Carina Paula Costelini
É comum ouvir frases como “elogiar demais estraga a criança” ou “o elogio deixa a criança folgada”. Também é comum encontrar pessoas utilizando broncas e repreensões como “fontes de estímulo e motivação”. Provavelmente, essas pessoas não estão atentas aos reais efeitos trazidos pela utilização de tais estratégias.
Ao contrário destas concepções trazidas pelo senso comum, pesquisas pautadas nos pressupostos da Análise do Comportamento vêm mostrando que, ao estabelecer interações positivas com as crianças, os pais estão contribuindo com o desenvolvimento de um amplo repertório comportamental em seus filhos.
Entende-se por interações positivas a demonstração de afeto e o envolvimento geral em um relacionamento, como a relação entre pais e filhos (Salvador e Weber, 2005). Tais interações estão relacionadas não só aos sentimentos dos pais pelos seus filhos, mas principalmente à expressão desses sentimentos através de palavras e atitudes. Como afirma Sidman
(2001, p.48), “o mundo não reage a nossos pensamentos e sentimentos, mas àquilo que vê e ouve fazendo”.
Assim, as interações positivas podem ocorrer através de: elogios, contato físico (beijo, abraço, etc.), relatos verbais sobre sentimentos (amor, carinho, orgulho, etc.), passeios, diálogos, recompensas, incentivos, entre outros.
O que determina toda e qualquer interação positiva é a utilização do reforçamento positivo. Essa é a principal estratégia não coercitiva de controle de comportamento (Sidman, 2001). Skinner (1991) ressalta que, ao demonstrar sentimentos positivos na presença de determinada pessoa, o comportamento dessa pessoa está sendo reforçado.
O efeito do reforço positivo é o aumento da probabilidade da ocorrência daquele comportamento (Skinner, 1993). É importante atentar para a terminologia reforço , que muitas vezes é, erroneamente, utilizada como sendo um objeto ou uma coisa. O reforço não é qualificado como tal por alguma característica ou propriedade física particular. Ele é assim definido pela função que exerce sobre o comportamento (Skinner, 1993).
Estudos mostram que as interações positivas funcionam como estímulos reforçadores, já que aumentam a ocorrência de determinados comportamentos. Como exemplo, pode-se citar a pesquisa desenvolvida por Salvador e Weber (2005). A pesquisa avaliou adolescentes com padrões de comportamento antagônicos em relação aos estudos (notas, comprometimento, dedicação, etc.). Observou-se que os pais que utilizam mais interações positivas, tais como incentivo, envolvimento, demonstração de afeto incondicionalmente e elogios, conseguiram desenvolver um padrão mais adequado no filho em relação aos estudos, tanto quanto às notas quanto ao comprometimento. O controle exercido por esses pais incluía reforçamento positivo na maior parte do tempo e eles conseguiam manter uma comunicação positiva, regras bem definidas e conseqüências coerentes (Salvador e Weber,2005).
Além de ser uma ótima técnica de controle e modelagem de comportamento, o reforço positivo traz inúmeros efeitos favoráveis no desenvolvimento das crianças (Salvador e Weber, 2005). Para Sidman (2001), o reforço positivo produz sentimentos de satisfação e os pais que o utilizam com frequência desenvolvem filhos mais felizes e competentes.
O reforço positivo pode ser utilizado pelos pais como forma de incentivar e fortalecer comportamentos desejáveis e m suas crianças, como também para desestimular e substituir os comportamentos indesejáveis (Severe, 2000; Sidman, 2001).
Tais interações não devem ser promovidas apenas concomitantes a um comportamento adequado da criança. É fundamental que essas interações sejam estabelecidas sem que haja, necessariamente, um motivo para isso (Pitelli e Costelini, 2009). Dessa forma, é possível desenvolver na criança um maior repertório de segurança, já que ela aprende que não precisa fazer algo especial para obter o amor e proteção de seus pais. Crianças que vivenciam esse tipo de experiência conseguem discriminar que o amor de seus pais ainda estará disponível mesmo que não consigam enfrentar determinada situação com êxito (Sidman, 2001).
Apesar de ter sido ressaltado que essas práticas não o devem ocorrer apenas concomitantemente a comportamentos adequados, elas podem – e devem – ser utilizadas relacionadas aos comportamentos que os pais desejam instalar e fortalecer em seus filhos (Pitelli e Costelini, 2009).
Por exemplo: pais que desejam desenvolver um repertório de comportamentos adequados relacionado às atividades acadêmicas dos filhos, devem arranjar o ambiente de forma que seja possível estabelecer interações positivas nesses momentos. Skinner (1972) diz que é falsa a afirmativa que a aprendizagem só ocorre quando se comete erros. Assim, através de práticas positivas, os pais estarão estabelecendo condições que propiciam comportamentos relevantes para a educação de seus filhos. Para isso, os pais devem incentivar, elogiar, encorajar e fornecer suporte aos filhos durante a execução da tarefa de casa, colaborando para o aumento do interesse e satisfação das crianças pelos estudos. Os elogios imediatos e contextuais relacionados às respostas da criança aumentam a probabilidade do comportamento de estudar (Hübner, 2002). Essas estratégias são importantes para fortalecer comportamentos relacionados aos estudos, até que estes entrem em contato com as contingências naturais de reforçamento (Skinner, 1972).
Pais que conseguem estabelecer frequentes interações positivas com seus filhos, certamente estão contribuindo com um desenvolvimento psicológico saudável, além de favorecer comportamentos pró-sociais, habilidades escolares, auto-estima elevada e responsabilidade (Sidman, 2001).
Severe (2000) complementa que o reforço positivo contribui para o desenvolvimento de outros importantes repertórios comportamentais, tais como: enfrentamento, autoconfiança e motivação.
REFERÊNCIAS
HÜBNER, M. M. A importância da participação dos pai s no desempenho escolar dos filhos: ajudando sem atrapalhar. Em: BRANDÃO, M. Z. S.; CONTE, F. C. S.; e MEZZAROBA, S. M. B. (orgs.). Comportamento humano: tudo (ou quase tudo) que você gostaria de saber para viver melhor. Santo André: ESETec Editores Associados, 2002.
PITELLI, B. T.; COSTELINI, C. P. A correlação entre o relato verbal de pais de crianças de 5ª e 6ª séries de um colégio particular da cidade de Londrina quanto às atividades acadêmicas dos filhos e a média escolar dos mesmos. Monografia (Especialização em Análise do Comportame nto Aplicada), Centro Universitário Filadélfia, 2009.
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SALVADOR, A. P. V.; WEBER, L. N. D. Práticas educativas parentais: um estudo comparativo da interação familiar de dois ad olescentes distintos.
Interação em Psicologia, 9(2), p. 341-353, 2005.
SEVERE, S. A educação pelo bom exemplo . Rio de Janeiro: Campus, 2000.
SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas: Editora Livro Pleno, 2001.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (Texto original publicado em 1953).
_________, B. F. Questões Recentes na Análise do Comportamento.
Campinas: Papirus, 1991.
_________, B. F. Tecnologia do Ensino. Trad: Rodolpho Azzi. São Paulo: Herder, 1972.
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