quarta-feira, 25 de maio de 2011

A EXTINÇÃO COMPORTAMENTAL



Extinção


Maria Amalia Andery, Tereza Maria Sério


PUCSP


Quando falamos em comportamento operante estamos falando de uma relação entre uma classe de respostas, as conseqüências por ela produzidas e as alterações sobre o responder promovidas por estas conseqüências. Estudando esta relação, alguns pesquisadores perguntaram: o que acontece quando respostas operantes deixam de produzir as conseqüências que as mantem?

O estudo gerado por esta pergunta originou um conceito – o conceito de extinção - que descreve exatamente o que acontece quando uma classe de respostas operante deixa de produzir os reforços que vinha produzindo. Três aspectos, então, necessariamente devem compor a definição de extinção: (a) uma relação entre resposta e reforço já estabelecida, (b) a quebra desta relação e (c) as alterações no responder produzidas por esta ruptura. Como veremos, estes aspectos aparecem nas definições de extinção elaboradas por diferentes autores.

Keller e Schoenfeld (1968) referem-se à extinção da seguinte maneira:





Operantes condicionados são extintos rompendo-se a relação entre o ato e o efeito. À medida que respostas sucessivas deixam de produzir reforço, a recorrência da resposta torna-se menos provável. ... A força de um operante condicionado pode ser reduzida pela não apresentação do reforço. (pp.70, 71)

Skinner (1953), de forma bastante semelhante, afirma:

Naquilo que é chamado ‘extinção operante’, uma resposta torna-se cada vez menos freqüente quando o reforçamento não mais acontece. (p.69)

Millenson (1970), ao iniciar o capítulo sobre extinção de seu livro, afirma:

Quando a conexão entre uma resposta operante e seu reforçador é abruptamente interrompida, um processo comportamental característico é produzido. As características deste processo, que é chamado extinção, desempenham uma parte importante na construção e manutenção de padrões complexos de comportamento. (p. 89)
Mais adiante, neste mesmo capítulo, Millenson apresenta o que chama de uma “definição completa” de extinção:


DADO: uma resposta operante previamente fortalecida. PROCEDIMENTO: retirar o reforço do operante. ...
PROCESSO: 
1. um declínio gradual um tanto irregular da taxa marcado por aumentos progressivos na freqüência de períodos relativamente longos de não responder.
2. um aumento na variabilidade da forma (topografia) e da magnitude da resposta.

3. uma ruptura gradual dos elos ordenados que constituem o comportamento fortalecido.

RESULTADO: os processos comportamentais aproximam-se de estados de nível operante como valores limites. (p. 104)

Como podemos notar, nos trechos que citamos, Keller e Schoenfeld, Millenson e Skinner incluem em sua definição de extinção os aspectos a (uma relação entre resposta e reforço já estabelecida) e b (a quebra desta relação). Com relação ao aspecto c (as alterações no responder produzidas por esta ruptura), pelo menos nos trechos citados, encontramos o enfraquecimento da resposta (a diminuição da freqüência ou taxa das respostas de uma determinada classe) destacado como uma alteração no responder produzida pela ruptura da relação entre resposta e reforço2. E, efetivamente, uma diminuição na freqüência das respostas anteriormente reforçadas pode ser o efeito que mais se destaca já que no processo de reforçamento toda nossa atenção estava voltada para o fortalecimento (ou aumento da freqüência) da resposta reforçada.

A relação de complementaridade entre os conceitos de reforçamento e extinção é tal que há autores que sugerem que a extinção não seria um processo comportamental especial, mas parte do conceito de reforçamento. Catania (1999), por exemplo, afirma:

O responder é mantido apenas enquanto o reforço continua e não depois que ele é suspenso. Assim, a redução no responder durante a extinção não é um processo especial que requeira um tratamento separado, é uma das propriedades do reforço. (p. 92)

Esta maneira de olhar para  a extinção (como uma das propriedades do reforçamento) marcou os primeiros estudos sobre extinção de respostas operantes. Tais estudos foram conduzidos em função da dificuldade de medir as mudanças que ocorriam no processo de reforçamento. Tal dificuldade era vista como decorrente da rapidez na qual o reforço alterava o responder; Skinner (1932), nos seus experimentos iniciais sobre os efeitos do reforço, destacou tal rapidez caracterizando o processo de condicionamento como instantâneo. É esta mesma característica que, parece, ele está abordando quando, já em seu livro
Ciência e Comportamento Humano (1953), afirma:

Uma vez que a extinção operante ocorre muito mais lentamente que o condicionamento operante, o processo pode ser seguido mais facilmente. Em condições apropriadas curvas regulares podem ser obtidas, nas quais a taxa de resposta declina lentamente, talvez em um período de muitas horas.... As curvas revelam propriedades que possivelmente não poderiam ser observadas por meio de inspeção casual. (p.69)

Neste contexto, a extinção era vista como uma medida dos efeitos do reforço; mais precisamente, esta medida era chamada de resistência à extinção. Embora não mais com as características iniciais, Skinner (1953) continuou propondo o recurso à extinção como medida dos efeitos do reforço:

O comportamento durante a extinção é resultado do condicionamento que a precedeu e, nesse sentido, a curva da extinção fornece uma medida adicional do efeito do reforçamento. ... A resistência à extinção não pode ser predita a partir da probabilidade da resposta observada em um dado momento. Devemos conhecer a história de reforçamento. (p. 70)

Segundo Catania (1999), dois critérios vêm sendo adotados quando se trata de medir a resistência à extinção: (a) o número de respostas emitidas durante a extinção, ou (b) o período de tempo em que respostas são emitidas. Em qualquer dos casos é necessário estabelecer arbitrariamente um critério do que será considerado como extinção. Para ilustrar esta medida e as conseqüências da existência desses dois critérios, Catania (1999) apresenta duas curvas hipotéticas que reproduzimos a seguir.
Falamos, acima, em estabelecer arbitrariamente um critério´ porque um dos problemas envolvidos na extinção diz respeito exatamente a ´quando´ ou em ´que circunstancias´ podemos dizer que o efeito de enfraquecimento da resposta ocorreu. A pergunta `Quando uma resposta está extinta?´ é apresentada por Keller e Schoenfeld (1968) como um dos tópicos abordados sobre extinção, e é assim que eles respondem a pergunta feita:

Um operante deve existir com alguma força antes de poder ser condicionado; deve ser emitido pelo menos de vez em quando para poder ser reforçado. Essa freqüência não condicionada de emissão é chamada de nível operante daquela resposta, e aparece como parte da atividade geral do organismo. ... A partir da noção de nível operante segue-se que uma resposta extinta não alcançará uma freqüência zero, mas voltará àquela que existia antes do condicionamento. (p.91)

Entretanto, como os próprios autores (e outros, como, por exemplo, Millenson (1970) reconhecem, é difícil, em experimentos e estudos realizados, prosseguir com a extinção até atingir uma volta ao nível operante, assim, recorre-se ao estabelecimento de um critério arbitrário, como por exemplo, X minutos sem a emissão da resposta submetida ao procedimento de extinção.

Após estes comentários, podemos voltar à comparação das definições de extinção dadas pelos autores citados. Como vimos, as três definições destacam como efeito da ruptura resposta-reforço o enfraquecimento das respostas que deixaram de ser reforçadas (e, agora, conhecemos uma das possíveis razões deste destaque). Entretanto, na “definição completa” de Millenson (1970), podemos identificar outros efeitos da extinção, além do enfraquecimento da resposta.

Se continuarmos lendo o texto de Skinner (1953), a partir da definição que cita-mos, encontraremos aí também a indicação de alguns desses outros efeitos da extinção, além do enfraquecimento da resposta. Recorreremos, então, a trechos do texto de Skinner para falar desses efeitos.

Sob algumas circunstâncias a curva é perturbada por um efeito emocional. O não reforça-mento de uma resposta leva não apenas à extinção operante, mas também a uma reação comumente chamada de frustração ou raiva. Um pombo que não recebeu reforço afasta-se da chave, arrulha, bate suas asas... O organismo humano mostra um duplo efeito similar. A criança cujo velocípede não mais responde ao pedalar, não apenas pára de pedalar, mas também exibe comportamento possivelmente violento.... Assim como a criança finalmente volta para o velocípede... também o pombo voltará novamente para a chave quando as


respostas emocionais desaparecerem. Na medida em que outras respostas [de bicar a chave, de pedalar] ocorrerem sem reforço, outros episódios emocionais podem acontecer. Sob tais circunstâncias, as curvas de extinção mostram uma oscilação cíclica à medida que as respostas emocionais surgem, desaparecem e surgem novamente. (Skinner, 1953, pp. 69, 70)

Como podemos notar, muitas alterações no responder ocorrem quando a relação resposta-reforço é rompida e a extensão e características dessas alterações levam muitos autores a falar em “efeitos emocionais” da extinção. Keller e Schoenfeld (1968), por exemplo, ressaltam estas mesmas alterações indicadas por Skinner, ao descrever uma curva de extinção. Reproduzimos, a seguir, a curva apresentada pelos autores e sua descrição.

CONTINUA AMANHÃ!


Sugestão de Silviane Krokosz Acadêmica de psicologia da UFGD