O EU INICIADOR
B. F. Skinner
Há lugar numa análise científica do comportamento para um eu iniciador, originador,criador?  Tendo  prescindido  de  Deus  como  criador,  a  ciência  deve  prescindir  também  da imagem  de  Deus  chamada  Homem?  Sentimos  necessidade  de  um  deus  criador,  porque vemos o mundo, mas vemos muito pouco dos processos que geraram sua existência; vemos o  produto,  mas  não  a  sua  produção.  Talvez,  por  vermos  o  comportamento  humano,  mas vermos  muito  pouco  do  processo  através  do  qual  ele  se  desenvolve,  é  que  sentamos necessidade de um eu criador. Quanto ao comportamento, todavia, nós dispomos de outra evidência:  podemos  ver ou observar introspectivamente nossos próprios  corpos  enquanto nos  comportamos e é possível que o que vemos seja  o processo de  criação.  Chame-o de mente ou de vontade. Somente retrospectivamente é que atribuímos a criação do mundo a uma Mente ou Vontade – a um deus feito à imagem do Homem?
Não  importa,  porque  a  ciência  modificou  tudo  isso.  Os  astrônomos  talvez  não tenham explicações para o big bang, mas estão oferecendo uma explicação cada vez mais plausível sobre a formação dos elementos químicos e sobre sua distribuição no espaço. A Química  sugere  explicações  sobre  os  processos  pelos  quais  seres  vivos  poderiam  ter emergido de coisas não-vivas, e os biólogos explicam a origem das espécies, incluindo o homo sapiens, através da seleção natural. Resta pouco para um criador fazer.
O comportamento também passou a ser parte do objetivo de uma análise científica. É o produto de três tipos de seleção, o primeiro dos quais, a seleção natural, é do campo da etologia.   O   segundo,   o   condicionamento   operante,   é   do   campo   da   análise   do comportamento.  O  terceira,  a  evolução  das  contingências  de reforçamento  sociais,  que chamamos de culturas, explica os amplos repertórios de comportamento característicos da espécie humana.
Os  termos  que  usamos  para  designar  um  indivíduo  que  se  comporta  dependem  do tipo  de  seleção.  A  seleção  natural  nos  dá  o  organismo;  o  condicionamento  operante,  a pessoa; e, como discutiremos, a evolução de culturas nos dá o eu. Um organismo é mais do que  um  corpo;  é  um  corpo  que  faz  coisas.  Ambas  as  palavras,  órgão  e  organismo,  são etimologicamente ligadas a trabalho. O organismo é o executor. Pessoa deriva da palavra usada para designar as máscaras com as quais os atores recitavam seus papéis nos teatros grego e romano. A máscara identificava o papel que o ator desempenhava; ela o marcava como  do organismo que se desenvolveu através da seleção natural, elas constroem os repertórios comportamentais   chamados   pessoas.   Diferentes   contingências   constroem   diferentes pessoas, possivelmente dentro da mesma pele,
do organismo que se desenvolveu através da seleção natural, elas constroem os repertórios comportamentais   chamados   pessoas.   Diferentes   contingências   constroem   diferentes pessoas, possivelmente dentro da mesma pele, como 
 do organismo que se desenvolveu através da seleção natural, elas constroem os repertórios comportamentais   chamados   pessoas.   Diferentes   contingências   constroem   diferentes pessoas, possivelmente dentro da mesma pele,
do organismo que se desenvolveu através da seleção natural, elas constroem os repertórios comportamentais   chamados   pessoas.   Diferentes   contingências   constroem   diferentes pessoas, possivelmente dentro da mesma pele, Num   longo   capítulo   chamado   “Autocontrole”   (Self-control),   em   Ciência   e Comportamento  Humano (1953),  utilizei  a palavra  eu  (self)  da  mesma  maneira  que  hoje usaria a palavra pessoa. Revi técnicas através das quais uma pessoa manipulava variáveis ambientais das quais seu comportamento era função e distingui entre o eu controlador e o eu controlado, definindo-os como como 
Vários problemas  de utilização devem ser mencionados.  Precisamos usar a palavra eu (self) como 
no mundo. O eu que eu vejo num espelho ou num vídeo é a pessoa que os outros vêem. “Eu  mesmo  (myself)  o  fiz”  não  é  muito  diferente  de  fui  eu  quem  o  fez.  O  Third  New International Dictionary (Webster, 1981) contém cerca de 500 entradas iniciadas com self e em algumas delas a palavra é meramente reflexiva.
Não  é  esse,  entretanto,  o  eu  que  está  sendo  considerado  aqui.  Somente  sob  tipos especiais de contingências verbais é que respondemos a certos aspectos do nosso corpo. Ao fazer o retrospecto de uma ocasião inusitada, posso dizer: “Eu era uma pessoa diferente”, mas outros poderiam dizer a mesma coisa. “Eu não era eu mesmo”, porém, sugere que eu me sentia como 
É o eu que conhecemos quando seguimos o conselho do oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo”, e é o eu que modificamos quando, em resposta à ordem “Comporte-se”, fazemos mais do que nos comportarmos de maneira diferente.
Existe um outro problema de uso. A língua inglesa desenvolveu-se numa época em que,  de  um  modo  geral,  acreditava-se  que  o  comportamento  se  originava  dentro  do indivíduo. As pessoas sentem (através dos órgãos dos sentidos) o ambiente e atuam sobre ele. Numa análise comportamental, o ambiente atua primeiro, de uma entre duas maneiras possíveis.  Como  conseqüência,  reforça  o  comportamento  e,  assim,  dá  origem  a  um operante. Como 
 Poucas palavras em inglês, certamente nem pessoa nem eu, se encaixam em tal versão comportamental. Somos mais prontamente compreendidos quando perguntamos porque as pessoas observam certas condições de seus corpos, do que quando perguntamos porque as condições evocam auto- observação.  A  versão  tradicional  dificilmente  pode  ser  evitada  no  uso  prático  ou  em paráfrase  de  expressões  técnicas,  muito  embora,  dessa  maneira,  o  eu  permaneça  como iniciador, que é o que estamos questionando.
Nos tópicos que se seguem, veremos uma interpretação diferente de vários exemplos comuns.
