentes, como também na mesma situação o autocontrole pode diferir em etapas diferentes da vida.

As crianças são geralmente descritas como mais impulsivas do que os adultos. Apesar dos resultados de Darcheville, Riviere e Wearden (1992) mostrarem que crianças também se comportam com autocontrole, a maioria de nós, às vezes mesmo com vontade, não se comportaria como um bebê em qualquer lugar, ou em situação desconfortável não choraria ou gritaria, como fazem muitas crianças. Quando adultos se comportam "com responsabilidade", "para ser gentil", "para conquistar", "para ter uma alimentação saudável" ou "para salvar o planeta" em geral é possível que não estejam fazendo "aquilo que mais desejariam naquele momento" e sim pensando ou agindo em função das oportunidades futuras de ações e suas conseqüências.

O relaxamento na linguagem de um analista do comportamento, conforme mencionado anteriormente, serve para mostrar a extensão do fenômeno no comportamento humano e sua possível relação com autoregulação, preservação da espécie e do meio ambiente. Esforços para explicitar melhor a influência do meio ambiente sobre a aquisição e manutenção de formas de agir que possam ser chamadas de autocontrole são bem-vindos e muito necessários. A literatura sobre autocontrole na análise do comportamento aponta três grandes influenciadores no desenvolvimento de metodologia, de conhecimentos empíricos e nas discussões sobre o tema. São eles: B. F. Skinner, W. Mischel e H. Rachlin (e seus colaboradores). É principalmente dessas propostas de análise do autocontrole que o presente artigo tratará.

B. F. Skinner, apesar de nunca ter estudado experimentalmente autocontrole, mostrou a importância do tema em vários dos seus livros (1953, 1969, 1974, 1978), procurando especificar as interações entre comportamento e as contingências ambientais que devem ser analisadas. Um capítulo inteiro do livro Ciência e Comportamento Humano (1953) foi dedicado à análise de comportamentos relacionados ao autocontrole. De acordo com Skinner (1953):

Com freqüência o indivíduo passa a controlar parte de seu próprio comportamento quando uma resposta tem conseqüências que provocam conflitos – quando leva tanto a reforçamento positivo quanto a negativo. (p. 230).

LEIA O ARTIGO TODO EM: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722002000300014&lng=en&nrm=iso