quinta-feira, 26 de maio de 2011

A EXTINÇÃO COMPORTAMENTAL (PARTE2)

Extinção

 Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério1





A curva de extinção para uma resposta até então regularmente reforçada (isto é, com um reforçamento para cada emissão) é geralmente, senão sempre, bastante desigual. Começa com uma inclinação maior (freqüência de resposta mais alta) do que a inclinação durante o reforçamento regular, em parte porque as respostas não são mais separadas pelo tempo gasto no comer e em parte porque o animal tende a atacar vigorosamente a barra.... Depois, a curva é marcada por mudanças de freqüência que se assemelham a ondas, as quais a distorcem localizadamente, embora ainda permitam traçar uma ‘curva padrão’ que descreve a tendência geral. Esses jorros e depressões da resposta poderiam ser caracterizadas em termos emocionais, o paralelo das mais complexas frustrações e agressões vistas no homem. (Keller e Schoenfeld, 1968, p. 71)









a) Millenson (1970) agrupa em dois grandes conjuntos as mudanças comportamentais que produzem uma curva de extinção com as características apontadas por Skinner (1953) e Keller e Schoenfeld (1968): (a) as mudanças na taxa de respostas e (b) as mudanças topográficas e estruturais. Com relação às mudanças na taxa de respostas, Millenson (1970) afirma: “a taxa de respostas é altíssima no início [assim que o reforçamento é suspenso] e diminui gradualmente.” (pp. 90, 91) Esta diminuição ocorre de forma irregular: há “muitos períodos de alta atividade, intercalados com períodos de baixa atividade ... Estes últimos tornam-se mais proeminentes no final da extinção” (p.90). Este intercalar de alta e baixa atividade é uma característica tão marcante das curvas de extinção que alguns pesquisadores interpretam o processo de extinção como produto do aumento dos períodos de baixa atividade (p. 90).

b) Com relação às mudanças topográficas e estruturais, Millenson (1970) afirma: “os efeitos da extinção não se confinam de maneira alguma a mudanças na freqüência da resposta selecionada. Em particular mudanças marcantes ocorrem na forma do comportamento durante a extinção” (p. 91). Há um aumento na variabilidade das respostas. Aparecem respostas com diferentes topografias e magnitudes. Por exemplo, o sujeito experimental tende, na extinção, a emitir respostas de pressão à barra de maneiras (com outra pata, com a cabeça) e com magnitudes (com a força que coloca sobre a barra) que não ocorriam no reforçamento. São essas mudanças que levam alguns autores (por exemplo, Antonitis, 1950) a afirmar que a extinção produz variabilidade comportamental.

Além disso, a seqüência de respostas estabelecida a partir do reforçamento se degenera na extinção. Por exemplo, se o sujeito experimental, no laboratório, após a modelagem, tipicamente emite uma certa seqüência de respostas, do tipo, pressão à barra - descer ao bebedouro – lamber o bebedouro, durante a extinção tenderá a alterar esta seqüência e, por exemplo, poderá repetir um dos elos várias vezes (pressão à barra - pressão à barra - pressão à barra ou lamber o bebedouro - lamber o bebedouro - lamber o bebedouro).

Quando falamos em extinção, então, devemos ter claro que a ruptura da relação resposta-reforço produz um conjunto grande de alterações no responder. É importante ressaltar algo que já foi indicado: as dimensões envolvidas nestas alterações (por exemplo, o tempo necessário para que a alteração ocorra, a magnitude da alteração) dependem da história anterior de reforçamento. Voltamos a um trecho de Skinner (1953) para ilustrar isto:



O comportamento durante a extinção é resultado do condicionamento que a precedeu e, nesse sentido, a curva da extinção fornece uma medida adicional do efeito do reforçamento. Se apenas umas poucas respostas tiverem sido reforçadas, a extinção ocorre rapidamente. Uma


longa história de reforçamento é seguida [na extinção] por um responder que se mantém por mais tempo. Não se pode predizer resistência à extinção a partir da probabilidade da resposta observada em um dado momento. Devemos conhecer a história de reforçamento.... Não há uma relação simples entre o número de respostas reforçadas e o número [de respostas] que aparece na extinção.... a resistência à extinção gerada por reforçamento intermitente [isto é, quando nem todas as respostas de uma determinada classe de respostas são seguidas de re-forço] pode ser muito maior do que se o mesmo número de reforços for dado para respostas consecutivas. (p.70)

Podemos dizer, então, que estaremos mais preparados para compreender as alterações no responder produzidas durante a extinção se conhecermos a história de reforça-mento; no trecho acima, estão destacados alguns aspectos dessa história que devem ser levados em conta (o número de respostas reforçadas e o critério para apresentação do re-forço). Entretanto, no caso das alterações produzidas durante a extinção, além dos aspectos que descrevem como ocorreu o reforçamento, é importante também considerar a existência de experiências anteriores de extinção, de tal forma que conhecer a história de re-forçamento envolve, na realidade, conhecer a história de reforçamento e de extinção. Segundo Millenson (1970), os efeitos dessa história de reforçamento e de extinção são tais que a primeira extinção pode ser considerada como “um fenômeno único”; se submeter-mos uma classe de respostas, sucessivamente, a períodos de reforçamento seguidos de períodos de extinção, cada nova extinção produzirá mais rapidamente o enfraquecimento da resposta em questão. A interação reforçamento-extinção é tal que é possível chegar ao que Millenson (1970) chama de “extinção em uma tentativa”, o que quer dizer que, após sucessivas experiências de extinção, uma única resposta não seguida de reforço é emitida, ou seja, apenas uma resposta sem reforço é suficiente para que o responder volte aos padrões próximos ao do nível operante daquela resposta.


Referências bibliográficas

Antonitis, J. J. (1951). Response variability in the white rat during conditioning, extinc-tion, and reconditioning. Journal of Experimental Psychology, 42, 273-281.

Catania, A C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Art-med.

Keller, F. S., e Schoenfeld, W. N. (1968). Princípios de psicologia. São Paulo: Herder
Millenson, J. R. (1970). Princípios de Análise do Comportamento. Brasília: Coordenada Edito-ra.

Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York, NY: Mc Millan.